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Por Wander Lima | Foto: Djan Rocha

Com o título de “ maior Festival de Carimbó do Brasil”, um movimento que pretende situar a produção cultural de Irituia como protagonista na região nordeste do Pará,  a cidade  realiza de hoje até o dia 19 de janeiro, a 23ª edição do Festival de carimbó, com a participação de mestres e grupos de carimbó de todo o Pará. De acordo com a assessoria de comunicação do município, o Festival do Carimbó de Irituia é historicamente o maior em termos de público, em investimento e também em número de atrações por noite. É o único festival em que se toca apenas carimbó.

A programação deste ano conta com 25 grupos musicais e é encabeçada por grandes nomes como Mestre Damasceno, Lia Sophia e Pinduca. A carreira de Pinduca, inclusive, tem forte relação com o carimbó de Irituia. Em 2017, o artista revelou que foi após presenciar uma festa de carimbó pau e corda no município, na década de 1980, que decidiu dedicar-se ao ritmo que lhe rendeu a alcunha de rei. “Uma alegria contagiante”, definiu Pinduca, que na época estendeu sua estadia na cidade para aprender tudo o que podia com os mestres locais.

A presença de Pinduca como atração do Festival já se tornou tradição, o que rendeu ao mestre de carimbó o título de cidadão irituiense, em 2020. No entanto, para além dos artistas de renome, o Festival é historicamente caracterizado pelo protagonismo de grupos do próprio município, responsáveis por fomentar a valorização da cultura irituiense ao longo de todo o ano, dentro e fora da cidade, com formações plurais, como o grupo Raízes de Irituia, formado por jovens, o grupo Moça Bonita, integrado por mulheres, e os grupos quilombolas Os Desafinados e Os Paqués.

Apesar de ser iniciado no começo dos anos 2000, o Festival do Carimbó de Irituia tem origem em celebrações que remontam ao século XIX, com contribuições da paróquia local e da população negra quilombola do município, uma história que reforça a importância deste ritmo para a identidade dos cidadãos locais.

As edições do Festival somente passam a ser numeradas quando a prefeitura assume a organização do evento, realizando a festa em local público, no centro da cidade, e incorporando símbolos e tradições, como o característico barracão de palha e as cerimônias de transporte, implantação e derrubada do mastro do evento. Uma curiosidade é que até mesmo o modo de dançar carimbó durante o Festival possui características únicas. Os movimentos são livres, pouco coreografados, e quando performado em grupo, especialmente dentro do barracão, ganha um movimento quase que instintivo de roda no sentido anti-horário.

Para André Silva, integrante do grupo quilombola Os Paqués, confirmado para esta edição, a expectativa para este ano é grande. “Embora seja o poder público que hoje organize a festa, a festa é do povo. As atrações nacionais e regionais são secundárias, independente delas o Festival será um sucesso porque é um evento popular”, afirma. Os números nas redes sociais corroboram a afirmação de André. A cada ano, o volume de vídeos virais do Festival aumenta. Um vídeo do blogueiro Italo Monteiro (@itumonteiro), divulgando a edição de 2024 do evento, figura no TikTok com mais de 800 mil visualizações e é apenas um exemplo entre vários.

Ao comentar sobre suas motivações para produzir vídeos sobre o carimbó, Italo abre o coração. “Eu sou um amante da cultura de Irituia. Quero mostrar pras pessoas que isso acontece na minha cidade, para que elas conheçam, para que venham visitar”, revela o blogueiro. “Nasci em Belém, mas fui criado aqui. Danço carimbó desde menino novo. Desde a infância que tenho essa paixão pelo carimbó e por essa cidade”, completa.“No mês de janeiro, à Irituia eu vou. Pra festa de São Benedito, morena, que é nosso protetor”, diz a letra de um dos carimbós mais reproduzidos na cidade, entoado por muitos que resolveram deixar o município para desbravar outras oportunidades e anseiam um retorno. É o contraste e complemento perfeito para o hino de Irituia, que abençoa seus filhos e vislumbra a propagação de suas tradições fronteiras afora. “De Irituia para o Pará. De Irituia para o Brasil. De Irituia para o mundo”.

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