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Da Redação | Foto: Raisa Coriolano

Do bairro do Jurunas, Gabriel Cardoso, ou GC, como prefere ser chamado e, como o jovem assina suas obras, produz digitalmente personagens no estilo afro futurista inspirado pela realidade amazônica. Expoente do movimento afrofuturista no Pará, o artista GC contou em entrevista ao Portal Jambu um pouco de sua história, de sua carreira e de suas inspirações. 

O afrofuturismo é um movimento artístico e cultural onde se imaginam pessoas pretas, no futuro, usando a tecnologia como uma forma de preservar a ancestralidade. Por isso, para se imaginar esse futuro, o estilo busca referências no passado, na história e nas tradições de povos e etnias africanas, como uma forma de preservar suas identidades. Mais que um estilo, o afrofuturismo é um movimento que atravessa diversos formatos artísticos, desde a literatura, até as artes visuais.

Em Belém, o artista visual, designer, ilustrador e morador do bairro do Jurunas, periferia da capital paraense, GC, tem produzido impressões em tecido, como bandeiras, com personagens afro futuristas, inspirado também em referências amazônicas.

Apaixonado por distopias (futuros caóticos), o artista visual conta que começou primeiro a produzir obras do estilo cyberpunk (subgênero de produção artística conhecido pelo enfoque na relação entre alta tecnologia e baixa qualidade de vida) e que a partir daí encontrou outros movimentos, como o afrofuturismo. “Foi através do cyberpunk que eu encontrei o afropunk, né? Que é um movimento um pouco anarquista, um pouco punk também, agora de pessoas pretas, retomando esse lugar de crítica, enfim, de movimentação mesmo de coisas políticas e tudo mais. Aí, juntando o cyberpunk, o afropunk, eu encontrei o afrofuturismo”, contou o artista.

Algumas obras do artista expostas. Foto: Acervo Mokae.

Ele considera também que com o boom das adaptações das histórias em quadrinhos para o cinema, o Pantera Negra apareceu como um “dos maiores espetáculos visuais, nesse sentido de afrofuturismo”. O personagem criado por Stan Lee e Jack Kirby na década de 1960, levou o jovem da periferia de Belém a buscar outras referências sobre o tema e observou que os artistas do gênero buscavam representar o seu lugar de origem.

Suas primeiras influências vieram de diversos gêneros artísticos que contribuíram para instigá-lo a produzir um material que ele considera diferente. Entre eles, GC destaca Alan Furtado (@o_afrontoso), Thay Petit (@thay-pti) e o escritor Alê Santos (@savagefiction). Além do mais, imerso na cultura periférica da capital paraense e os usos que diversos grupos fazem da tecnologia, como a produção das festas de aparelhagem, GC observou que elas também podiam servir como base para sua produção visual.

Outras obras do artista. Foto: Acervo Mokae.

“Eu pensei: ‘eu não vou fazer o que todo mundo tá fazendo já, eu não vou desenhar só um personagem preto com um braço robótico’. Eu não queria isso, eu queria muito mais que isso. E aí eu comecei a fazer uma pesquisa e descobri o afrofuturismo aqui dentro, né? Quando a gente fala das aparelhagens, por exemplo, que no caso são pessoas de periferia, são pessoas pretas fazendo esse trabalho há muito tempo, construindo essas naves, promovendo esses eventos que são super tecnológicos, eles têm toda essa gama de tecnologia. E aí, no caso, através desses eventos, dessas grandes festas que a gente também fala como rock doido, eu comecei a ver o conceito, né? De como nós estávamos usando a tecnologia pra chegar na periferia, pra promover arte, promover cultura, e hoje a cultura do tecnobrega é gigante. Então eu comecei nesse estilo e já trouxe alguns elementos da onde eu estou, da onde eu moro que, no caso, é Belém, é a periferia do Jurunas, justamente pra seguir essa linha que eu tava vendo nos outros trabalhos”, contou o artista jurunense ao rememorar sua trajetória.

Gabriel Cardoso lembra também que o afrofuturismo salvou sua vida. Ele rememora seu primeiro projeto, ainda durante a pandemia, ao imaginar uma personagem usando uma máscara, como uma forma de remeter ao que estávamos vivendo naquele momento. GC conta que foi através desse primeiro projeto que ele pôde colocar comida na mesa e ajudar a cuidar da própria família e que essa foi a realidade de muitos outros artistas pretos. Ele observa que mesmo imerso em tantas dificuldades, há um movimento muito grande entre esses artistas que, “querendo se juntar, querem propagar cada vez mais esse movimento que é imaginar pessoas pretas num futuro onde a tecnologia está nos ajudando, onde a gente é protagonista das nossas próprias histórias, onde estamos nos locais que verdadeiramente nós merecemos”, contou o artista que atualmente tem uma de suas obras, produzida com outra artista afrofuturista, Gaby Adayo (@colapretta), em exposição no Carnegie Hall, em Nova York (EUA).

Ficou interessado em saber mais sobre afrofuturismo e conhecer o trabalho do GC? Além de publicar suas obras no seu perfil do Instagram, ele também apresenta seus trabalhos em diversas galerias e outros lugares voltados às artes em Belém.

Uma resposta

  1. GC é um artista incrível e tem vivências fortes que fazem a arte dele ser carregada de referências. As ruas de Belém, as passagens do Jurunas, a vida na periferia de uma metrópole da Amazônia estão muito bem representadas e que mais e mais artistas pretos/as/es ganhem notoriedade nessa cidade/selva que é tão rica culturalmente e desigual em oportunidades

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