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De Kelvyn Gomes | Foto: Álbum do Pará 1939 

Enquanto o Sul do país enfrenta a friagem do inverno, na Amazônia o clima é de verão. Na verdade, a estação oficial é o inverno, mas as dinâmicas próprias do tempo nas paragens do Norte transformam esta época do ano no “verão amazônico”. É hora de se proteger do sol, beber bastante água e vestir roupas leves.

Formada por cerca de 42 ilhas, a cidade de Belém é uma boa pedida para aproveitar a estação. Algumas delas estão a um rio ou dois de distância, outras a alguns quilômetros, como é o caso da Ilha de Mosqueiro. Outrora bucólica, nessa época do ano é um dos balneários mais procurados pelos banhistas, por conta das suas praias, praças e igarapés.

Mosqueiro em um tempo longínquo foi sinônimo de descanso e tranquilidade pela sua proximidade com a natureza e ares amenos. Os jornais do final do século XIX anunciavam que com o calor dessa época do ano o centro da capital se esvaziava porque as pessoas fugiam para lá. Aquelas que podiam, é claro! Distante, em linha reta, a 32 km de Belém, cercada por água, sem transporte público, transformava a estadia no lugar um privilégio. Os que não podiam, informava a notícia, tinham de enfrentar o calor escaldante que faz nesse período. Por isso, informava o jornal Diário de Notícias em fevereiro de 1896, que a cidade costumava ficar esvaziada durante o veraneio, até que o período das chuvas recomeçasse e as pessoas retornassem. A ilha era, assim, um lugar de fuga.

Foto retirada do Álbum do Pará de 1939

A euforia da economia da borracha e a riqueza proporcionada pela exploração do trabalho do migrante e da seringueira permitiu com que naquele momento fossem erguidos chalés inspirados na arquitetura europeia e no estilo Art Nouveau, a instalação de uma linha fluvial, um trapiche de ferro, um sistema de bondes puxado por animais que transportavam as pessoas até a Vila, área “central” da ilha, e até um cinema.

Recorte do jornal Diário do Pará do dia 13 de julho de 1990

Como ilha, suas chegadas e partidas se deram pela água. Os vapores fizeram suas viagens até que o transporte terrestre triunfasse com a construção de uma estrada ligando a capital ao distrito. Com a chegada dos carros e ônibus a viagem se tornou mais rápida, ainda que os passageiros, e logo em seguida, os veículos precisassem atravessar de balsa o Furo das Marinhas. Depois veio a ponte, e com ela o agito.

Filas enormes se formavam no terminal rodoviário de Belém à espera do Beiradão, linha que fazia viagens para lá. Famílias inteiras: cachorro, papagaio, periquito, como dizem os mais velhos, principalmente nas épocas de carnaval quando os trios elétricos circulavam na orla da praia do Murubira passando em frente aos antigos restaurantes A Gata Comeu e Asa Delta; e julho, durante o período de férias escolares.

A bucólica de outrora agora abria espaço para uma nova era. Nem pior, ou melhor, apenas diferente. Uma nova geração de frequentadores, novos olhares sobre o lugar, novas formas de divertimento. Não apenas os tranquilos banhos de rio ou as noites estreladas, sentados na praça em suas cadeiras de praia, batendo papo enquanto refresca-se com um sorvete de tapioca ou cupuaçu. As pessoas são outras, a diversão é outra, os tempos são outros. Mas Mosqueiro segue lá, uma terra Tupinambá, a Ilha do Amor te esperando para aproveitar o verão.

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