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Por Kelvyn Gomes/ Imagem: divulgação

O projeto “Escambo: Rede Parente” , contemplado pela Bolsa Funarte de Teatro Myriam Muniz, chega a Belém com o espetáculo de teatro performativo amazonense ‘Huma”, nos dias 22 e 23, às 16h, no Casarão do Boneco, Av. 16 de Novembro, 815, Batista Campos. A obra premiada traz metáfora do “mundo-peste” e propõe reflexão sobre corpo e cidade. Os ingressos “custam” “pague quanto puder” e a renda será revertida para a manutenção do espaço.

Uma mulher caminha pelas ruas e percebe que a peste que a isola não é apenas um vírus biológico, mas um sistema que violenta, exclui e silencia. Assim é “Huma/”, espetáculo de Manaus (AM) que chega a Belém. A peça, vencedora do prêmio de Melhor Direção no XVIII Festival de Teatro da Amazônia, reflete sobre as marcas deixadas pela pandemia e denuncia as engrenagens da necropolítica no Brasil.

A dramaturgia foi criada em meio à crise sanitária que devastou a capital amazonense em 2020, quando imagens de covas coletivas e a falta de oxigênio nos hospitais chocaram o mundo. Para o diretor Rider, que também assina o texto da peça, “Huma/” é um grito de revolta contra o abandono das populações mais vulneráveis. “Fui desenvolvendo a dramaturgia com base nas percepções, sensações e consciência crítica desse período tão violento que o Brasil vivenciou. Naquele momento, Manaus foi a cidade mais impactada pela pandemia. Mas não foi apenas a peste biológica que nos assolou – houve também a peste política, a peste ética, a peste moral. A peça é atravessada por essas temáticas, mas não de forma panfletária e didática”, explica Rider.

No espetáculo, a cidade se torna personagem: suas arquiteturas, seus sons, seus climas dialogam com a performance da atriz. Embora criado para a rua, “Huma/” não é teatro de rua, mas um teatro que se apropria do espaço urbano como cenário vivo e pulsante, esclarecem os produtores.

A chegada de “Huma/” a Belém acontece dentro da programação do projeto “Escambo”, que busca conectar produções teatrais das regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste. Segundo Rider, o intercâmbio entre esses territórios é um passo importante para descentralizar a cena teatral brasileira. “Trazer Huma/ a Belém é uma oportunidade de um teatro processual e de risco, feito em Manaus e com artistas manauaras, sair do ‘ilhamento’ que é a cidade. Manaus ainda é muito invisibilizada quando falamos de arte contemporânea. E é importante enfatizar que o convite veio de São Paulo para nós. Isso é significativo, porque geralmente o Norte é quem convida o eixo hegemônico, e não o contrário”, destaca o diretor.

Além das apresentações, o público poderá participar da Mesa Pública “Corpocidade/ dinâmicas em via dupla”, que acontece no dia 22, às 17h, logo após o espetáculo, no Casarão do Boneco. No dia 23, das 10h às 13h, a programação segue com a oficina “Corpocidade performance: como a pessoa-cidadã se relaciona com a sua cidade?”, no SESC Casa de Artes Cênicas.

A proposta das atividades é ampliar a reflexão sobre o corpo e a cidade como elementos interligados. Ly Skant, uma das mediadoras da mesa, provoca. “O corpo na cidade é sempre político. Como ocupamos os espaços urbanos? Quem tem o direito de estar ali? Como a cidade responde aos corpos que nela transitam? Essas são questões que guiam o debate e atravessam a própria encenação de Huma/”.

A programação em Belém integra a circulação do “Escambo: Rede Parente”, projeto contemplado pela Bolsa Funarte de Teatro Myriam Muniz. Após a passagem pela capital paraense, “Huma/” segue para Manaus (AM), Campo Grande (MS) e São Paulo (SP), promovendo mais de 50 atividades.

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