Por Giullia Moreira
Como esquecer uma figura tão icônica da cultura popular brasileira como a Dona Hermínia? A personagem, criada pelo comediante Paulo Gustavo em homenagem à sua mãe Déa Lúcia, arranca inúmeros sorrisos do público brasileiro há quase duas décadas nos filmes e peças de teatro. Em Belém, a figura icônica é interpretada pelo ator e jornalista Danilo Couto, que possui uma relação singular com a personagem e o trabalho de Paulo Gustavo.
Após três temporadas de sucesso na capital paraense, Danilo retorna aos palcos como Dona Hermínia em mais uma apresentação da peça de teatro “Minha mãe para sempre uma peça”. Confira a seguir a entrevista realizada com o artista, que neste sábado (8) se apresenta no Teatro do Sesi.
Danilo, conta pra gente como surgiu essa admiração pelo Paulo Gustavo?
Olha, essa admiração surgiu lá em 2013, quando eu assisti pela primeira vez o filme “Minha Mãe é uma Peça”. Eu fiquei encantado pelo personagem. Aí eu assisti, assim, como quem não quer nada, sabe? Duas semanas depois, eu já estava imitando os trejeitos da voz da Dona Hermínia, brincando tipo assim: “Marcelina, não sei o quê, etc…”. Até o momento, eram só brincadeiras de imitação com meus amigos do ensino médio, minha família, enquanto o personagem estava começando a ser conhecido pelo filme. Daí eu fui pesquisar quem era o Paulo Gustavo, ver os trabalhos dele, e me encantei toda a atmosfera e universo únicas do Paulo, que era muito mais do que a Dona Hermínia. O Multishow tinha um um quadro na internet que era “Paulo Gustavo na Estrada” e eu comecei a seguir ele no Facebook, e desde lá eu o acompanhei direto. Então, já sou fã dele há dez anos.
Como se iniciou o seu interesse pelas artes cênicas?
O meu interesse pelas artes se deu no segundo ano da minha faculdade. Eu sou formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Pará e até o momento queria ingressar no jornalismo. Só que no segundo ano, me deu um “start” de querer fazer artes, teatro, por essa questão da comédia, de imitar vozes, fazer comédia, humor, que era algo restrito à minha família e amigos, e as pessoas falavam “Cara, tu tem talento. Por que tu não faz teatro?”. E eu passei a pensar nisso. Aí descobri a Casa de Artes Tiago de Pinho, onde já estudo há cinco anos, e depois fui procurar um curso profissionalizante também. No final de 2021 eu passei pro curso técnico em Teatro, na UFPA, e continuo no Tiago de Pinho até hoje. Em resumo, foi a comédia, o humor e o fazer graça com o outro que me levou aos caminhos do teatro.
De que forma acompanhar o trabalho do Paulo, enquanto fã, te ajudou no seu desenvolvimento enquanto ator?
Acompanhar o trabalho do Paulo Gustavo me ajudou muito na construção do meu desenvolvimento enquanto ator porque eu sempre achei ele muito inspirador. Ele é minha inspiração até hoje, né? Porque no teatro a gente tem isso de ser ridículo, a gente não tem que ter medo de ser ridículo, a gente tem que se despir de vaidades mesmo, não tem que parecer bonito o tempo todo. A gente tem que se jogar e principalmente na comédia, então o Paulo Gustavo me ajudou muito nesse quesito. Eu vi um espelho nele, algo que ainda não tinha visto no Brasil, sabe? Um cara que coloca uma peruca, coloca um vestido, faz graça com convicção e com qualidade. Não é algo que seja caricato ou que possa ser feio, é uma coisa boa, profissional, bonita. A partir disso, eu disse “égua, eu acho que eu posso fazer isso também”. Em 2018, teve um curso de férias lá no Tiago de Pinho, e eu fiz teste pra personagem no espetáculo “Minha Mãe é uma Peça” e passei. E a partir de quando eu fiz a Dona Hermínia, que foi meu primeiro protagonista da minha carreira, foi que eu desembestei com o papel, com essas questões da vaidade, de me despir, me jogar, de me expor na internet, colocar uma peruca, de conversar, de fazer vídeos de humor, sem medo de errar. Então, Paulo Gustavo me inspirou muito dessa forma, com coragem, sabe? De fazer as coisas sem medo do que o outro vai pensar e com a convicção de que eu vou conseguir cativar os outros. Acho que ele me ajudou muito nesse desenvolvimento… Hoje em dia, eu sou muito diferente do Danilo de lá de quatro anos atrás, que era tímido. Hoje sou uma pessoa totalmente pra cima, que fala, não está nem aí. Se tu pedir pra eu sair de Dona Hermínia no meio da rua eu saio e não estou nem aí pra que os outros falam, então foi essa a inspiração que o Paulo deixou pra mim.
