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Carlos Lobão é um dos vencedores do Prêmio Off Flip de Literatura 2024 |  Instituto de Geociências

Por Kelvyn Gomes/Imagem: Reprodução Instituto de Geociências Unicamp

A partir das margens do rio Guajará até os corredores da Unicamp, a vida do professor e escritor revela uma Amazônia feita de memória, resistência e arte. De  Bragança, no nordeste do Pará, Carlos Cunha, o Lobão, geólogo de formação e escritor por vocação, o autor de “A Baía dos Guajarás é Vermelha” se inspira nos rios, encantados e nas histórias que ouviu dos mais velhos na região do Salgado e que transbordam em sua produção literária, marcada por mitos, tradições e lutas do povo amazônico. O Portal Jambu te convida para conhecer um pouco mais sobre a obra e trajetória do autor

Um de seus principais inspiradores foi o tio Romildo, o “Dondom”, personagem de um dos contos publicados na antologia Amazônia pelo selo Off Flip em 2023. “Tenho ancestrais em Bragança, portugueses, e em Cachoeira do Arari, indígenas da Ilha do Marajó. Desde criança estou acostumado ao convívio com nossos encantados e encantamentos”, conta.

Mesmo distante da região há algum tempo, as visitas anuais a Belém, os festejos de São Benedito em Bragança, os contatos com amigos e a leitura constante mantêm viva a ligação com o universo amazônico. “Gosto de ficar olhando o Guajará desde criança. Fico imaginando o que pode ter acontecido nas águas, nas margens, observando e admirando os que dependem dela para viver”, revela o autor.

Em suas páginas, a memória popular encontra o gesto político. A crônica “A Baía dos Guajarás é
Vermelha” (que será lançada em antologia na Flip em julho/agosto) evoca a Cobra Grande, entidade
mítica da floresta, como força contra os que a destroem: “Com um enorme terremoto seletivo, vingará os cabanos, posseiros e ambientalistas, e tornará a Guajará mais vermelha – tal e qual a bandeira do Pará”, escreve Lobão. Para ele, a literatura pode e deve ser instrumento de defesa do meio ambiente e dos povos da Amazônia. “Defender o meio ambiente, especialmente a Amazônia, diz respeito à própria sobrevivência da espécie humana”.

Mesmo com os pés firmes na Geologia, a arte segue sendo parte essencial de seu caminho. “Acredito na afirmação atribuída a Ferreira Gullar de que a arte existe porque a vida não basta. Vida e arte não são campos estanques. O fazer pode ser visto como uma forma de escrever a vida”, conclui.

Das ciências da terra ao campo do simbólico, sua trajetória entrelaça a Geologia e narrativas, ciência, mitologia e encantamento em uma experiência que só um amazônida poderia fazer.

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