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Mesmo num constante vai e vem da Avenida Augusto Montenegro, em Belém, a imponente imagem de Iemanjá, com seus 12 metros de altura, é impossível de ser ignorada. Ela se destaca majestosa, simbolizando a rainha das águas e representando a devoção de muitos ao longo da história. O culto a Iemanjá no Brasil possui variações de datas comemorativas: enquanto alguns celebram sua data no dia 2 de fevereiro, outros a reverenciam em 8 de dezembro. Ambas as datas são marcantes, sendo que a última também é associada ao sincretismo religioso com Nossa Senhora da Conceição, muito presente nas tradições umbandistas.

Por Pedro Leão/Edição: Kelvyn Gomes/Imagem: Yasmin Fonseca

A origem de Iemanjá remonta aos tempos antigos no continente africano, mais especificamente entre os povos yorubás. Durante o processo de colonização, marcado pela violência e pela resistência, a divindade passou por transformações significativas. Não só seu nome foi modificado, como também a representação de sua figura. Para o rapper Emicida, essa mudança de aparência reflete uma distorção cultural, pois “pra uns é branca, pra nós é pretinha”. Essa “transição” de nome e imagem é resultado da tentativa de apagar suas raízes africanas, mas Iemanjá, como uma força de resistência, manteve sua presença espiritual viva.

Para entender melhor essa história, podemos recorrer à saudação original dos yorubás a Iemanjá: “Odo Ya”, que pode ser traduzida como “Mãe do rio”. Embora muitos a associem ao mar, o culto original, em Abeokuta, na Nigéria, a reverenciava como a deusa dos rios. Com o tráfico de africanos escravizados ao Brasil, ela se transformou e passou a ser vinculada aos mares, representando uma proteção para aqueles que enfrentavam as tormentas da travessia e da escravidão. Iemanjá se tornou, assim, a mãe que acolhia e guiava seus filhos e filhas em um mundo cheio de adversidades.

Em um “Orin ti Yemoja” (Canção para Yemoja) questiona: “Quem é a dona do rio?”, e a resposta é clara: Yemoja. Esse é o nome original da deusa yorubá, cujo significado é “Mãe dos peixes” ou “Mãe cujos filhos são como peixes”. Este título reforça sua função matriarcal e sua conexão com a natureza, destacando a importância da deusa tanto na África quanto nas terras para onde ela foi levada.

Além do dia 8 de dezembro, o 2 de fevereiro também é celebrado por muitos como o Dia de Iemanjá, especialmente no Candomblé e na Umbanda, duas das religiões afro-brasileiras que a veneram. Nesse dia, é comum ver oferendas sendo preparadas com muito cuidado: frutas, flores, perfumes e outros objetos são levados até o mar, para que a deusa os receba como agradecimento ou pedido de bênçãos.

A continuidade da benção de Iemanjá sobre seus filhos se deve ao seu papel eterno de mãe. Independentemente da face que ela tome, seja como uma divindade do rio ou do mar, sua função é cuidar e proteger, guiando aqueles que a invocam nas suas jornadas e desafios. Ela é a Mãe dos Peixes, que acalma e orienta, permitindo que seus filhos sigam vencendo as batalhas cotidianas, abrigados por seu amor e proteção.

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