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Por Kelvyn Gomes/Imagem: Divulgação

Com apresentações culturais, intervenções artísticas e oficinas, movimentos sociais realizam ato Político-Cultural nesta quinta-feira, 05 de junho, a partir das 19h na Rua Professor Nelson Ribeiro, na Vila da Barca, em alusão ao Dia Mundial do Meio Ambiente e em defesa do Curro Velho, com objetivo fazer um alerta sobre a crise climática a partir das artes. O evento também será transmitido ao vivo pelo youtube no canal do PEStudio.

Acionadas pelos moradores da Vila da Barca, comunidade localizada às margens da Baía do Guajará no Bairro do Telégrafo em Belém, um grupo de entidades se mobiliza para o ato que acontece nesta quinta-feira com a presença de representantes da sociedade civil, artistas locais e regionais. Segundo Cleia Carmo, vice-presidenta da ONG Comissão Solidária, que atua na Vila da Barca, “o evento é uma resposta às mudanças climáticas e às políticas ambientais injustas que afetam a comunidade”. A ativista destaca que a comunidade, com o ato, tem a intenção de fortalecer a luta por justiça ambiental e climática, destacando o descaso que os moradores sofrem na comunidade. “Esse evento é o nosso grito por justiça e melhorias.

A escolha do dia 05 de junho para a realização do ato e o lugar onde ele irá ocorrer não são aleatórias. Definido pela Organização das Nações Unidas em 1972, o dia 05 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, marcava o primeiro dia da Conferência de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano. Em 2025, a data tem como tema “Acabe com a poluição plástica” e terá como país anfitrião a República da Coreia. Mas a data também é marcada pelas vozes e diferentes demandas por justiça climática e ambiental mundo afora. “O ato no dia mundial do meio ambiente é para chamar atenção para os graves problemas ambientais que enfrentamos aqui”, afirma a vice-presidenta da ONG que tem atuado na comunidade desenvolvendo atividades relacionadas à educação, arte, cultura, lazer e preservação ambiental.

Além da Comissão Solidária, outras entidades se somam na realização. Segundo Rui Gemaque, ativista socioambiental do Greenpeace em Belém, a ideia de fazer o evento surge como “uma resposta à constante exclusão social enfrentada pela comunidade da Vila da Barca, com ênfase nas últimas ocorrências, relacionadas às obras da COP, que escancara o que denunciamos desde sempre: o racismo ambiental”, explica o ativista.

Seguindo a iniciativa da ONU, o Brasil decretou em 1981 a primeira semana do mês de junho como a “Semana Nacional do Meio Ambiente”. Com o agravamento da crise climática, o mês acabou sendo adotado como uma forma de intensificar os debates sobre a questão. Por isso em junho, “é comum a realização de eventos de viés ambiental nesse período, logo, nesse contexto, é oportuno protestar, se manifestar e constranger pessoas em posição de poder/decisões pra que olhem pra comunidade e se mobilizem pra tratar a população com dignidade e respeito”, destaca Rui.

Cultura e arte em defesa do meio ambiente

Além das rodas de debates, oficinas para crianças, jovens e adultos durante o período da tarde, o público vai poder acompanhar uma sequência de shows de artistas locais e regionais como Dj Pica-Pau, nascido e criado nas estivas da comunidade, o sambista Bilão, a bailarina e performer Taynara Garcia e cantora Naieme. “Usamos a arte e a cultura para discutir o clima, porque eles tem o poder de comunicar de forma precisa. Eles (os artistas e fazedores culturais) também nos ajudam a resgatar nossa ancestralidade e é uma ferramenta de força  para encontrar soluções para os desafios climáticos”, afirma Cleia Carmo, que subirá ao palco como uma das mestres de cerimônia durante a programação.

Para o representante do Greenpeace, “cultura é cotidiano, assim como o clima. Vivemos e sentimos na pele (literalmente) as ações e reações do ambiente. Por isso, faz total sentido enxergar a conexão desses termos. Nada é separado, pelo contrário, é tudo conectado. Tudo é Cultura, arte, clima e política”, afirma o ativista.

Além do meio ambiente, os organizadores também afirmam que o ato é em defesa do Curro Velho. Na última semana, artistas, oficineiros, alunos e comunidade denunciaram o sucateamento do espaço que funciona, desde os anos 1990, como núcleo de oficinas e iniciação artística nas mais diferentes expressões culturais. Com projeto da arquiteta, urbanista e professora de Artes da Universidade Federal do Pará, o prédio localizado às margens da Baía do Guajará, onde funcionava o antigo curro público da cidade, foi revitalizado nos anos de 1990 para receber as primeiras oficinas de iniciação artística. 

Pré-COP

Prevista para ser realizada em Belém em novembro deste ano, o 30º encontro dos países componentes da Cúpula das Partes, a COP 30, tem mobilizado não apenas governos e líderes mundiais, mas a sociedade civil que, no geral, são excluídas das zonas azul e verde do mega evento que debate a crise climática no mundo.

Com a realização da COP em Belém e a forma como as intervenções governamentais vêm sendo realizadas na cidade, movimentos sociais têm se articulado e promovido ações integradas, como a desta quinta-feira, para mobilizar e conscientizar as pessoas sobre a crise ambiental. “Se articula totalmente, por colocar a população da periferia, das palafitas, das baixadas como integrantes da discussão climática e Socioambiental, principalmente pelo fato destas pessoas serem as mais afetadas por consequências da crise climática, como secas e alagamentos. Se articula com a Conferência no sentido de que a sociedade civil tem e deve ter voz. Há muito pra dizer, não só desmascarar problemas, mas também propor soluções”, afirma Rui, do Greenpeace.

Integrante da Comissão Política da Cúpula dos Povos rumo à COP 30 e liderança jovem do Perifa Connection, a ativista Thuane Nascimento destaca que o racismo ambiental é uma pauta central e inadiável nos debates preparatórios para a Conferência do Clima que acontece em novembro. Segundo ela, os territórios periféricos, indígenas e quilombolas são sistematicamente tratados como áreas de sacrifício, onde os impactos da crise climática se manifestam com maior intensidade. A pressão sobre esses territórios não é acidental, mas reflexo direto de uma estrutura histórica de exclusão e desigualdade ambiental.

“O racismo ambiental se expressa quando as periferias urbanas, onde moram populações negras, indígenas e pobres, são as primeiras a sofrer com enchentes, contaminação da água, falta de saneamento e calor extremo. São territórios que sempre estiveram à margem das decisões políticas, mas no centro dos impactos ambientais. É sobre isso que precisamos falar quando discutimos justiça climática na Amazônia e no Brasil”, afirma Thuane.

Educadora popular, a vice-presidenta da Comissão Solidária também considera que o evento do dia 05 de junho se conecta diretamente com a COP. Nós queremos levar o debate sobre clima para dentro das comunidades, pra dentro das periferias, garantindo com que as nossas necessidades e propostas cheguem aos líderes mundiais. É essencial que a voz dos moradores seja ouvida nas decisões sobre o futuro do nosso planeta”, completa Cleia.

Uma coalizão

Além da Comissão Solidária e do Greenpeace, o evento também conta com a participação de outras entidades como a Cúpula dos Povos, a rede de cursinhos populares Confluências e a Unipop.

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