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De Kelvyn Gomes | Foto: Agência Belém

No dia do cinema brasileiro, lembrar é viver, e viver é preservar. Aos 112 anos, Cinema Olympia, em Belém, é o mais antigo do Brasil em atividade, resiste às marcas do tempo e do descaso público.

Uma invenção moderna

Uma invenção moderna, o cinema tem seu surgimento datado de 1895. Concebido pelos irmãos Auguste e Louis Lumière quando apresentaram ao mundo o Cinematógrafo, um equipamento capaz de projetar imagens em movimento. Foi no Gran Café Paris que os espectadores testemunharam, conta a história, ainda muito assustados, a exibição daquele que foi considerado o primeiro filme do mundo. Um curta-metragem de cerca de 30 segundos que mostrava “A chegada do trem na estação”. E, como o próprio título sugere, mostra “apenas” a chegada de um trem à estação de Ciotat, uma comuna francesa.

Não demoraria muito para que o cinema conquistasse o mundo. Imagens em movimento eram uma inovação sem precedentes naquele momento. Já no ano seguinte, o primeiro filme seria exibido no Brasil, na rua do Ouvidor, Rio de Janeiro. Uma apresentação destinada a grupos da elite da cidade, uma demonstração de avanço e tecnologia. Foi também na então capital federal rodado o primeiro filme considerado genuinamente brasileiro. Imagens da Baía de Guanabara. “Primeiro genuinamente”, dizem os críticos, porque o anterior “Chegada do trem em Petrópolis”, acusam, não foi filmado no Brasil, e sim na Europa.

Além do cinema, outras invenções marcaram a virada do século XIX para o século XX, como o rádio, o telefone, a eletricidade e a locomotiva, também considerados símbolos da modernidade. Um período de euforia causada por inovações técnicas e científicas conhecido como Belle Époque. No Brasil, esse processo coincidiu com uma série de transformações políticas, sociais e culturais, consideradas como “mais adequadas” aos novos tempos. Nas cidades, essas mudanças foram bastante sensíveis. As reformas urbanas baseadas em uma arquitetura cientificista, preocupada com a higiene pública e social, expulsou pessoas mais pobres dos grandes centros conforme elas se desenvolviam.

Um cinema de primeira

Em Belém, capital da borracha, o principal produto gerador de riquezas e que financiou essas reformas, foram construídos novos passeios públicos, praças, parques, teatros e cinemas para que a cidade se mantivesse alinhada aos princípios da modernidade. Assim, em abril de 1912 a grande novidade foi a inauguração da primeira sala de cinema fixa da cidade, o Olympia. Como em outros prédios da capital da borracha, a forte influência e ligação que estabelecemos com a Europa estava expressa na arquitetura do prédio. Predomina o estilo Neoclássico e Art-Nouveau, abusa-se do mármore, da azulejaria e do ferro fundido, praticamente tudo encaixotado e vindo de além-mar, inclusive muitos dos hábitos.

Imagem retirada do livro “Cinema no Tucupi” de Pedro Veriano

Mas nem tudo foi importado. Além de salas de exibição, alguns filmes chegaram a ser produzidos aqui, como os das empresas Gram-Pará Films e Amazônia Filmes, ainda que alguns não agradassem tanto ao público e a crítica, por serem considerados de baixa qualidade ou inverídicos. Por outro lado, havia aqueles que se identificavam com as películas. A excitação com a novidade era tanto que mesmo com a crise da borracha que abalou inúmeros setores, o de cinemas parece ter se mantido estável enquanto opção de lazer e negócio, tanto que até os anos de 1930 novas salas de cinema foram abertas.

O Olympia, imponente, era considerado um cinema de primeira linha, luxuoso, onde os filmes eram lançados. O cinema pertencia aos mesmos proprietários do suntuoso Grande Hotel e seus frequentadores combinavam a programação do cinema com o Terrasse do hotel, lugares bastante disputados naquele tempo, já que os cinemas não eram apenas salas de exibição para filmes, mas de concertos e outras apresentações, lugares importantes para aqueles que queriam ver e ser vistos.

O cinema que marca a história da cidade e gerações de fãs, após ter passado pelas mãos de diferentes donos, é administrado desde 2006 pela Fundação Cultural de Belém (Fumbel) e tombado como Patrimônio Cultural do Município em 2012. Fechado desde 2020 por conta da pandemia, seu presente de 112 anos será uma reforma completa.

Com seus cerca de 400 lugares, o Olympia ajudou a imprimir na cidade de Belém um status quo de modernidade que hoje apenas paira na memória faustosa que alguns ainda insistem em cultivar da Belém da Belle Époque.

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