Entre escolas, estilos e tradições: conheça um pouco da história da fotografia paraense

Por Felipe Vilhena*

A fotografia pode ser descrita como o ato de reproduzir a realidade sob uma superfície fotossensível. Seguindo esta definição, Joseph Nicéphore Niépce, em 1826, tirou o que muitos consideram a primeira foto da história. Muita coisa mudou no meio fotográfico desde então, do aparelho utilizado pelo fotógrafo até mesmo o suporte em que a realidade é enquadrada. Criaram-se escolas, estilos e tradições fotográficas por todo mundo, até mesmo no estado do Pará. No Dia Mundial da Fotografia, dia 19 de agosto, conheça um pouco da história da fotografia paraense.

O dia 19 de agosto é considerado o Dia Mundial da Fotografia em homenagem à invenção de Louis Jacques Mandé Daguerre, inventor do Daguerreótipo. Este invento é responsável pelo primeiro processo fotográfico a ser apresentado e comercializado para um grande público. Após a morte de Nicéphore Niépce, Daguerre deu continuidade aos seus estudos na tentativa de reduzir o tempo de exposição necessária para que a imagem se fixasse na superfície fotossensível. Para se ter ideia, Niépce precisava deixar uma chapa de estanho por oito horas em contato com a luz para conseguir uma foto. Processo esse, que seu sucessor conseguiu atingia em 30 minutos com o Daguerreótipo, o que definitivamente popularizou a fotografia. 

 

Foto: Reprodução Google – Daguerreótipo

 

Diferentemente do que se imagina, a fotografia no Pará começa muito pouco tempo após a foto de Niépce, duas décadas depois com alguns registros da cidade de Belém segundo Analaura Corradi e Helder Ribeiro em seu artigo “A fotografia paraense: abordagens histórica, estética e documental”. Porém, apenas em 1846, com a chegada de Charles Fredricks à capital paraense, que foi fundado o primeiro estúdio fotográfico da região. O próximo nome importante da fotografia paraense foi Felipe Augusto Fidanza, português que veio para Belém no ano de 1867 e fundou o Photo Fidanza, referência na área da fotografia no Pará por quase 100 anos. Tamanha sua importância que possui uma galeria no Museu de Arte Sacra do Estado com seu nome. Mesmo com o difícil acesso à Região Norte como um todo, sempre existiram fotógrafos e pesquisadores interessados pelo Pará.

 

Foto: Praça da Independência, 1875 – por Felipe Augusto Fidanza, retirado do Acervo Itaú Cultural

 

Depois de seu nascimento, a fotografia do Pará teve outro momento de destaque na década de 80 com a fotografia contemporânea paraense. Mesmo existindo nomes importantes ao longo do século vinte e que tiveram contribuições para a prática, não houve o surgimento de uma linha de pensamento que mudasse o entendimento que nossos fotógrafos teriam sobre o ato de fotografar ou suas práticas. Ainda com base no artigo de Analaura Corradi e Helder Ribeiro, o Brasil passava por um período de reconstrução da imagem nacional e, nesse contexto, estava o crescimento da foto como arte e documento histórico importante. A junção destes dois elementos resultou na criação do Instituto da Fotografia, da Fundação Nacional da Arte (Funarte), que veio para conectar os fotógrafos de todo país para que os conhecimentos pudessem circular entre os profissionais da área.

“Então, de repente, você cria uma política nacional de fotografia e dentro dela a política de preservação da fotografia. Foi algo absolutamente pioneiro e não vejo isso ressaltado em canto algum. O próprio fato de você levar a fotografia ao mesmo patamar da música, das artes visuais era uma coisa vista com certa estranheza para certas pessoas”, afirmou Solange Zuniga, uma das mentoras do Centro de Conservação e Preservação Fotográfica da Funarte, durante entrevista no “INfoto – História da fotografia brasileira” que faz parte do projeto de vídeos dedicados ao acervo digital da Funarte chamado Brasil Memória das Artes.

Todo contexto nacional de incentivo à fotografia ajudou com que a produção paraense ganhasse destaque e fosse conhecida pelo resto do território nacional. Grupos como Fotopará, Fotoficina, Associações de Repórteres Fotográficos e FotoAtiva, participaram dessas mudanças no cenário fotográfico. Chega o momento em que Belém recebe na IV Semana Nacional de Fotografia, no ano de 1985, Luiz Braga, considerado um dos principais nomes da fotografia contemporânea. Outro grande nome no Pará era Miguel Chikaoka, inclusive, os dois criaram a FotoAtiva citada anteriormente. Enquanto Luiz é bastante conhecido pela valorização das cores, gerando imagens lindíssimas através do uso inteligente de luzes em cenários reais, Chikaoka já é conhecido pela sua forma de pensar o ato de fotografar: ele usa seu período na França e une com o pensamento de perceber o todo na foto, ao invés de focar apenas no objetivo a ser registrado. Ambos se tornaram os fotógrafos em evidência no Pará junto da geração dos anos 90, como Elza Lima, Patrick Pardini, Flavya Mutran, Mariano Klautau Filho, Claudia Leão, Octavio Cardoso, Orlando Maneschy e Paula Sampaio. 

 

Foto: Porto Grande Noturna, 2007 – por Luiz Braga, retirado do Acervo Itaú Cultural

 

De certa forma, o cenário fotográfico, seja artístico ou jornalístico, no Pará se encontra bem representado para as pessoas de fora, seja no sentido nacional ou internacional. Porém, é perceptível a falta de atenção que se dá a produção feita nos dias de hoje, 2023, com artigos, sites e exposição quase inteiramente compostas por profissionais competentes, mas que já possuem destaque há pelo menos 30 anos. Não que seja errado chamar profissionais veteranos no meio, até pela sua importância, mas a nova geração também necessita de mais espaço. Exposições como “Um País Chamado Pará” ou “Amazônia Presente”, duas exposições recentes com foco na região amazônica ou Pará, apresentam uma prevalência desses nomes mais antigos no meio. Não é questão de menosprezar o trabalho desses fotógrafos, mas de tentar valorizar os mais novos, de dar espaços com relevância para eles se expressarem e demonstrar o que a nova geração está produzindo. Obviamente não é um quadro generalizado, existem artistas mais novos que têm nomes já consolidados, mas tenho certeza que ainda existem muitos que só esperam pela chance de colocar suas produções em grandes exposições.

 

Sobre o autor – Felipe Vilhena é aluno no curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, da Universidade Federal do Pará. Atualmente, é estagiário no Portal Jambu.

O Portal Jambu é um espaço de jornalismo experimental com matérias produzidas por estudantes de graduação da Faculdade de Comunicação da UFPA sob a coordenação da Profa. Dra. Regina Lima e do jornalista Marcos Melo.

*Sob supervisão da jornalista Giullia Moreira.

Tags

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Veja também