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Por Kelvyn Gomes/ Imagem: Acervo Pessoal

Quero começar me apresentando: sou Suane Barreirinhas, mulher negra, sapatão caminhoneira, da ilharga da Baía do Guajará. Sou apaixonada por cultura e política. Não à toa, sou do audiovisual e das ciências políticas. Já trabalhei com comunicação eleitoral, na prefeitura, fiz campanha para vereadora, prefeita, dep. federal… Mas de 2022 pra cá, tomei outra decisão: não fazer uma campanha específica, mas falar de eleição como projeto coletivo.

Escolhi apontar quem são as mulheres negras, indígenas, LGBTs que estavam na disputa. Fiz isso em 2022 e nas eleições de 2024. Incluí até a eleição de 2023, para o Conselho Tutelar, onde fiz uma ativação potente nas minhas redes para incentivar a população a votar, porque isso também é disputa de poder e de futuro.

Na minha família, política e cultura sempre foram territórios silenciados. Cultura não era acessada, mesmo quando havia condições. Um tipo estranho de negacionismo pairava no ar. Já a política… nem sei por onde começar. O discurso era sempre o mesmo: “política é tudo igual, não se discute”. Mas em 2018, veio o divisor de águas. E eu, que nunca tive dúvida de que lado estava, precisei dizer isso mais alto.

Apesar desse contexto, sempre amei demais cultura e política. Construí um caminho nem sempre fácil, pra que hoje, aos 37 anos, eu possa viver, me sustentar, respirar e pensar a partir delas.

Desde que me entendo por gente, sou sapatão. Mas precisei negar isso até pra mim mesma, por um tempo. Foi na arte que me reencontrei. Na fotografia, no vídeo, na construção de narrativas que me acolheram. Já fiz filmes, coordenei projetos de cinema em comunidades tradicionais da Amazônia, dei aula de audiovisual para crianças e adolescentes, já fui figurante em filmes de outras pessoas e nos meus também.

A política sempre me tomou. Sempre gostei, sempre me vi nela. Nesse tempo aqui neste plano, vivi dois impeachment: o do Collor, em 1992, e o doloroso golpe de 2016 contra a valente presidenta Dilma Rousseff. Vi a moeda do Brasil mudar. E vi o país mudar de rosto nem sempre pra melhor.

Minha primeira eleição foi em 2004, uma eleição municipal. Pela primeira vez, vi uma mulher como candidata. Votei nela. Depois, ela se tornaria governadora do Pará. Mas também vi essa mulher ter sua trajetória questionada apenas por ser mulher. Hoje, isso tem nome: violência política de gênero.

Também vivi três plebiscitos — essas eleições que não são sobre pessoas, mas sobre projetos de país. Dois nacionais e um estadual. Votei em dois: o do desarmamento, aos 18 anos, e o da possível divisão do Pará, aos 25.

Muita coisa pra uma jovem de 37 anos que ousou demais em querer juntar cultura e política. Mas sigo ousando.

E daqui pra frente, a gente ainda vai se encontrar muito em torno desses temas. Porque, pra mim, cultura e política não são dois mundos separados. São apenas um: o meu direito de existir.

Agora, com alegria, também como colunista do Portal Jambu.

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