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Por Marcos Melo (Especial para o Portal) | Foto: Júlia Mataruna

A cantora, compositora, escritora e atriz, Letrux, apresenta-se pela primeira vez no Teatro Estação Gasômetro, em Belém, nesta sexta (23), às 20h. O show terá ainda a participação da cantora paraense Aíla e será apresentado pela drag queen Tristan Soledade. Os ingressos estão disponíveis pelo Sympla, a partir de R$40.

Essa é a primeira vez que Letrux se apresenta em Belém com seu próprio show. A turnê “Letrux Como Mulher Girafa” já passou por diversas cidades, como Rio de Janeiro, São Paulo, Goiânia, Belo Horizonte, etc, e foi muito bem recebida pelo público e crítica. O show conta com direção musical da própria artista, junto com ela no palco, está sua banda formada por Arthur Braganti (teclados), Navalha Carrera (guitarras), Jessica Zarpey (percussão), Thiago Rebello (baixo) e Lourenço Vasconcellos (bateria).

Entusiasmada com a possibilidade de ter um contato maior com seu público na capital paraense, Letrux concedeu uma entrevista especial para o Portal Jambu onde falou sobre sua vida, sexualidade, família, seus discos, sua admiração pela cantora Dona Onete e pelo carimbó – que para ela é tão a cara do Brasil quanto o samba – e sobre a importância de utilizar a arte também como um espaço político.

O que é ser mulher para Letrux?

É uma pergunta difícil porque nasci mulher e me reconheço mulher, mas nem por isso é fácil ser mulher num país onde todos os dias uma mulher é assassinada. Ser mulher é se emocionar, ser aberta à emoção, se permitir emocionar. Ser forte com a emoção. E isso faz muita diferença na minha vida. Eu sempre fui uma pessoa fora de curva, desde criança. Eu sempre fui muito alta, então mesmo quando eu queria passar despercebida, eu não conseguia. Eu sempre fui uma pessoa muito específica. Já sofri preconceito por ser uma mulher bissexual, por ser mulher.

O que é ser uma ‘mulher girafa’ e o que te inspirou para esse nome do álbum?

Então, como eu sempre fui muito grande, eu sempre fui muito observadora. Acho que toda a minha composição – eu também sou escritora – tudo vem de eu ser uma pessoa observadora. E acho que a girafa, na minha interpretação, ela é o animal mais observador, porque ela é muito grande, ela tudo vê. E eu como tudo vejo, eu tenho essas ‘sacações’, meu trabalho é muito de percepções.

Foto: Julia Mataruna

O que a Letícia aprendeu com a Letrux e o que a Letrux aprendeu com a Letícia?

Eu, Letícia, aprendi com a Letrux a ser mais destemida. Porque o palco é um lugar muito permissivo, é até perigoso. No palco pode tudo, é um perigo. As pessoas estão te aplaudindo, olha que perigo, que sedutor. E eu, Letícia, ensinei para a Letrux a ter calma. Eu sou uma pessoa mais cautelosa, e se eu deixar o fogo do palco me consumir, já era. A Letrux tá lá pegando fogo e eu internamente fico ‘Letícia, respira, e lembra da terra. A gente é ser humano, a gente é carne e osso’.

Há um tempo, você comentou sobre um período em que teve receio de falar da sua sexualidade. Como lida com isso hoje?

Eu tenho 42 anos, muito anos de análise, então eu cheguei num lugar em que me sinto mais à vontade com a minha sexualidade. Acho que sempre fui uma mulher bissexual, mas vivi uma heterosseuxalidade compulsória. Daí teve uma hora que eu falei ‘vamos analisar isso aqui?’. Desde a infância e adolescência, eu sempre me achei bi, mas não achava isso possível, achava que tinha que escolher. E não, mesmo que você nem se relacione com uma pessoa do mesmo sexo, mas você se reconhece, você é uma pessoa bissexual. Tem uma música no nosso primeiro disco, chamada ‘Que estrago’, que fiz com uma grande amiga poeta lésbica, Bruna Beber. Essa música virou um hino das mulheres sapatões.

