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Por Kelvyn Gomes | Foto: “O Cabano Paraense”, de Alfredo Norfine/Acervo do MABE

“Belém, Pará, Brasil”, música do grupo paraense Mosaico de Ravena, eternizou no imaginário das pessoas que o “nortista só queria fazer parte da nação”. Mas a Adesão do Pará a Independência do Brasil, comemorado erroneamente no dia 15 de agosto, aponta essa história para outro rumo. Mas e então, fazer ou não fazer parte da nação? Eis a questão.

A ocupação do Norte do que hoje conhecemos como Brasil, uma grande nação na América do Sul, invadida e explorada pelos portugueses durante o processo de colonização iniciado no século XVI, foi tardia. Distante dos centros administrativos e de poder da colônia, a região começou a ser assaltada por outras nações europeias. O medo de perder as possessões do lado de cá do mapa, levou a coroa a iniciar uma expedição que deveria alcançar a terra das Amazonas e enfim colonizá-las de fato.

Mairi, terra indígena, Santa Maria de Belém do Grão-Pará para o colonizador português, contemporaneamente Belém, capital do estado do Pará, foi fundada, em 12 de janeiro de 1616. A invasão portuguesa sobre o território indígena sofreu resistências. Liderados pelo guerreiro Tupinambá Guaimiaba, o Cabelo de Velho, entre muitas lutas por algum tempo resistiram. Mas a superioridade bélica do conquistador acabou o favorecendo, e gestando a urbe da Amazônia.

Nesse processo, os povos tradicionais que aqui habitavam e aqueles sequestrados de além-mar e trazidos para cá foram silenciados e precisaram buscar alternativas variadas de viver e registrar suas próprias histórias. Sua interação com o homem branco por vezes foi animalizada, condição primária para a dominação. O povo não era cidadão e pouca coisa, ou quase nada mudou quando passamos de colônia à Império.

A frente da nação, um legítimo português, herdeiro do trono metropolitano, com sangue azul correndo nas veias. Seu poder era centralizado, a figura do imperador, em tese, era símbolo de autoridade. Mas distante do Rio de Janeiro, centro do novo império, a realidade era de forças em constante tensão. Quando Dom Pedro decidiu, para o bem da nação, que ficaria, instaurou-se o caos. As disputas políticas em todo território se acirraram e o país se dividiu entre aqueles que decidiram aderir ao novo regime, os que preferiam permanecer ligados à Portugal e, por fim, os que vislumbraram uma oportunidade de “independência”.

Mas ser independente ainda não valia ao povo. Aderidos ao novo império, ligados à pátria mãe, ou “independentes”, o povo seguia sendo o povo, submetido hierarquicamente na estrutura social aos desmandos de uma elite provinciana disposta a tudo para se manter no topo da pirâmide. Para garantir segurança, principalmente aqueles que circulavam nos ambientes de poder, era preciso mostrar que a união fazia a força.

As independências do Brasil precisavam ser sufocadas e todos deveriam aderir a independência, aquela proclamada pelo príncipe herdeiro em favor da pressão sofrida pela elite local. A última província da nova nação, o Norte livre, sob forte e irreal ameaça, orquestrada pelo jovem Grenfell sucumbiu em uma tragédia. 252 corpos no porão de um navio fundeado na área de arsenal de marinha.

Não! Ainda que tardia, assinada apenas no dia 16 de agosto de 1823, forçada e excludente, a adesão do Pará mostra um outro lado da história. Uma história do Norte, sobre o Norte. Uma história de luta e resistência que mostra que alguns nortistas nem queriam fazer parte da nação.

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