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Da Redação | Foto: Divulgação

Nesta semana a exposição itinerante “Degenerado Tibira: O Desbatismo” chegou a Belém para propor uma discussão sobre as tensões que envolvem a comunidade LGBTQIAPN+ no Brasil e no mundo. A mostra conta com obras performáticas de artistas da região Norte, Nordeste e outros países da América Latina enquanto resgata a figura do Tibira do Maranhão, pertencente ao povo Tupinambá e documentado como o primeiro assassinato por LGBTFobia no Brasil. A exposição está sediada no Museu de Arte da Unama da Alcindo Cacela e fica aberta para visitação até o dia 26 de abril, das 14h às 20h, com entrada gratuita.

Nascida no estado do Ceará e com duas edições até o momento, a exposição reúne mais de 30 obras de artistas latino-americanos e tem Tibira do Maranhão como ponto de partida para a escolha das obras que fazem parte da Mostra.

Tibira foi um indígena assassinado brutalmente no século XVII. Ele foi acusado de sodomia e seu assassinato tinha o intuito de “purificar a terra”. A ordem dos Capuchinhos, forçadamente, o batizou e depois ele foi amarrado na boca de um canhão para ser partido ao meio pelo projétil. Sua morte brutal é um símbolo da violência e discriminação histórica que pessoas LGBTQIAPN+ e povos indígenas sofrem no Brasil desde os tempos coloniais, temas que pautam a exposição.

Portanto, a mostra surge para romper a repressão sob os corpos LGBTQIAPN+ imposta pelos dogmas de um cristinianismo conservador, assim também negando a salvação que matou Tibira e que historicamente oprime grupos minoritários. A itinerância chega em Belém para fortalecer a produção artística Queer da região Norte, contando com artistas paraenses nesta edição e valorizando as narrativas amazônicas. Os trabalhos expostos passaram pela curadoria de Eduardo Bruno, Waldírio Castro e curadoria adjunta de Paola Maués.

Performance “O que Pode um Corpo” de Céu Vasconcelos

“Historicamente as obras de artistas do Norte e Nordeste só são valorizadas quando elas descem pro eixo Sudeste, principalmente São Paulo e Rio de Janeiro, então queríamos fugir dessa armadilha, construindo um espaço de valorização de vida e produção artística de narrativas LGBTQIAPN+ nos nossos territórios, fazendo um contraponto da violência histórica que essas regiões sofrem, construindo essa  itinerância em Belém”, explica Eduardo Bruno, um dos curadores do evento, pesquisador e doutorando em Artes pela Universidade Federal do Pará (UFPA). 

Sobre os trabalhos presentes no Museu de Arte da Unama, um dos artistas expostos é Rafael Moreira, com a obra “Uiaras defendendo o paraíso” (2019) que faz parte do Acervo da Coleção Amazoniana de Arte da UFPA, parceira do projeto. O artista busca desenvolver seus trabalhos a partir da reimaginação de momentos históricos e imagéticos em confronto com sua perspectiva de travesti na cidade de Belém.Já dentre as obras performáticas, o artista Nau Vegar apresenta “A Última Ceia”, uma videoperformance onde o amapaense come a cópia impressa em papel arroz da obra “A Última Ceia”, de Leonardo da Vinci. Outra obra é a foto-performance “A Primeira Descomunhão”, da artista Indja, indígena da etnia Kariri/Payacús. Ambos trabalhos buscam romper com as estruturas cristãs impostas pela religião.

Além dos três artistes citados, estão expondo: Bárbara Banida, Carlos Vera Cruz, Céu Vasconcelos, Christian Daniel Egüez, Eduardo Bruno, Filipe Alves, Franco Fonseca, Glória Camiruaga, Haus of Carão, Leona Vingativa, M. Dias Preto, Maria Macêdo, Orlando Maneschy, Pedra Silva, Rawan Carvalho, Rosangela Britto, Sheryda Lopes, Uýra, Waldírio Castro, Wandeaylson Landim, Yacunã Tuxá, Yeguas Del Apocalipsis, Yun Jsobe e Ziél Karapotó.

obra “Uiaras defendendo o paraíso” de Rafael Moreira

Programação 

Além da Exposição que fica até abril, nesta semana de estreia os curadores prepararam uma programação com bate-papo sobre artes e performances. Nesta quinta-feira (14), às 19h, terá a “Conversa de Galeria” com Eduardo Bruno, Waldírio Castro, Afonso Medeiros e mediação de Paola Maués. Sobre essa parte da programação, o Professor Titular de Estética e História da Arte da FAV/PPGARTES, Afonso Medeiro, explica que a discussão vai se dar em forma de conversa com o público presente sobre o processo curatório por trás da exposição e o papel de um curador em mostras de artes.

Já na sexta-feira (15), às 18h, a ocupação “Caraball” da Haus Of Carão convida o público a ocupar o espaço do museu de forma inovadora, experienciando a Cultura Amazônida. A ocupação da Haus também conta com a presença da Aparelhagem Rubi Light, um dos símbolos da cultura periférica paraense.

SERVIÇO

Exposição “Degenerado Tibira: O Desbatismo”

Data: 12 de março a 26 de abril.

Horário: das 14h às 20h.

Local: Museu de Arte da Unama – Avenida Alcindo Cacela, 287

PROGRAMAÇÃO  DE ABERTURA 

14/03 (Quinta-feira) a partir das 19h 

19h – “Conversa de Galeria” com Eduardo Bruno (Fortaleza/CE), Waldírio Castro (Campina Grande/PB) , Afonso Medeiros (Belém/PA). Mediação: Paola Maués (Castanhal/PA).

15/03 (Sexta-feira) a partir das 18h 

18h – Ocupação “Caraball’, Haus of Carão  (Belém/PA).

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