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A Festividade de São Sebastião, realizada anualmente em Cachoeira do Arari, município situado no arquipélago do Marajó, é um dos eventos mais esperados do ano na cidade. A celebração, que se estende por quase sete meses, entre julho e janeiro, começou com as peregrinações em julho e culmina nos festejos que iniciam amanhã,10, e seguem até o dia 20 de janeiro, quando se comemora oficialmente o dia do santo. 

Os festejos tornaram-se os eventos mais importantes para os municípios da Ilha do Marajó, representando uma combinação de fé, devoção e manifestações culturais, atraindo milhares de devotos e turistas, movimentando a economia local e reforçando as tradições religiosas e culturais de um povo profundamente ligado à sua história e à natureza que o cerca.

Por Kelvyn Gomes/Imagem: Agência Pará

A festa do glorioso

Localizada nas margens do Rio Arari, a cidade de Cachoeira foi criada a partir da expansão da colonização portuguesa e, desde então, carrega uma rica herança de influências externas, especialmente da religiosidade católica, que se solidificou na região por meio das missões religiosas no período colonial. As festas de santos, como a de São Sebastião, que começou com as peregrinações em julho e culmina nos festejos que iniciam amanhã, 10, e seguem até o dia 20 de janeiro, quando se comemora oficialmente o dia do santo, tornaram-se os eventos mais importantes para os municípios da Ilha do Marajó, representando uma combinação de fé, devoção e manifestações culturais.

Com a sua vivência religiosa marcada por peregrinações, esmolações, ladainhas, rezas e encontros nas fazendas e localidades, essas celebrações ganham uma característica única no Marajó, misturando o sagrado com o lúdico. Corridas de cavalos, leilões, festas dançantes e a comercialização de produtos diversos são apenas algumas das atrações que acompanham as festividades, atraindo um grande público de diferentes regiões da Amazônia e do restante do país.

São Sebastião, conhecido na região como o “glorioso São Sebastião”, é o santo padroeiro dos vaqueiros e fazendeiros do Marajó. Para a população local, ele é visto como um protetor dos animais contra doenças, secas, fome e inundações, sendo reverenciado com grande devoção. Sua imagem peregrina, que inicia sua jornada em julho, percorre diversas fazendas e localidades da região marajoara, incluindo outros municípios do arquipélago, como Santa Cruz do Arari, Ponta de Pedras, Chaves e Muaná, angariando doações em dinheiro e animais, como galos, cavalos e gado. Estes donativos são fundamentais para garantir a realização do festejo e, simbolicamente, a proteção das criações no período do verão.

Um santo peregrino

A peregrinação da imagem de São Sebastião é realizada por um grupo de “foliões”, uma comissão de quatro homens – o mestre-sala, o violeiro, o bandeireiro e o tamboreiro – responsáveis pela guarda do santo e pelas cerimônias nas fazendas. Ao longo da jornada, eles enfrentam o calor escaldante do sol marajoara e as chuvas torrenciais, marcando não apenas o tempo do verão e inverno amazônico, mas de devoção e fé que os une. Um aspecto curioso e profundamente simbólico dessa peregrinação é a “beijação” da imagem do santo, momento em que os devotos se curvam diante do padroeiro para pedir sua bênção e proteção.

Um dos momentos mais aguardados da festividade de São Sebastião é a preparação dos mastros, que simbolizam a união entre os devotos e o santo. Cada mastro, que pode medir até dez metros de altura, é erguido em honra ao santo e à comunidade. O corte dos mastros ocorre em novembro, com uma grande festa que envolve o trabalho conjunto de homens, mulheres e crianças da cidade. A derrubada dos mastros é marcada por alegria, com comida, bebida e música, além de um intenso clima de celebração.

A tradição do mastro começou em 1940, quando Raimundo Martins, devoto de São Sebastião, fez um pedido de graça ao santo e, ao ser atendido, organizou o primeiro mastro em sua homenagem. Posteriormente, a tradição foi ampliada com a introdução do mastro das mulheres e, mais tarde, o mastro das crianças.

Patrimônio Cultural, do Marajó para o Brasil

A importância da Festividade de São Sebastião de Cachoeira do Arari foi reconhecida em 2013 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), tornando-se um símbolo da resistência cultural da região amazônica.

A festa, que movimenta mais de 10 mil pessoas, possibilita uma imersão nas tradições do Marajó, unindo fé, cultura e o forte vínculo da população com a natureza.

As informações contidas nessa matéria foram retiradas do artigo “Festividade de Sebastião de Cachoeira do Arari: uma possibilidade para o desenvolvimento do turismo cultural na Ilha do Marajó” de Marinete da Silva Boulhosa.

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