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Por Kelvyn Gomes | Fotos: Reprodução Instagram/Manga Poética

A produtora de conteúdo, Tiane Melo, viralizou nas redes sociais em 2020, durante a pandemia, ao traduzir com humor e irreverência o dia a dia de uma paraense “moleca doida” no perfil “Manga Poética”. Hoje, com mais de 160 mil seguidores no Instagram, a influencer deu um rosto ao ícone da manga e o público se identifica e se diverte cada vez mais com suas publicações.

Encontramos Tiane, ou a Manga, como ela foi batizada pelo público, em um sábado pela manhã no espaço colaborativo VEM, no bairro do Reduto. Único dia em que a influenciadora digital tinha disponível na agenda, já que, além das mídias sociais, também exerce a docência: ela é professora na rede municipal de ensino de Ananindeua, região metropolitana de Belém. Formada em pedagogia, e mais recentemente em História pela Universidade Federal do Pará, ela conta que sua carreira docente começou logo após sua primeira formação quando foi aprovada em um concurso público. E que a pedagogia e a história ajudam muito na hora de produzir o conteúdo do “Manga Poética”, seu perfil profissional no Instagram.

“A forma como eu me comunico, o meu interesse de falar de história, de cultura paraense vem muito do curso de história, que eu tive influência de professores como Michel Pinho. E a pedagogia muito nessas minhas estratégias, das metodologias que eu uso, como eu me comunico, a forma que eu encontro de entender o que as pessoas querem, de ter esse feeling, vem muito da pedagogia, sabe? Da gente entender: o que eu posso levar de interessante? Como é que eu vou fazer pra que as pessoas entendam o que eu quero falar”, explica Tiane.

O começo na Internet foi durante a pandemia de Covid-19, ainda em 2020. Tiane já tinha gosto pela escrita e produzia poesias que, com a alta demanda por conteúdo em tempos de isolamento social, foram parar no “Manga Poética”. Um conteúdo divertido, cheio de referências à cultura e aos modos de falar do paraense, principalmente da periferia de Belém, de onde a influenciadora vem. O próprio user adotado é uma homenagem a uma das principais características da capital, carinhosamente conhecida como cidade das mangueiras.

Com o sucesso do perfil, Manga, ou Tiane Melo como a professora Franci assina (Sim, Tiane também é um heterônimo de Franciane, a multifacetada influenciadora digital), resolveu dar rosto ao perfil. É quando, segundo ela, nasce a influenciadora de fato. Tiane explica que resolveu botar a cara no mundo, ainda que em um perfil profissional, por reconhecer que aquele era um espaço importante e de responsabilidade. “Hoje eu carrego isso com responsabilidade porque a gente tem que ter responsabilidade com a forma que a gente comunica na internet, o que a gente leva pras pessoas, as nossas verdades”.

Reconhecida pelo conteúdo sobre cultura local, o perfil administrado por ela reflete seu dia a dia. Ainda que haja uma estratégia para a publicação daquilo que é postado nos perfis a partir de temáticas e contextos, a produção do Manga Poética reflete as experiências da idealizadora da página. Tiane é assumidamente viciada em redes sociais, onde ela não apenas tem entretenimento, como pesca referências de conteúdos que podem ser aproveitados no formato que ela produz.

“A gente tem inspirações, né? Eu acho que nada se cria do zero, eu sigo muitas pessoas que falam sobre cultura de outros locais, aí eu consigo ver, eu já tenho esse feeling de perceber o que as pessoas querem ver naquele momento. O que eu vou postar, por exemplo, no sábado e domingo? Eu vou postar o rock doido, a cerveja gelada, o que as pessoas vivem na cidade. Durante a semana, o que eu vou postar? É o cansaço, é o transporte público lotado. Então tem já esse termômetro do que as pessoas querem compartilhar naquele momento”, explica a influencer.

Ela se orgulha de ter uma produção orgânica nos seus conteúdos, já que vive a cidade. Rueira, está sempre disposta a dar um rolê por Belém, então nem te espanta se tu encontrares com ela pelo Carabao, aparelhagem de quem se declara ser fã. Essa vivência reflete diretamente naquilo que seus mais de 160 mil seguidores do instagram acompanham no perfil. Isso mesmo, ela arrasta multidões. Fenômeno da internet, ela seria capaz de lotar três mangueirões em dia de ReXPa. Mas como lidar com tudo isso?

“As pessoas me reconhecem, elas vão em um lugar e me encontram e elas dizem: não, o que tu posta é aquilo que tu vive mesmo, né? Então eu recebo como uma coisa muito natural. Mas eu tenho também muito cuidado com essa coisa de não me empolgar, de não me deslumbrar com essas coisas, porque são muitos seguidores, mas eu tento sempre pensar que: é um nicho específico. Então eu não tenho essa prepotência de achar que eu sou, que todo mundo me conhece, mas eu tento levar essa coisa de uma forma muito natural”, explicou ao Portal Jambu.

Os fãs não estão só espalhados pela cidade, ela mora com dois deles. Seu Francisco e Dona Ana, os pais de Tiane, são encegueirados por ela e acompanham a filha pelas mídias sociais. Ainda que haja uma questão geracional relacionada a forma de lidar com as redes digitais, a filha conta que os dois entendem a potência do seu trabalho como influenciadora e a apoiam nessa empreitada.

Conversar com Tiane no Espaço VEM não foi uma escolha aleatória. Atendendo a uma demanda do público, logo após a criação do perfil ela começou a receber pedidos como: eu quero tatuar essa frase, eu quero essa frase em uma caneca, eu quero uma ecobag. Poucos meses depois das primeiras publicações ela investiu em uma marca própria e hoje vende os produtos no espaço. São acessórios de moda e decoração com as frases mais célebres do perfil: “Lute como uma moleca doida”, “Alma de rio, sangue cabano”, “Valoriza teu charque”, “O charque tem poder” que caíram no gosto da galera.

Nos últimos anos um movimento muito forte de valorização e reconhecimento do regionalismo e da cultura paraense tem tomado conta, principalmente das mídias sociais. Novos perfis foram criados e o número de influenciadores em diversos nichos apareceram e se destacaram. A criadora do perfil Manga Poética acredita que esse movimento é muito interessante, mas alerta que, “a gente tem que ter alguns cuidados como o de entender que quem tem que falar do que é nosso é a gente. A gente tem que comunicar, porque nós vivemos aqui, nós somos da Amazônia, nós somos do Pará. Então a gente tem a credibilidade pra comunicar o que é real sobre nós”.

Vivendo o agora, aproveitando as oportunidades e trabalhando muito, Tiane Melo alcança um público diverso em gênero e classe, comunicando a cultura paraense de um jeito que só ela sabe fazer. Além de acompanhar outros influenciadores, sua vida como uma moleca doida, que não vive só de rock, mas de muito trabalho, inspiram suas criações. Afinal de contas: quem melhor que um paraense para falar do Pará?

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