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O Mercado de São Brás, um dos principais prédios históricos de Belém, será reinaugurado hoje, quarta-feira, 18 de dezembro, após 18 meses de reforma. A revitalização do espaço foi originalmente estimada em 46 milhões de reais, e seria realizada pela Roma Incorporadora que prometia uma obra faraônica, chegando a comparar o resultado com mercados europeus do mesmo estilo. Após abandonarem a reforma antes mesmo de ser iniciada, outra empresa, a M2p Arquitetura e Engenharia, com projeto assinado pelo engenheiro Leonardo Santos, a reforma foi concluída com um valor final de cerca de 125 milhões de reais, refletindo o tamanho da intervenção necessária para devolver à população o antigo Mercado de São Brás.

Por Kelvyn Gomes/Imagem: Acervo IBGE

A reforma não busca apenas preservar o patrimônio histórico do mercado, mas também garantir a modernização do espaço para atender às demandas comerciais e turísticas da cidade, que receberá a 30ª Conferência das Partes em 2025. No entanto, para que continue sendo um espaço democrático, servindo seu papel social e ser uma grande conquista para Belém, seus permissionários e frequentadores, não basta apenas destacar sua arquitetura histórica e seu apelo cultural, mas seu lugar de vida urbana efervescente em Belém.

O prédio é mais do que um simples ponto de comércio, é um testemunho da riqueza cultural e arquitetônica da cidade, que reflete o apogeu do ciclo da borracha e a busca por modernidade no início do século XX. Construído no final do ciclo áureo da borracha, sua construção foi autorizada em 1909 e inaugurada em 21 de maio de 1911. Desde então, o edifício se consolidou como um símbolo da cidade, com sua arquitetura imponente que mistura influências Art-Nouveau e Neoclássicas.

O Mercado de São Brás se destaca pela riqueza dos materiais utilizados em sua construção. Mármore Carrara, cristal, ferro forjado e azulejos decorados pretendiam trazer um toque de sofisticação à sua estrutura. Um dos aspectos mais interessantes, à época, do projeto, foi a inclusão de um lanternim no teto, que permitia não apenas uma ventilação eficiente, mas também iluminação natural, essenciais para a preservação dos produtos estocados no mercado.

Com sua construção, o Mercado foi considerado uma das manifestações de modernidade e progresso de Belém. No contexto do remodelamento urbano da cidade no início do século XX, o mercado representava a civilização e a prosperidade atribuídas ao período de crescimento econômico e político. Juntamente com outras construções importantes da época, como o Teatro da Paz e o Mercado de Carne, o Mercado de São Brás contribuiu para a nova imagem que os gestores e as classes dominantes buscavam para Belém: a de uma capital cosmopolita e civilizada.

A construção do Mercado também pode ser vista como uma forma de reafirmação do poder político de Antônio Lemos, então intendente municipal. Sua obra não refletia apenas a tentativa de descentralizar a comercialização e distribuição de produtos, promovendo uma reorganização do comércio local e regional, mas também a tentativa e o desejo de modernizar a cidade.

A localização do mercado, no Largo de São Brás, foi pensada de forma estratégica, na confluência de três importantes avenidas da cidade, e carrega consigo uma simbologia especial. São Brás, padroeiro da cidade, é conhecido por ser um santo que auxilia pessoas com problemas na garganta. No século XIX, devotos realizavam procissões que partiam da Igreja das Mercês até o Largo de Nazaré, posteriormente até o de São Brás, onde a imagem do santo, em tamanho natural, permanece dentro do Mercado. A procissão anual, realizada sempre no dia 3 de fevereiro, é um evento tradicional que reforça a importância do Mercado de São Brás na vida religiosa e cultural da cidade.

Imagem: Divulgação

Em 1982, o Mercado de São Brás foi tombado como patrimônio histórico e arquitetônico do estado e, em 1984, recebeu o mesmo status no município de Belém. Após várias décadas de uso, o Mercado passou por apenas duas reformas e atualizações. A primeira ocorreu em 1980, como um esforço de preservação, e a segunda, em 1998, restaurou o edifício mais uma vez. Contudo, o mercado e as pessoas que o frequentam, precisam de mais do que um processo caro e vagaroso de revitalização. Não apenas o Mercado, mas tantos outros prédios históricos exigem nossos cuidados e atenção constante para serem preservados.

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