Você avalia ser importante que artistas LGBTQIA+ se posicionem e falem abertamente de temas como gênero e sexualidade?

Eu acho que sim porque a vida, ela não é solitária. Eu acho muito importante as pessoas falarem sobre isso, sobre sexualidade, sobre política. Sempre admirei artistas que eram sinceros nesse assunto, não que eu precise saber muito da vida pessoal das pessoas que eu admiro. Mas eu acho muito bom quando o artista fala sobre isso. Quando eu ver entrevista, eu prefiro ver uma galera mais prolixa, filosofando.

De onde surgiram os nomes e o que cada um dos teus álbuns significa pra ti?

O primeiro, ‘Letrux em noite de climão’, esse nome veio de uma loucura que eu e Arthur Braganti, meu melhor amigo e guitarrista da banda, ele e a Navalha Carrera, a guitarrista, produziram o ‘Climão’ e o ‘Aos prantos’. Daí aconteceu uma coisa muito engraçada que a gente ficou: ‘Caraca em, mó noite de climão’. E aí virou essa coisa de ‘Letrux em noite de climão’, eu me coloquei em um estado. E depois de ‘Climão’, que foi como um furacão na nossa vida, eu falei: “Gente o que eu posso fazer depois do climão? Eu só posso chorar”, daí veio o ‘Aos prantos’. E depois do ‘Aos prantos’, veio a pandemia, loucura, eu falei nossa acho que eu preciso chamar meu animal guia, porque foi tão difícil a pandemia que agora só virando bicho mesmo. Então eu botei em três estados, o climão, o de lacrimação e um estado animalesco.

Você está vindo pela primeira vez à Belém com um show solo. É diferente de vir num festival?

Tem um bafafá que eu adoro de festival, mas os festivais estão com um tempo muito curto para cada banda. Então, quando a coisa começa a ficar boa, tem que acabar. Eu gosto das coisas mais profundas, mais intensas, então fazer um show solo com mais tempo, você consegue mostrar o que é realmente o seu show. Eu adoro esse momento, sou muito de bater papo com a plateia.

Foto: Julia Mataruna

Agora vamos falar de sonoridade amazônica. Quais artistas da Amazônia tu já conhece? E tem algum que queiras fazer uma parceria?

A Dona Onete é muito maravilhosa! Acho que o pessoal do sudeste teve maior contato com a música do Norte quando a Dona Onete viralizou muito pra gente, principalmente no Rio de Janeiro. E aí ficou esse bafafá de ser uma senhora fazendo esse som maravilhoso – e treme e treme – e a gente assim, nossa que coisa genial. Isso foi um barulho muito forte e eu fiquei assim “nossa, o Brasil é enorme!”. E que absurdo que a gente não tinha noção disso no sudeste, principalmente no Rio de Janeiro. Porque eu acho que o Rio é muito esse eixo Rio-São Paulo. Eu lembro que eu pensei que (o som de Dona Onete) é muito mais latino, do que a gente imagina que seja a música latina, do que o samba. Isso podia ser muito mais símbolo do Brasil quanto o samba. A Aíla é muito maravilhosa. Acho ela criativa, muito diferente, os clipes dela são instigantes, ela é muito caprichosa, tem um cuidado estético.

O show terá participação da cantora paraense Aíla. O que podemos esperar?

Eu e a Aíla já nos seguíamos nas redes sociais e coincidiu de estarmos juntas no mesmo evento no Sesc Ribeirão Preto e daí eu falei “bora juntar” e a gente cantou ‘Que Estrago’ juntas. Sendo o meu show, dá tempo da gente montar uma cena, elaborar a participação. A gente vai preparar uma surpresa bem bonita, bem gostosa e vai ser divertido.

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