Por Rafael Arcanjo | Foto: Agatha Felina, da série ‘Urucum’
O artista paraense Henrique Montagne inaugura sua nova exposição individual ‘Tybyras’, na Elf Galeria, nesta quinta-feira (12), a partir das 18h. A mostra parte do primeiro caso de LGBTFobia documentado no Brasil, datado de 1614, quando o indígena Tybyra do Maranhão foi brutalmente assassinado com um tiro de canhão pela inquisição católica, acusado de sodomia. Diante desta figura histórica, Henrique percorreu o Pará para explorar a diversidade LGBTQIAP+ amazônica.
Segundo o artista, o pontapé inicial para “Tybyra” surgiu a partir de 2022, quando ele começou a pesquisar sobre a figura Tybyra do Maranhão, para falar sobre esta personalidade invisibilizada da história do Brasil. “Desde 2022, eu venho com esse estudo em relação a figura do Tybyra do Maranhão, e também da ressignificação dessa figura importante para a história brasileira, invisibilizada por muito tempo e muitas pessoas não conhecem a sua história”, explica.
De acordo com Henrique, sua pesquisa passou pelo livro “Devasso Paraíso”, de João Silvério Trevisan, onde se tem uma pesquisa acerca da história LGBTQIAP+ no Brasil e sobre a história da diversidade no país. Em certos trechos, o livro aborda a diversidade dos povos originários, onde Tybyra se incluí, e, a partir de uma intersecção entre passado e presente, Henrique busca tentar escrever esses pontos e narrativas sobre os corpos indígenas, caboclos e ribeirinhos que resistem em meio a um processo de colonização constante.
Para demonstrar estes diversos corpos e indivíduos, Henrique Montagne passou por diversas cidades e locais do estado, entre eles Belém, Soure no Marajó, Marabá, Serra Pelada, Parauapebas, Canaã dos Carajás, Santarém e Alter-do-Chão, em uma verdadeira viagem pela ancestralidade amazônica. “Nesses caminhos percorridos, pude me encontrar e me conectar através desses laços de maneira coletiva, formando um aldeamento de ideias, conversando, conhecendo e admirando pessoas que assim como ele compartilham da diversidade e de histórias que se encontram em meio a esta grande floresta de rios e ygarapés que envolvem diferentes sotaques, cosmovisões, vivências e resistências, mas que também se curam de todas as feridas coloniais causadas pela branquitude”, diz.
Pela união de diferentes suportes, como desenho, fotografia e texto, as obras do artista trazem para o debate questões importantes, mas, assim como Tybyra, invisibilizadas. Uma delas é o processo de apagamento das discussões étnico-raciais da ancestralidade indígena no Brasil, principalmente no contexto atual. Outra também ressaltada pela exposição são as marcas do processo colonial, onde se buscou e se busca ocultar ou acabar com a diversidade sexual e as diferentes expressões de gênero na sociedade. Esta mostra é resultado do projeto “Tybyras”, selecionado pelo Edital de Pesquisa e Experimentação em Artes Visuais da Lei Paulo Gustavo 2024.