Da redação
Assim como o samba, futebol e o carnaval, a capoeira é tida como um dos representantes da identidade cultural brasileira. Uma expressão própria dos povos africanos trazidos para o Brasil durante o período escravagista e que perdura até os dias de hoje. O mês de agosto é especial para esta forma de arte, pois em seu início, no dia 3, celebra o Dia do Capoeirista.
Segundo o Mestre Bola Sete. em seu livro “A Capoeira Angola na Bahia”, “não sabemos com certeza a origem da capoeira. Alguns mestres acreditam que foi uma criação dos africanos no Brasil. Entretanto, a maioria afirma que as raízes vieram da África, oriundas de antigos rituais. Acredito seja esta afirmativa provável, desde quando dela participam os mais antigos mestres baianos, descendentes de africanos”. Mesmo assim, o entendimento da capoeira como a manifestação que temos hoje é indissociável da chegada dos escravizados ao Brasil.
Para Carla Baía, em seu trabalho de conclusão de curso “Capoeira sou Eu: Trajetórias de uma capoeirista e sua formação acadêmica na dança”, a prática surge em território nacional através dos negros que buscavam um escape do trabalho a qual eles eram submetidos: uma mistura de brincadeira, dança, luta e ancestralidade. Depois de um tempo, os escravizados viram ela como forma de lutar ativamente contra a escravidão e para que a prática não fosse reconhecida como luta e proibida, foram implementadas nas rodas de capoeira as palmas, os cantos e os instrumentos, disfarçando assim a capoeira de dança.
Após a abolição da escravatura, a capoeira começou a ser praticada nas ruas e não apenas nos terreiros, porém a prática passou a ser mais malvista. Assim, capoeira se tornou crime de vadiagem, o que só mudou durante o governo de Getúlio Vargas, quando foi desconsiderada criminosa e assim se mantém até o atual momento.
Sítio Cultural Balanço de Maré – Em terras paraenses, a capoeira também possui importância e na região do Marajó não é diferente. Criado em 2020 por Frajola e sua companheira Juba, o Sítio Cultural Balanço de Maré é um projeto que utiliza da capoeira junto da permacultura para tentar suprir as necessidades das várias comunidades do Marajó. Para isso, eles contam com seus alunos para espalhar e praticar a ideias do projeto em suas próprias comunidades e trazer mudanças para os que residem nelas.
Frajola, co-idealizador, explica como o projeto tenta resgatar o protagonismo da Região Norte no cenário brasileiro. “O projeto é de suma importância, pois busca fortalecer a sociedade através da cultura afro-brasileira e amazônida, como ferramenta de transformação social, cultural e educacional, tendo em vista que as comunidades da região amazônica em sua maioria foram deixadas em segundo plano, gerando diversos problemas sociais”, afirma ele. Sua visão sobre o projeto apenas reforça esse histórico da capoeira como forma de luta e resistência contra as injustiças sociais, neste caso em forma de exclusão.
As atividades do Sítio abrangem duas comunidades de pescadores em Salvaterra, Água Boa e Joanes, sendo os dias de segunda, quarta e quinta-feira em Joanes e em Água Boa às sextas e sábados. As atividades incluem oficina de instrumentos, incentivo de boas práticas ambientais, atividades de reciclagem e eventos anuais. O Balanço de Maré também promove rodas de capoeira bimestrais na orla de Salvaterra para gerar diálogo com a capoeira de outras comunidades.
O Sítio Cultura Balanço de Maré visa poder trazer cursos e oficinas que possam agregar valor à comunidade de forma cultural, social e econômica. Para entrar em contato, basta buscar por @balancodemare nas mídias sociais ou através do número de WhatsApp: (91) 8181-1818.
Foto: Blue Images/Corbis.
O Portal Jambu é um espaço de jornalismo experimental com matérias produzidas por estudantes de graduação da Faculdade de Comunicação da UFPA sob a coordenação da Profa. Dra. Regina Lima.