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De Kelvyn Gomes | Foto: Agência Pará

“És mãe, és pai e também a avó, tens o poder de criar e a cria vinga paz é a força da inspiração, plantinhas que vão germinar e crescer na era da invenção” (MIGUEL, David. 1992).

Localizado às margens da Baía do Guajará, na orla de Belém, o primeiro matadouro da cidade, responsável pelo abastecimento da capital com carne fresca, hoje respira a vida através das artes. Assim se fez a história da Fundação Curro Velho que, desde o início, vem servindo a sociedade, seja para saciar sua fome de comida de boa qualidade; ou sua fome pela cultura e pela arte.

Fundado em 1861, pelo então presidente da província, Luís Carlos Brusque, sua finalidade era abastecer a cidade com carne verde, carne fresca, abatida no local e vinda de regiões como o Arquipélago do Marajó. Seu estilo arquitetônico foi fortemente influenciado pelo neoclássico, como outros prédios históricos do mesmo período, como o Teatro da Paz e o Mercado de São Brás. O Curro Público funcionou por 40 anos como abatedouro, tendo suas atividades suspensas definitivamente em 1912, 7 anos após a inauguração de um novo estabelecimento, pelo intendente municipal, Antônio José de Lemos.

Com o crescimento vertiginoso da capital do Pará e a ocupação de áreas cada vez mais distantes do centro da cidade, como os bairros do Umarizal, Telégrafo e Pedreira, Lemos viu a necessidade de se eliminar aquele espaço para evitar problemas de ordem sanitária e de saúde pública, já que suas atividades atraiam animais como ratos e urubus. A solução encontrada pelo intendente foi a transferência de seus serviços para um local mais distante do centro da cidade, sendo fundado um novo curro público, agora na Vila do Pinheiro, hoje Icoaraci.

Até a criação de um curro em Belém, a carne que abastecia os mercados era de procedência considerada duvidosa, bem como as dificuldades de armazenamento desse produto incomodavam as autoridades locais com a constante preocupação com a saúde das pessoas. Uma cidade doente, era considerada uma cidade problemática e por isso incivilizada, atrasada. Daí a importância de um espaço a uma distância segura do centro e que pudesse fornecer um alimento de qualidade e origem seguras. Após seu fechamento, viveu com a incerteza e o abandono, servindo de depósito para material químico como o gás.

Foi a Secretária de Educação, Therezinha Gueiros, e o então Governador do Estado, Hélio Gueiros, com projeto da professora e superintendente da fundação, Dina Maria César de Oliveira, que o espaço, já tombado pelo Departamento do Patrimônio Histórico Artístico e Cultural do Estado do Pará, foi resgatado na década de 1990. “Em mensagem à Assembleia Legislativa do Pará, o Governador informa que no ano de 1990, concluiu-se a criação e a implantação da Fundação Curro Velho, a partir da assinatura da Lei 5.628 de 19 de dezembro de 1990”. A mesma mensagem informava que a criação de tal espaço pretendia promover o desenvolvimento de atividades inovadoras de caráter artístico e cultural. Por conta disso, à época, o prédio foi totalmente restaurado.

Hoje, imponente às margens da baía, o Curro Velho atende crianças, jovens e adultos nos núcleos de oficinas e nos autos juninos e de natal que ocorrem ao longo do ano na instituição. Seus frequentadores são conhecidos como “crias”. As crias do Curro Velho.

*Este texto foi originalmente produzido para compor o roteiro “O Museu é Aqui!” como parte do projeto “Memória e Cultura Periférica: Museu Memorial Vila da Barca”.

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