Portal Jambu

Por Kelvyn Gomes/Imagem: Divulgação

O Instituto Letras que Flutuam (ILQF) completa seu primeiro ano de atuação como a primeira instituição do Brasil dedicada exclusivamente à cultura ribeirinha amazônica. Para marcar a data, comemorada neste sábado, 31, o Instituto lança oficialmente seu portal online sobre a arte gráfica popular amazônica, além de promover uma live comemorativa e dar início a uma campanha de financiamento coletivo.

A celebração também faz alusão aos 15 anos de pesquisa e articulação em torno de uma arte centenária, muitas vezes invisibilizada, a dos abridores de letras, artistas responsáveis por transformar pequenas embarcações da Amazônia em obras flutuantes, com letras pintadas à mão, paisagens e mensagens que traduzem a identidade visual dos povos ribeirinhos.

No ar a partir de hoje, o portal do ILQF funcionará como um repositório gratuito de conhecimento, reunindo centenas de imagens, documentários, entrevistas, perfis biográficos e estudos sobre esses artistas populares. “Mais do que uma vitrine, o site é um espaço de reconhecimento direto aos mestres e mestras, com perfis próprios e conexão com o público. Ele representa o que o Instituto se tornou: um lugar de encontro, preservação e projeção de saberes coletivos”, afirma Fernanda Martins, presidenta e idealizadora do Instituto.

Campanha de financiamento coletivo

Com o lançamento do portal, o ILQF dá início também a uma campanha de financiamento coletivo, com contribuições a partir de R$25 mensais. Os recursos arrecadados garantirão a continuidade do trabalho do Instituto, incluindo suporte direto aos artistas, manutenção do acervo e novas ações de formação. “O futuro dessa tradição depende de políticas públicas de valorização, mas também do engajamento popular. A campanha é uma forma concreta de participação: com R$ 25 por mês, é possível colaborar para a transformação da realidade de mestres que mantêm viva essa arte centenária”, reforça Fernanda.

A live de aniversário será transmitida pelas redes sociais do Instituto a partir das 19h, com participação de abridores de letras, pesquisadores e apoiadores da causa. Um momento de celebração, mas também de reafirmação do compromisso de projetar a cultura gráfica ribeirinha da Amazônia para o mundo, com dignidade e visibilidade.

Um marco contra o apagamento cultural

A prática dos abridores de letras surgiu por volta da década de 1930, com a obrigatoriedade da identificação nas embarcações brasileiras. Com o tempo, a exigência técnica se transformou em expressão artística. Desde então, as letras desenhadas à mão, paisagens amazônicas e dizeres poéticos passaram a fazer parte do cotidiano visual das comunidades ribeirinhas. Hoje, estima-se que mais de 100 mil embarcações naveguem pela região, com as pequenas canoas e barcos de madeira sendo os principais suportes dessa estética singular.

Para Fernanda Martins, a arte gráfica ribeirinha deve ser valorizada com o mesmo peso que outras manifestações culturais da Amazônia. “A cultura visual, e dentro dela a representação gráfica, tem tanta importância quanto a música, a dança e a comida, pois reflete saberes que são exclusivamente locais”.

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