Emerson Caldas, cientista social, pesquisador nas áreas de Artes Visuais e Antropologia, lança seu primeiro livro de poesia “Complexo horizonte da atmosfera negra”, neste sábado, 7, a partir das 18h, no Centro Cultural Bienal das Amazônias (CCBA). O livro, publicado pela Editora Patuá, mergulha nas memórias, histórias e observações do autor na Amazônia paraense.
Por Kelvyn Gomes/Imagem: Divulgação
A obra construída a partir de diários de campo e registros das movimentações da população negra e suas manifestações artísticas, feitos por Emerson durante suas viagens diárias de ônibus no trajeto para a Universidade do Estado do Pará (UEPA), e influenciadas pela Poesia Slam, são o reflexo do olhar do autor sobre o cotidiano, especialmente as relações sociais e de trabalho observadas nas longas jornadas dentro do transporte público. “Então a partir desses dois estímulos de escrita (Antropologia e a Poesia Slam) e de possibilidades de escrever, eu começo a construir fragmentos, textos, que depois eu vou perceber seu viés poético, etnográfico dentro dos ônibus”, explica o autor.
Morador do bairro do 40 Horas, distante cerca de 15km da universidade onde estudava, Emerson lembra do trajeto que fazia cruzando diversos bairros da capital paraense. Ele observa que nesse trajeto de mais de uma hora no trânsito intenso da cidade, muitas pessoas subiam e desciam do ônibus e todas as coisas que aconteciam no seu trajeto. “Desde de presenciar questões como assaltos, mas também ver a solidariedade das pessoas quando alguém tá passando mal, ver a organização que se tem dentro do ônibus e as formas que as pessoas encontram de manter uma sanidade dentro desse espaço, mesmo diante de tanta insalubridade que o transporte público nos apresenta enquanto população. Então esse trajeto ele é permeado de muitas coisas das nossas vidas mesmo, era um trajeto que me fazia refletir muito”, lembra Emerson.
Emerson conta que a escrita surgiu de um momento de reflexão sobre suas próprias experiências e sobre como poderia utilizar suas anotações como parte de uma pesquisa acadêmica. “Esse livro está atrelado à minha pesquisa acadêmica e à minha produção em artes visuais. Ele busca dialogar com as vidas da população negra e gerar uma reflexão sobre sua existência e complexidade nesse cotidiano”, explica o autor.
O livro também faz referência a outors nomes da literatura e do pensamento negro, como Lélia Gonzalez, Zora Hurston, W.E.B Du Bois, James Baldwin, Conceição Evaristo, entre outros, e pretende se inserir dentro de um compromisso ético e político com o movimento negro e sua luta contra o apagamento histórico. “Este livro é uma forma de resistência e de afirmação. Nós, negros, também estamos publicando livros, escrevendo e ocupando espaços que antes nem imaginavam que pudéssemos estar”, conclui Emerson.
A partir dessas leituras, o autor buscou representar também em suas poesias a coletividade dos corpos negros e sua marca identitária. As vivências pessoais e acadêmicas do autor se cruzavam em seu cotidiano até que ele percebeu a escrita como uma estratégia de produção intelectual, artística e cultural. “Diante de uma sistemática que tem como ordem o pacto narciso da branquitude, eu penso que a população negra, a partir de seus artistas, de seus intelectuais, a partir dessa comunidade negra, ela vai criando fissuras e formas de romper com esse pacto narciso que só privilegia um determinado grupo”, explica o cientista social.
“Complexo horizonte da atmosfera negra” promete, segundo o autor, ser uma leitura profunda, capaz de provocar uma reflexão sobre as questões de raça, identidade e resistência, com uma voz comprometida com as lutas da população negra. “O título parte muito de uma perspectiva de compreensão que ser uma pessoa negra no mundo é estar diante de um horizonte de possibilidades e compreender a sua existência enquanto plural, diversa e dentro de suas diferenciações, possui complexidades, no sentido de romper com uma ideia reducionista, estereotipada e essencialista do que é ser uma pessoa negra”, esclarece o pesquisador e poeta, sobre o título com o qual batiza a obra.
Emerson Caldas alerta que seu livro não pretende dar conta de todas as problemáticas relacionadas à “atmosfera negra” na qual estamos imersos, mas colaborar com aquilo que já se discute sobre a temática. Ficou curioso para saber mais sobre o conteúdo deste trabalho? O autor lança “Complexo horizonte da atmosfera negra” amanhã, 07 de dezembro no CCBA, a partir das 18h, com entrada gratuita.