Em 4 de novembro, celebramos o aniversário de Líbero Luxardo, um dos nomes mais icônicos do cinema brasileiro. Conhecido por suas obras que capturam a essência da vida na Amazônia, Luxardo continua a inspirar cineastas e amantes da sétima arte no Cine Líbero, um espaço que perpetua sua visão criativa.
Por Kelvyn Gomes/Foto: Luiz Braga
Dos números às telonas
Do interior de São Paulo, onde teve o primeiro contato com o cinema, já que seu pai e irmão também eram cineastas e produziam filmes exibidos no cinema local. Seu primeiro trabalho viria no final dos anos 1920, uma cena de “O crime da mala”, lançado em 1929 e dirigido por Francisco Campos. O professor Advaldo Neto, pesquisador da obra de Líbero, diz que “reza a lenda que num dia de filmagens, nos sets, um jovem franzino chegara ao produtor da película, Isaac Saindemberg, dizendo que faria melhor aquela tomada. Sem pestanejar, Isaac provocou-o a fazer. De acordo com a história, com a maior destreza Líbero a fez”.
Advaldo conta também que antes de mergulhar de vez no mundo do cinema, Líbero chegou a começar uma carreira como contador, chegando a gerente de um banco no interior de São Paulo. Ele largaria a carreira bancária para se dedicar ao cinema, mas, “desiludido com as dificuldades de produzir filmes no Brasil, retornou à atividade de bancário como subgerente do Banco Suiço Brasileiro”, lembrou o pesquisador.
Mas sua paixão pelo cinema não o permitiu ficar com os números e distante das telonas. Logo, Líbero retornaria às artes, ele foi contratado em 1931 para registrar a expedição de Carlos de Campos que tinha como objetivo chegar à Amazônia sendo inclusive financiada pelo Banco Noroeste, onde Líbero trabalhava. Chamado como fotógrafo para registrar toda a expedição, decidiu então captar imagens de vídeo da paisagem, com o intuito de produzir um futuro documentário sobre a paisagem natural do Brasil até a Amazônia.
Um paulista na Amazônia
Chegando ao Pará no final dos anos 1930 para filmar um congresso de medicina. Logo o cineasta estaria envolvido na política do Estado, ele seria convidado por Magalhães Barata para trabalhar produzindo material visual para ser exibido em alguns cinemas da capital sobre a vida e atuação pública do político paraense. Sua proximidade com a área levou Líbero ao cargo de Deputado Estadual e seu último trabalho com Barata foi a filmagem do funeral do interventor.
Foto: Reprodução
Em terras parauaras, Líbero é considerado como pioneiro na realização de longas-metragens, com atores e técnicos paraenses, chegando a montar um estúdio e um pequeno cinema em parceria com Félix Rocque, na Avenida Nazaré. A história do cinema paraense considera que sua filmografia valoriza a cultura paraense desde o roteiro, a trilha sonora com trabalhos em parceria com o maestro Waldemar Henrique e o compositor Paulo André Barata. Uma obra extensa que hoje compõem o acervo do Museu da Imagem e do Som do Pará.
Foto: frames de Um Dia Qualquer, de 1965. Líbero Luxardo. Carlos é casado com Maria de Belém e, ao perder a esposa, que morre ao dar à luz o primogênito do casal, passa a vagar pela cidade de Belém, num dia qualquer. As imagens se sucedem contando o cotidiano da cidade, nos bares (A Maloca – onde acontece uma cena de estupro), nos tipos de transporte urbano – onde se vê o trânsito da Av. Presidente Vargas, invertido, as praças da República e Batista Campos, igarapés próximos da cidade, a feira de Ver-o-Peso, o cemitério da Soledade, a igreja do Carmo e um terreiro de Umbanda. Fonte: Cinemateca Paraense.
Líbero já tinha uma vasta experiência no mercado cinematográfico, mas aqui ficaria conhecido pelos inúmeros documentários jornalísticos que produziu, os cinejornais. Uma série de obras exibidas nos cinemas da cidade foram anunciadas pelos jornais como reportagens. Tratavam de assuntos diversos, mas principalmente sobre a paisagem da região e a política, principalmente focada em Magalhães Barata.
“Nos poucos !filmes do período divulgados na imprensa, Magalhães Barata é uma !figura central: o de julho de 1956 trata de sua chegada e posse no governo do Estado; no seguinte, de outubro de 1957, recebe o Presidente de Portugal Craveiro Lopes no Palácio Lauro Sodré, como se pode constatar no trecho utilizado em Perde o Pará o seu grande líder. Barata também está presente na edição nº 3 de 1959 do Amazônia em Foco, participando da inauguração de uma escola que recebera seu nome”, destacava a professora e pesquisadora do Instituto de Ciências da Arte em sua pesquisa publicada em 2015.
Num seringal na floresta amazônica, domina João Capataz, um negro forte e violento, que vive maritalmente com uma cadela. Entre os seringueiros, o mais infeliz é Inácio, cuja esposa fora espancada até morrer por três degenerados que tentavam violentar sua filha, que, traumatizada, perdeu a fala. O sonho de Inácio se resume em arranjar dinheiro para levar a filha a um médico na cidade. O destino ainda está contra Inácio e até sua filha lhe é arrebatada por João Capataz. Mas Deus acaba punindo Capataz e faz Inácio e sua filha ressurgirem para um mundo de esperança.
Foto: Cartaz do filme “Brutos e Inocentes” de Líbero Luxardo, 1973. Sinopse: Cinemateca Paraense.
Líbero Luxardo, a “sala mais charmosa de Belém”
Libero ficaria em Belém até o fim de sua vida. Mas durante todo esse percurso ele produziu obras que marcaram o cinema paraense. Hoje, Líbero batizada a “Sala mais charmosa da cidade”, um cinema fora do circuito comercial que funciona no Centro Cultural e Turístico Tancredo Neves (Centur), no bairro de Nazaré, em Belém.
Foto: Logo Cine Líbero Luxardo. Centur
Com seus 86 lugares, a sala de exibições foi fundada em 1986 como uma estratégia de promoção e difusão do cinema. Com obras nacionais e internacionais em cartaz , o Cine Líbero, ou “a sala mais charmosa da cidade” como no seu slogan, conserva o estilo arquitetônico de outrora com suas paredes forradas em lambril e os cartazes dos filmes exibidos ainda impressos nos quadros na parede do seu hall de entrada.
Foto: Agência Pará