Nesta terça-feira, 26 de novembro, o Curro Velho, uma das mais importantes casas de arte de Belém, completa 34 anos. Inaugurado em 1861 pelo presidente da província do Pará, Luis Carlos Brusque, para abastecer a cidade com carne fresca, o Curro Velho serviu até 1912 de matadouro público, quando foi fechado. Após essa data, viveu com a incerteza do abandono até que em 1990 foi reaberto como uma casa de formação para as artes e hoje segue resistindo para cumprir sua função.
Por Kelvyn Gomes/Foto: Agência Pará
Localizado às margens da Baía do Guajará, para facilitar o recebimento do gado que vinha do arquipélago do Marajó, foi pensado como uma solução aos problemas de abastecimento da cidade com carne verde (carne fresca). Cumpriu sua função até 1912 quando foi substituído por um novo espaço na Ilha de Caratateua. De lá para cá foi utilizado como depósito de materiais diversos, até ser definitivamente desabilitado.
Na década de 1990, a professora Dina Oliveira projetou uma nova função para o espaço: uma Fundação Cultural. O prédio então abrigaria cursos nas diversas áreas artísticas como pintura, artes plásticas, teatro, dança, música. O Curro então renasceria para abrigar vida através das artes, atendendo principalmente crianças e adolescentes de escola pública e da periferia. As “crias” do Curro Velho, como são chamados os jovens assistidos pela instituição, dão vida ao espaço cultural que, mesmo em meio às dificuldades, segue cumprindo sua função social.
Andrei Miralha, atual coordenador de Oficinas Culturais da Fundação Cultural do Pará, responsável pelas atividades realizadas no núcleo de Oficinas Curro Velho e Casa da Linguagem, tem experiência na área da multimídia e quadrinhos, conta que frequenta o Curro Velho desde 1991. De lá para cá, foi aluno, instrutor de oficinas, funcionário temporário e atualmente Técnico em Gestão Cultural concursado exercendo um cargo de chefia na instituição.
O gestor cultural considera que o Curro Velho tem um papel importante no cenário artístico e cultural paraense por seu reconhecido trabalho na inclusão social através da arte com a realização de oficinas e demais atividades formativas oferecidas ao longo de mais de 30 anos de atividades.
De acordo com Andrei Miralha, “Oportunizamos a experiência prática em diversas linguagens artísticas como artes visuais, audiovisual, música, cênicas e verbal. Durante esse tempo trabalhando no Curro Velho, pude ver muitas vidas transformadas e histórias sendo modificadas nesse espaço de encontros, compartilhamentos e vivências que possibilitam a expressão artística em diferentes técnicas”. Andrey conta também que um dos maiores desafios da instituição atualmente é “desenvolver novos projetos e programas de formação artística em parceria com outras instituições públicas ou privadas”.
Andrey explica que as crianças e adolescentes atendidas no núcleo de oficinas de iniciação artística vem geralmente do entorno do Curro, principalmente da Comunidade da Vila da Barca, vizinha do espaço. Ele destaca que os pais buscam geralmente as atividades ofertadas aos finais de semana destinadas à montagem dos espetáculos criados pelo núcleo de oficinas. “Ao longo do ano nós fazemos três grandes espetáculos. O primeiro é o carnaval das crias do Curro Velho, então ele é feito através de oficinas, de ensaios com crianças e a parte toda de adereços e de carros alegóricos ela é feita a partir de oficinas. Então esse trabalho que é feito com as crianças, ele é feito aos sábados e domingos. Depois a gente começa o ensaio do Auto Junino, que é um espetáculo cênico musical que acontece no mês de junho. E, no final do ano, tem o Auto de Natal que também é o mesmo processo”, esclarece o gestor.
Além da iniciação artística, a instituição também oferece o módulo de oficinas voltadas não apenas ao despertar, mas ao desenvolvimento e aperfeiçoamento artístico, de modo a ser uma possibilidade de emprego e renda para jovens e adultos. Com a modalidade “iniciação artística”, o Curro Velho atende crianças a partir dos 07 anos de idade, sem limite máximo de idade nos “núcleos de oficinas”. “Quem consegue chegar vem e participa. Então é muito comum que nas oficinas do Curro Velho tenha uma grande variação de idade, desde uma criança, um jovem, até uma pessoa idosa. Então isso é comum”, afirma Andrei.
Aos 34 anos, o Curro Velho segue cumprindo sua função social como um espaço de arte e educação. Mas também vai além, é uma parte da história. Um testemunho de como as cidades e as pessoas se transformam, de como um matadouro pode se transformar em um símbolo de renascimento e de como a arte tem o poder de transformar até os lugares mais improváveis.
Segundo o coordenador das oficinas, as comemorações em alusão ao aniversário do Curro Velho irão acontecer nos dias 06, 07 e 08 de dezembro com a já tradicional Feira da Beira e o Auto de Natal com as crias do Curro Velho.