Como é o seu processo de estudo de personagem e ensaios para as peças?
É comigo mesmo. Eu faço esse processo de ensaios em casa mesmo, porque boa parte do espetáculo é só eu. Eu tenho esse trabalho de tirar um horário do dia, de 19h às 22h, pra trabalhar nas coisas. Eu escrevo o roteiro também e ensaio muito em casa. E eu marco outros ensaios com os atores, que fazem os meus filhos, duas vezes na semana. Eu costumo dizer que o meu diretor é o próprio Paulo Gustavo porque muitas ações físicas foi ele quem me ensinou através dos vídeos, que eu vou assistindo e tentando reproduzir da minha forma.
O gênero humorístico é o seu favorito no teatro?
Sem sombra de dúvida. Eu já nasci com isso, com a veia cômica. Às vezes eu falo algo sem pretensão de ser engraçado e eu faço os outros rirem. Eu acho que é isso o que me move, eu tenho essa necessidade de rir e fazer o outro feliz. Se eu puder viver só de comédia, eu vivo só de comédia.
O espetáculo “Minha mãe é uma peça pra sempre” teve uma grande receptividade do público, aqui em Belém. Como você se sente vendo esse sucesso grandioso?
Me sinto extremamente honrado de ter essa receptividade do público, porque a gente sabe que a Dona Hermínia é um personagem de respeito, que modéstia à parte não é fácil de interpretar. Eu acho que mais que interpretar, é preciso saber cativar o público, então não é apenas sobre ter uma voz parecida, mas é ter um trabalho de corpo, um contato com o público, e se sentir à vontade. Eu fico muito feliz, porque as pessoas gostam, e é um imenso prazer voltar aos palcos interpretando essa figura.
Na sua visão, qual o legado que o Paulo Gustavo deixou para a arte no Brasil?
O legado que o Paulo Gustavo deixa pra gente é a questão do respeito mesmo, sabe? Do respeito ao próximo, do amor ao próximo através da risada e de falar através de ações que nós amamos alguém. Quais gestos que o Paulo Gustavo fez? Fazer esses filmes, fazer essas peças, que podem ser comédia mas possuem ali uma pegada social muito importante. Enquanto homem gay que teve filhos, constituiu uma família, ele jogou muito isso pra televisão, pro humor, pra comédia, pros filmes, né? Para que o público pudesse abraçar essas coisas, coisas que muitas pessoas carregavam preconceitos sobre e que tiveram uma mudança de pensamento quando elas foram para as salas de cinema. Então eu acho que esse é o legado que ele deixa pra gente, de ter mostrado o respeito, a representatividade, o amor ao próximo através da arte, através da comédia. É algo que vai perdurar por muitos e muitos anos porque ele, assim como a personagem, viraram uma lenda.
Para você, qual a importância do incentivo à arte e cultura no Pará? E como a sua experiência no teatro tem transformado a sua vida?
O incentivo à arte é de extrema importância. Inclusive, tem aí a lei Paulo Gustavo, que incentiva pequenos artistas a a empreenderem e a alavancar os seus negócios, a fim de atingir o maior número de pessoas. A nossa principal dificuldade, enquanto classe artística, é a financeira. Existem muitas ideias que por conta da questão financeira não são levadas pra frente; e quando são, não há uma receptividade tão grande. A gente tem que ralar mesmo, divulgar e tal, expor para as pessoas pra que a gente possa ter uma notoriedade. Já sobre a minha experiência com teatro, ele tem transformado a minha vida de diversas formas. Porque esse meio tem aberto muitas portas pra mim no quesito profissional, o que pra mim não é o suficiente, porque eu quero abrir portas, janelas, paredes, construir uma casa, enfim. Mas o teatro tem me ajudado bastante em toda a minha vida, não só no setor de trabalho, mas na vida pessoal mesmo. Tenho me sentido uma pessoa muito mais leve, muito mais compreensiva, muito mais tudo. É isso.
Você pode acompanhar o trabalho de Danilo Couto no Instagram @dan.couter. O espetáculo “Minha mãe para sempre uma peça” acontece hoje (8), às 20h, no Teatro do Sesi. Não perca essa oportunidade!
Serviço: Espetáculo “Minha mãe para sempre uma peça”
Dia: 8 de abril;
Hora: 20h;
Local: Teatro do Sesi (Almirante Barroso, 2540);
Ingressos: Teatro do Sesi (Almirante Barroso, 2540) ou www.tiagodepinho.com;
Valor: R$60 inteira e R$30 (Meia promocional para todos);
Foto de Capa: Karol Lima