Por Kelvyn Gomes/Imagem: divulgação
O filme de Coralie Fargeat, “A substância”, que conta a história da famosa e bem sucedida Elizabeth Sparkle, interpretada por Demi Moore e sua “nova versão”, Sue, vivida por Margaret Qualley se prolonga mais do que deveria, adicionando tantas camadas à história que se perde entre elas. O excesso de excentrismo da narrativa confunde o espectador em um filme interessante justamente pela forma excêntrica de abordar o tema da ditadura da beleza e da incessante busca pela juventude.
Filmes de terror e/ou ficção científica, caminhos pelos quais “A Substância” transita, podem tomar qualquer rumo. De robôs e alienígenas, a seres extradimensionais; de entidades poltergeisticas a massarocas mutantes. Tudo é possível. Mas e quando a mão pesa? A metáfora pode perder o sentido.
O filme começa bem. Com cortes precisos e enquadramentos que enchem a telona de texturas, cheiros e sabores, é quase possível sentir a fumaça do cigarro soprada pelos personagens tocar o rosto; ou as mãos tocarem a pele. O filme tem muita bunda, muitos lábios, muitas mãos, afinal de contas esses são alguns dos principais elementos do portfólio da ditadura da beleza que Elizabeth Sparkle, uma das protagonistas, enfrenta. Ela é uma musa da televisão americana empurrada para o fim da carreira pelo diretor executivo da emissora onde trabalha – um típico homem médio, branco, que se recusa a envelhecer e vê nisso um problema para os outros – afinal de contas, a velhice deve ser escondida, trancafiada em um quarto do pânico num banheiro branco que mais parece um açougue.
Co-protagonizado por Demi Moore que vive um conflito geracional com o seu novo eu, ao tentar se enquadrar nos padrões de beleza impostos pela rede de TV na qual trabalha: afinal de contas, agora tudo é novo, precisa estar tudo no lugar, ou o “peito entre os olhos” para ser mais bonito. Ah, é importante ter entre 18 e 30 anos. Mas de que adianta uma nova identidade se os problemas são os mesmos do passado? Cuidar do corpo sem cuidar da mente (ainda que cuidar do corpo ajude a cuidar da mente) é uma receita para o fracasso. É assim que Moore é derrotada por uma versão mais jovem de si mesma, que atende agora por Sue, graciosa e violentamente interpretada por Margaret Qualley.
O filme discute temas como ditadura da beleza, problemas de autoestima, etarismo, publicidade e como tudo isso se tornam pressões sociais que nos imprimem marcas e cicatrizes tão profundas quanto as tantas camadas possíveis que se esgotam em uma massaroca estranhamente homogênea que desaparece na calçada da fama. O exagero não fica apenas por conta das duas horas e meia de filme, mas pelas alegorias que criam personagens e momentos grotescos. Isso não é uma crítica, ao contrário, o grotesco em “A Substância” é um recurso imagético importante. Mas o resultado é um público estranhamente perplexo e sem acreditar no que acabou de ver.
Estrelado por Demi Moore e Margaret Qualley e dirigido por Coralie Fargeat, “A Substância” está nos cinemas e a gente aguarda aqui a tua opinião sobre o filme.