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Por Kelvyn Gomes | Fotos: Yasmin Fonseca

Do bairro do Guamá em Belém, a jovem de 26 anos utiliza diferentes ferramentas e materiais para dar vida aos personagens de suas obras. Inspirada pelos corpos de mulheres negras e periféricos, Yasmin produz telas que misturam traços realistas e abstratos em formato físico e digital.

Vinda do interior, a família da artista fincou raízes no Guamá, o bairro mais populoso de Belém. Ela conta que além das artes, também é mestra em Ciências da Comunicação pela Universidade Federal do Pará, onde desenvolveu pesquisas relacionadas a identidades amazônicas, o que também acabou influenciando em sua produção. “Ao longo desse caminho, a questão das negritudes amazônicas têm impactado muito a visão das coisas que eu produzo, inclusive artisticamente”, contou a artista.

Yasmin lembra que sua paixão pelas artes foi despertada ainda na infância. Ela conta que sempre desenhou e pintou muito. Fazia colagens, poemas, zines, mas que, com o tempo,  acabou interrompendo essas atividades, por já não tratar mais com a mesma relevância que dava na infância. No entanto, nos últimos anos ela voltou a criar. Daí vieram colagens digitais, formato que considera, hoje, estar mais ligada, e que ela passou a publicar em sua conta pessoal do Instagram. Com isso, ela lembra que em 2023 realizou um sonho de criança.

“Eu passava de ônibus em frente à galeria Benedito Nunes, e pensava que devia ser muito legal passar e ver uma arte nossa ali, exposta, para todo mundo que passar ver também. Até que no ano passado eu consegui uma premiação no Prêmio Novos Contemporâneos da Fundação Cultural do Pará, e participei de uma exposição coletiva com artistas incríveis. Isso tudo produzindo com um aplicativo gratuito e através do celular. Viver isso foi muito bom, gerou um impacto muito positivo de, justamente, investir mais tempo e até mesmo mais confiança em produzir as artes, a experimentar mais”, contou ela ao rememorar o momento.

A obra selecionada pelos curadores do prêmio foi “Tormenta”, que a artista considera como um divisor de águas na sua carreira e pela qual nutre carinho especial. Produzida inteiramente pelo celular, a obra foi impressa apenas para a exposição. “Ela trata do sentimento da ira, do caos, da confusão e também da vulnerabilidade que a gente sente vez ou outra, e isso tem muita ligação com as cores, com a forma que as diferentes mídias e materiais estão ali, como os olhos, com o cabelo, com a posição das mãos”, contou Yasmin Fonseca ao descrever a obra que agora faz parte do acervo da Fundação Cultural do Pará.

O percurso artístico de Yas, como a artista também se apresenta, foi permeado de influências de diversos gêneros, desde momentos do cotidiano, a artistas de grande repercussão como Basquiat, Frida Kahlo, Harmonia Rosales, ou obras de apelo popular e recordistas de público. “Algumas das coisas que certamente me inspiram são os filmes Pantera Negra e  Homem-aranha: através do aranhaverso, o álbum visual Lemonade da Beyoncé, a série Iwaju da Disney, o livro A autobiografia da minha mãe de Jamaica Kincaid, ouvir Djavan e artes e artesanatos amazônicos e africanos”, contou.

A jovem da periferia de Belém conta que não tem um estilo específico, que gosta de experimentar e testar coisas novas, formatos novos. “Fico um bom tempo nisso, pesquisando, aprendendo, testando, pra depois chegar com algo feito ou pronto. Então, eu gosto de tomar meu tempo nisso, sentir que é um processo gostoso e prazeroso, confortável”.

O resultado desse processo são produções com protagonismo feminino, principalmente mulheres negras, corpos periféricos, como explica a artista. Também refletem no seu trabalho o misticismo das culturas negras e amazônicas ancestrais que ecoam nos espaços periféricos do agora. Por não definir um estilo específico, ela se permite experimentar processos, formatos e materiais, imaginar e reimaginar, do realismo à abstração, da tinta óleo ao giz de cera. Estilo e personalidade muito próprios que se materializam em suas obras para atingir um ponto entre de inflexão entre o humano e o divino em cada um, a mística de cada pessoa.

Atualmente ela afirma que está em um processo de testar coisas novas para em breve trazer ao público. Então, se tu gostastes do perfil da Yasmin e ficou curioso para saber mais sobre o trabalho dela, fica de olho no perfil @yas_autoral no Instagram, onde você também pode falar com a artista, adquirir obras ou fazer encomendas.

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