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Dia Do Quadrinho Nacional

Hoje, 30 de janeiro, em alusão a primeira publicação em quadrinho do país, comemora-se o “Dia do Quadrinho Nacional”. O estilo criado pelo artista americano Richard Outcault em 1895 ficou mundialmente conhecido e eternizado pelas mãos de Stan Lee, talvez um dos maiores quadrinistas da história, criador de personagens como Homem Aranha, Quarteto Fantástico e grande parte do Universo Marvel. No Brasil, as primeiras histórias foram publicadas ainda no século XIX e de lá para cá vêm conquistando crianças, jovens e adultos. 

Em comemoração ao Dia do Quadrinho Nacional, o Portal Jambu apresenta cinco quadrinhos amazônicos produzidos por artistas da região.

Por Kelvyn Gomes/Imagem: Reprodução “Ajuricaba”

“Ajuricaba”, por Felipe Garcia

Felipe é professor de artes e produtor de quadrinhos desde 2015, ele recomenda a leitura de “Ajuricaba” de Ademar Vieira (roteiro), Jucylande Júnior (arte), Tieê Santos (arte-final), Ana Valente (capa), Alex Souza (edição), publicado pela Black Eye estúdio. A obra conta a história da resistência indígena contra os portugueses liderada por Ajuricaba, indígena que teve sua família assassinada pelo genocídio europeu durante a colonização do Brasil.

Para o artista que tem atuado desde 2023 como editor-chefe e roteirista no Coletivo BRT “esse quadrinho não só por ele ser muito bom, mas por colocar em destaque uma história que durante muito tempo seguiu ignorada. O Brasil durante todo seu período de existência teve diversos episódios de resistência, de mobilização, contra as nações que vieram aqui apenas para explorar e escravizar nosso povo. Eu não fazia ideia de tudo que tinha rolado antes de ler. E por causa disso, fui atrás de pesquisar mais sobre, e hoje, sempre que posso, falo em sala de aula para meus alunos o que ocorreu. O resgate da memória é importante, ainda mais nos tempos atuais”.

“Saburo”, por Beatriz de Miranda

Quadrinista, Beatriz de Miranda tem publicações pela Editora Skript e em editais da Bienal de Quadrinhos e Café Espacial. Responsável pela ilustração do clássico “O Pequeno Príncipe”, quando falamos com a ilustradora ela imediatamente sinalizou que “por coincidência, no momento estou lendo um quadrinho da Amazônia que indico com muita felicidade, por causa da minha profissão, que é bastante ligada a estudar relatos históricos”, comenta a ilustradora.

“Saburo, uma aventura nipo-brasileira”, de Ricardo Ono, é uma publicação independente baseada na tese de doutorado do autor, onde ele narra a migração de seu avô para o Brasil. De acordo com Beatriz nesse resgate de conhecer a história dos seus antepassados, para de certa forma se entender, ele conta a história do Brasil, do Japão e do Pará.

“É fascinante quando essas histórias são contadas, em que na tentativa de entender e conhecer uma pessoa, nós descobrimos a história de povos inteiros, porque envolve relações diplomáticas, políticas públicas, tratados, entre outros aspectos externos que influenciam decisões pessoais e o Ricardo faz isso muito bem, mesclando a narrativa do agora com os flashbacks”, comenta.

“Quase tudo são flores”, por Monique Malcher

A jornalista e escritora Monique Malcher, premiada em 2021 com o Prêmio Jabuti na categoria “contos”, comenta que teve “o prazer de fazer o prefácio desse quadrinho, foi um presente me deparar com a beleza dos desenhos de Karina, mas além disso, com sua sensibilidade de articular pesquisa de gênero, fatos históricos e articulações filosóficas com a simplicidade de um diálogo dela com a avó”.

“Quase tudo são flores”, de Karina Pamplona, é mais uma obra independente, um ensaio em quadrinhos sobre o utilitarismo da vida, flores e conversas da autora com sua avó. Por que flores são símbolos institucionalizados de feminilidade? Por que a gente tende a atribuir valor pras coisas só quando elas são úteis? O que é ser útil? Essa reflexão em quadrinhos surge de questionamentos internos investigando algo que a autora tomou como dado durante toda a vida: “Por que eu sempre disse que odiava flores mesmo?”.

