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Da Redação | Fotos: Acervo do Projeto Memória e Cultura Periférica

O projeto “Memória e Cultura Periférica” lança hoje, quarta-feira (21), a revista “Vozes”, às 19h, em um quiosque em frente a unidade de saúde da Vila da Barca com a participação do grupo de carimbó “Carimbó Daqui”. A revista é fruto das oficinas de escrita criativa, fotografia, edição e diagramação mobile ofertada aos jovens da comunidade ao longo do primeiro semestre deste ano.

O projeto “Memória e Cultura Periférica” surgiu em 2021 como uma demanda da comunidade. Com o avanço e as perdas ocasionadas pela pandemia de Covid19, o projeto surgiu como uma forma de reunir, organizar e salvaguardar elementos da história e da memória da comunidade, informa o responsável pela iniciativa, o professor e pesquisador Kelvyn Gomes.

“Os editais públicos de incentivo e emergência cultural foram fundamentais na pandemia para garantir e viabilizar esse tipo de projeto. Aqui na Vila, tivemos perdas consideráveis para a história e a memória da comunidade, então era importante, naquele momento, encontrar um jeito de garantir que esse material, documental e humano, não se perdesse”, explica o pesquisador.

Como resultado, o projeto conseguiu formatar um acervo com mais de 500 documentos, entre fotografias e recortes de jornais, doados pelos próprios moradores. Além do acervo digital, já que não havia a possibilidade de criar um espaço físico, resultaram das atividades outros produtos como um roteiro geo histórico da comunidade e trabalhos apresentados em seminários e eventos como a 26ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes. “A participação na feira do livro foi linda. Além de apresentar os resultados do projeto, um grupo de carimbó aqui da comunidade fez uma apresentação cultural incrível. Era um domingo de manhã, e o auditório ficou lotado, todo mundo dançando e até se emocionando”, lembra o coordenador do projeto.

Kelvyn explica que como as atividades demandam investimentos financeiros advindos principalmente de editais públicos, já que os projetos não contam com recursos próprios e nem captam recursos privados, desde a conclusão da primeira etapa até agora, as atividades continuaram de forma localizada. Mas, no ano passado, com a abertura de novos editais, o projeto pôde ser retomado e ampliado.

“A Lei Aldir Blanc e agora a Paulo Gustavo reacenderam o setor cultural. Os recursos federais administrados pelas secretarias estaduais e municipais foram fundamentais para a retomada de diversos projetos, inclusive o nosso. Daí veio a possibilidade de ampliar a ideia inicial, inclusive garantindo bolsas de incentivo para os adolescentes envolvidos”, comenta o historiador.

A comunidade da Vila da Barca, localizada às margens da Baía do Guajará no bairro do Telégrafo, ficou conhecida nos noticiários locais, principalmente dos anos 1980 e 1990 como um lugar perigoso e de “ausências”, como conta o pesquisador. No entanto, essa história, reclamam os moradores, não é contada por eles e não condiz com a realidade e as potencialidades da comunidade. Inêz Medeiros, moradora da Vila da Barca e ex-presidente da associação de moradores chama atenção para a necessidade de garantir o direito dos moradores de manifestarem suas ideias, sendo protagonistas das suas próprias histórias.

“Durante muito tempo outras pessoas contaram nossa história e nos colocaram num lugar de sujeitos passivos, num lugar que não é o nosso. Apagaram nossas potencialidades, nossa cultura, nossa arte, nossas experiências”, alerta a líder comunitária.

Com a criação do acervo, muitas pautas foram organizadas e influenciaram outras atividades de projetos parceiros. Entre elas, a necessidade de que a própria comunidade contasse suas histórias e tivesse uma forma de compartilhá-las. “Contar e ser protagonistas das suas próprias histórias era uma demanda antiga de uma comunidade que sofre com o preconceito. Foi daí que surgiu o “Vozes da Vila”. Formar jovens moradores, novas lideranças, para que elas fossem capacitadas para isso. Então foram criados ciclos de oficinas de escrita criativa, fotografia e edição mobile, já que esses jovens vivem com celular na mão, e temas do contemporâneo como racismo, meio ambiente e relações de gênero, suscitados pelo acervo que nós já tínhamos organizado com imagens da fundação da associação de moradores, por exemplo, fundada majoritariamente por mulheres. Então, quem melhor que nós mesmos para contarmos essas histórias?”, questionou Kelvyn Gomes, coordenador do projeto.

A partir das oficinas realizadas na sede da Barca da Literária, projeto parceiro da iniciativa, e de andanças pela comunidade e pelo entorno, os jovens levantaram temas de seu interesse e sensíveis às suas realidades para produzir o material que será apresentado na revista lançada nesta quarta-feira, 21 de agosto. “Eu mesma tinha vergonha e certo preconceito com a comunidade até começar o projeto. Circular e observar a Vila orientada pelas ideias que compartilhamos nas aulas me fez ver uma outra Vila”, conta Tiffany Medeiros, uma das adolescentes envolvidas na produção da revista.

Já na sexta-feira, 23, o grupo participa de uma roda de conversa sobre o projeto e apresentar a revista no estande da Fundação Cultural do Pará na 27ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes, às 16h.

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