Por Fabricio Lima*
Nesta sexta (14), às 20h, o Teatro do Sesi recebe a nova temporada da adaptação da obra “O Cortiço” para os palcos, após uma parada de quase três anos. Tratando de assuntos como pobreza, machismo, racismo, escravidão e desigualdade, a obra do naturalista Aluísio de Azevedo continua atual mesmo 133 anos depois de seu lançamento.
Para saber um pouco mais sobre a peça, conversamos com Tiago de Pinho, realizador e diretor do espetáculo e fundador da Casa de Artes Tiago de Pinho, e a atriz Graciane Gonçalves, que interpreta a personagem Bertoleza, mulher negra vítima do racismo e machismo da sociedade brasileira.
A peça volta a estar em cartaz depois de quanto tempo?
Tiago de Pinho: A última temporada de O Cortiço foi em 2019. Em 2020, faríamos mais uma temporada, quando a pandemia aconteceu. Praticamente três anos sem apresentar o espetáculo.
Como você percebeu que a obra renderia uma boa adaptação para o teatro?
TP: Em 2014, dirigi uma montagem durante um evento literário dentro do Colégio Marista, em Belém. O sucesso de público, crítica e a recepção do público diante de tantas situações fortes da obra, despertaram o meu desejo de realizar uma montagem mais profissional.
O fato de ser uma obra realista e naturalista facilitou em relação à riqueza de detalhes na hora de traduzir as páginas para o roteiro?
TP: Bastante! E justamente por ser um dos marcos do naturalismo, a obra causa tantas reações fortes na plateia. Não há como amenizar uma obra naturalista. Não há como maquiar, ou esconder. Qualquer coisa que fuja de uma verdade nua e crua, descaracteriza a obra e o gênero literário.
Como foi construída a trilha sonora para a peça?
TP: Eu afirmo que a trilha de O Cortiço é uma personagem a mais. Ela foi pensada com muito carinho para traduzir os momentos mais chaves da peça. Gonzaguinha é o artista com mais canções no espetáculo, justamente por detalhar tão bem os sentimentos humanos e falar tão especificamente do povo brasileiro. Há também Cartola e Clara Nunes. Toda trilha é feita ao vivo pelas cantoras Rayssa Silva e Renata Del Pinho.
Qual a importância de se trazer em um novo formato uma obra clássica da literatura brasileira como “O Cortiço”?
TP: Oferecer novos meios de consumo de uma obra literária clássica e deixar viva cada vez mais a memória do autor e da obra. É favorecer aos que nunca leram uma oportunidade de vivenciar uma obra que atravessa gerações e que mesmo assim continua tão atual.
O elenco é sempre rotativo para cada temporada?
TP: Alguns personagens mudaram de atores. Alguns artistas não moram mais na cidade, outros estão com compromissos agendados, porém, o núcleo mais forte do espetáculo continua o mesmo das primeiras edições.
Existe a intenção de levar a peça para fora de Belém?
TP: Sim! Já tivemos convites para irmos para Macapá e Manaus, porém, com a pandemia, não foi para frente. Porém, estamos abertos para convites. Vai ser sempre uma honra apresentar “O Cortiço”.
Graciane, há quanto tempo você já atua? E também há quanto tempo você faz parte da Casa de Artes?
Graciane Gonçalves: Esse ano completo 9 anos de teatro, iniciei meus estudos na Casa em 2017 e “O Cortiço” foi a primeira peça que fiz enquanto aluna.
Como está sendo a experiência da peça?
GG: É sempre uma experiência única, eu participo da peça desde 2017, anteriormente fazia parte do núcleo das lavadeiras, interpretava a personagem “machona” e em 2021 por conta da pandemia, o Tiago optou por fazer uma mini série do Cortiço, abriu teste para a Bertoleza e fui selecionada.
Há algum desafio na hora de interpretar uma personagem já conhecida e consolidada na literatura?
GG: Vários, Bertoleza é sem dúvida um dos maiores desafios que já tive na minha carreira, tanto na construção corporal do personagem, quanto no psicológico.
O que você pode nos falar sobre sua personagem e o lugar dela na obra?
GG: Bertoleza é uma escrava, que morava no interior de Minas Gerais e veio para o Cortiço e conhece o João Romão, que vê na escrava uma maneira de lhe tirar dinheiro e se aproveita dela, e ao decorrer da história ela se apaixona por ele. É enganada pelo mesmo, que diz que lhe comprou sua carta de alforria, mas tudo não passou de uma farsa.
Nas suas palavras o que que a gente pode esperar desse espetáculo?
GG: Muita emoção, sempre digo que “O Cortiço” te leva do choro ao riso. Te leva a refletir várias questões, principalmente em relação a escravidão e ao racismo.
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O Portal Jambu é um espaço de jornalismo experimental com matérias produzidas por estudantes de graduação da Faculdade de Comunicação da UFPA sob a coordenação da Profa. Dra. Regina Lima e do jornalista Marcos Melo.
*Com supervisão de Giullia Moreira.