Monique observa que “é muito difícil conseguir segurar a atenção do leitor com um diálogo entre dois personagens, mas Karina faz isso tão bem que quando percebemos já estamos envolvidos. Com certeza é uma quadrinista para ficar de olho, se ela conseguiu entregar em um quadrinho de estreia algo tão especial, imagina só o que ainda vamos ver dela. É um dos quadrinhos mais interessantes que li nos últimos tempos”.

“Catitando Histórias”, por GC ARTE

O artista visual jurunense, Gabriel Cardoso, o GC ARTE, nosso parceiro de outras pautas recomenda a coletânea “Catitando Histórias”, uma obre em três volumes que reúne, nas palavras do artista, “várias coisas interessantes pra ser comentada”.

São 24 artistas, cada um fez uma história autoral com o tema: ratos. Isso mesmo! Os animaizinhos considerados pragas urbanas. São 8 histórias em cada volume, interligadas pela temática. A ideia surgiu, segundo GC, “em uma roda, algo como um pequeno desafio para os membros do coletivo, tanto a palavra chave pra criar essa temática quanto o nome do quadrinho, passou por uma votação, então depois da decisão, começou a produção”, lembra.

GC também é um dos artistas da obra coletiva e lembra que até o resultado final, o grupo passou por formações em roteiro, desenho, narrativas visuais “tudo isso pra ajudar os artistas a elaborar as histórias”. Cada história passou também por uma  revisão e uma consultoria. 

“A antologia tem diversos artistas de diversas áreas, cada um contribuiu para que a zibe fosse entregue da melhor maneira possível ao leitor. São diversos personagens que lidam com diversos assuntos, tanto globais quanto regionais, em uma perspectiva totalmente inovadora, não estamos apenas lendo, estamos CATITANDO HISTÓRIAS!”, conclui.

“Quadrinhos à Margem”, por Jô Santo

A também jurunense e artista visual Jô Santo também indica uma coletânea. Organizada por Felipe Furtado e lançada em 2023, “Quadrinhos à Margem” reúne histórias reúne diferentes histórias e vivências dos  artistas interioranos onde tratam temas como identidade, pertencimento e descentralização do discurso cultural, valorizando a diversidade de perspectivas e experiências, destacando como o distanciamento do “centro” permite o surgimento de novas narrativas e abordagens, refletindo a riqueza cultural de municípios como Bragança, Bujaru, Cametá, Abaetetuba e Nova Ipixuna, evidenciando sentimentos universais e específicos às vivências de seus artistas. 

O projeto é uma iniciativa pioneira que tem o objetivo de dar visibilidade a artistas de municípios do interior do estado. Ele surge a partir da observação sobre a centralização artística e cultural na capital, onde as demais produções seja do interior e/ou periferia se vêem à margem.

Formada em Artes Visuais, Jô atua em pesquisas que envolvem, principalmente, a valorização de teorias e práticas afetivas, afirmativas, antirracistas, antissexistas e não-hegemônicas na/da Amazônia, a partir de produções visuais, seja gráfica ou audiovisual, além de produção cultural.

Ela afirma que o “projeto é um ponto de partida para inspirar e abrir caminhos para que outras produções que abordem narrativas interioranas sejam fomentadas seja por editais públicos ou independentes”.

A indicação da artista destaca a “importância social da hq, pela sua capacidade de romper com a hegemonia cultural da capital, evidenciando a riqueza criativa das periferias e interior do estado. Ela promove a inclusão, estimula a representatividade e reconhece a pluralidade cultural como um elemento essencial para a construção social”, conclui.

Uma boa leitura

E aí, conhecia alguma dessas histórias ou artistas da nossa terra? Não? Então agora é só organizar teu cronograma de leitura e embarcar no mundo das HQ’s.

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