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Por Felipe Vilhena*

Vindo de duas outras peças, “Nártex” compõe a chamada Tríade Divinal e terá seu segundo dia de exibição neste domingo, dia 21, no Espaço das Artes de Belém, com ingressos já esgotados. Mesmo assim, falamos com o responsável pela direção e iluminação da peça e um dos fundadores da Cia Paraense de Potoqueiros, Breno Monteiro, para saber um pouco mais sobre essa apresentação que chama atenção pelo aspecto visual mostrado nas imagens de divulgação e por um questionamento que intriga os que procuram a respeito: A quem se destina o paraíso?

Nesse espetáculo, o foco é sobre os excluídos ou os chamados “indignos”, remetendo às estruturas arquitetônicas chamadas de “Nártex”, dedicadas às pessoas não admitidas a entrar nos templos, como mulheres, pecadores, impuros e não batizados. Porém, esse espaço poderia ser chamado de “paraíso”, o que acaba conversando com a ideia de pertencimento dos excluídos que a obra busca discutir.

Fique, em seguida, com a nossa entrevista sobre a peça:

 

De onde surgiu a ideia de fazer uma trilogia que adaptasse a tão conhecida Divina Comédia, de Dante?

Na verdade, a obra apareceu em meio a um processo de pesquisas para a montagem de um outro espetáculo. Quando nos deparamos com a obra, vimos as diversas possibilidades de se fazer um espetáculo, mas vimos que era muita coisa para fazer e falar em apenas um, então veio a ideia da trilogia. E também vimos que muito se falava da obra em relação aos primeiros 33 cantos da obra, que se relacionam com o inferno, mas o restante da obra, pouco se conhecia.

 

Como foi a organização para vocês conseguirem o Espaço das Artes de Belém?

O Espaço das Artes de Belém é um espaço alternativo artístico cultural que é sede da Companhia Paraense de Potoqueiros, então sempre que possível, temos temporadas dos espetáculos de repertório da cia, assim como de outras cias e grupos da cidade.

 

O que vocês desejam alcançar com essa história? Não só com essa peça, mas com a trilogia como um todo.

A trilogia traz muitos questionamentos sociais, que são de extrema importância. Em “Lúgubre”, o primeiro espetáculo, trazíamos críticas sociais e a reflexão de “quem é você?”. Em “Catarse”, embarcamos nos 7 pecados capitais, mas de uma forma um pouco diferente do que normalmente vemos sendo contextualizados. Já em “Nártex” trazemos o grito do excluídos e o questionamento sobre o real pertencimento do céu.

 

O que vocês mais destacariam sobre a primeira apresentação no dia 14? E a recepção do público, como foi?

Foi possível ver que as pessoas estavam sentindo a agonia e ânsia dos personagens, vimos pessoas chorando e sentindo as dores representadas. Acreditamos ter tocado de uma forma muito necessária o público e, com toda certeza, provocamos algum tipo de reflexão em suas mentes.

 

Vimos que vocês fizeram as duas partes anteriores de forma remota. Vocês sentiram dificuldade em transportar a experiência presencial do palco para uma câmera?

Na verdade, o espetáculo “Nártex” foi o único que foi feito sem a presença do público, ele foi construído em meio ao período pandêmico. O espetáculo foi contemplado no edital da Lei Aldir Blanc. Os outros dois espetáculos da trilogia foram apresentados ao público. O “Lúgubre”, criado em 2017, teve diversas apresentações, teve ensaio aberto no Casarão Viramundo, dentro do projeto Circular, teve 3 temporadas, uma no Teatro Universitário Cláudio Barradas, uma no Museu do Estado do Pará, que contou com apresentações para alunos de escolas públicas, e outra na antiga casa do Espaço das Artes de Belém. Participou também de festivais, inclusive foi apresentado de forma híbrida no Festival Nilza Maria, com um público pequeno, devido à pandemia, e exibido de forma online. “Catarse” teve a primeira temporada em 2019, no Teatro Universitário Cláudio Barradas, na sua segunda temporada, já foi feita de forma casada. Entre “Lúgubre” e “Catarse” seriam 3 finais de semana de apresentação, porém só foi apresentado em um, devido ao início do primeiro lockdown da Covid-19.

 

É preciso ter visto as outras duas partes para ir assistir a que está sendo apresentada agora?

Apesar de ser uma trilogia, nos preocupamos em serem 3 espetáculos independentes, claro que tem elementos que ligam um espetáculo ao outro, mas mesmo quem não assistiu os anteriores, consegue entender o que está sendo apresentado em cada um deles.

 

O que vocês diriam para as pessoas que não puderam ver a peça, mas que tem vontade de ir ver? Vocês planejam fazer outras apresentações no futuro?

Para as pessoas que não puderam assistir, haverá outras apresentações logo mais, além da trilogia, dos outros espetáculos da Cia. Essa é uma temporada de preparação para a união dos 3 espetáculos em 1 só, será um espetáculo mais longo, com um elenco maior, queremos que todos os atores e atrizes que passaram pela trilogia façam parte de alguma forma.

 

Caso tenha se interessado na peça, fique de olho no Instagram da Cia Paraense dos Potoqueiros ou do Espaço das Artes de Belém para sessões futuras que abrirão conforme a demanda.

 

Foto de capa: Everton Pereira

O Portal Jambu é um espaço de jornalismo experimental com matérias produzidas por estudantes de graduação da Faculdade de Comunicação da UFPA sob a coordenação da Profa. Dra. Regina Lima e do jornalista Marcos Melo.

*Sob supervisão da jornalista Giullia Moreira.

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