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No dia 06 de janeiro de 1835 eclodiu em Belém do Pará, a Revolução Popular da Cabanagem, a maior do Norte do Brasil. Em 2025 a revolução cabana completa 190 anos. Você sabe o que foi a Cabanagem? Conhece esse capítulo da nossa história? O Portal Jambu conversou com cinco historiadores paraenses para saber quais os livros mais importantes para quem quiser conhecer e entender melhor o período.

Por Kelvyn Gomes/Imagem: “Em tempos de Cabanagem”

Memórias da Cabanagem

O professor e historiador, Michel Pinho, conhecido pelas aulas públicas que levam centenas de pessoas para as ruas do centro histórico da cidade recomenda a leitura de “Memórias da Cabanagem”, de Paulo Evander e Leonardo Torii. O livro, de pouco mais de 20 páginas, conta com ilustrações dos episódios mais importantes do evento que marcaria profundamente a história do povo paraense.

A obra apresentada como “um esforço de valorização de nossa história para todas as gerações futuras” é uma produção da Secretaria de Cultura do Pará e está disponível para download gratuito na página da Secult na Web. Assinada pelo diretor do Arquivo Público do Estado do Pará (Apep), Leonardo Torii, e pelo multi artista e produtor cultural, Paulo Evander, o material é destinado ao público infanto juvenil, mas atende bem aos anseios dos adultos pela qualidade do texto e pela visualidade do material.

Cabanagem, Revolução Amazônica (1835-1840)

Leonardo Torii, diretor do Apep e professor de História da rede estadual de ensino (Seduc), recomenda o livro do professor José Alves de Souza Júnior, da Universidade Federal do Pará (UFPA) para quem quiser entender as motivações e os personagens envolvidos no processo revolucionário.

Para Torii, que é mestre em História Social da Amazônia, “Cabanagem, Revolução Amazônica (1835-1840)” traz novas abordagens historiográficas sobre a revolução cabana focando na participação de negros libertos ou escravizados, populações indígenas, quilombolas, ribeirinhas e brancos pobres. “O autor mostra as várias razões que essas populações tinham para iniciar o processo revolucionário na cidade de Belém e depois pelo interior da Amazônia. Vale muito a leitura atenta do livro para perceber que a Cabanagem tinha muitos rostos e formas de luta”, afirma o historiador.

Motins Políticos ou história dos principais acontecimentos políticos da Província do Pará desde o ano de 1821 até 1835

O clássico de Domingos Antônio Rayol, o Barão de Guajará, é a recomendação da especialista em Cabanagem e professora da Escola de Aplicação da UFPA, Danielle Moura. “Motins Políticos” é uma das principais referências na historiografia da Amazônia para quem quer estudar o período. Revisitado por diversos historiadores ao longo do tempo, o livro apresenta passo a passo o contexto da agitação política nas décadas iniciais do oitocentos e uma ordenação dos acontecimentos políticos no Grão-Pará.

Danielle destaca que Domingos Antônio Raiol foi o primeiro grande estudioso da Cabanagem. A coletânea, rica em documentos coletados e transcritos pelo autor, imerge nas tramas políticas que assolaram a província, cujo último e maior de todos eles foi a Cabanagem. Com uma narrativa que intercala descrições sobre sujeitos da época e considerações do próprio autor sobre o estado das coisas, adota uma “ótica imperial”, alerta a pesquisadora.

Para Raiol, destaca Danielle, “não havia o que comemorar naqueles anos, apenas os feitos imperiais contra os cabanos. Raiol, portanto, apresenta uma leitura negativa da Cabanagem, definida como um momento de anarquia, cujas origens estariam no desrespeito às autoridades instituídas e no descaso delas mesmas perante as questões da época”.

Memorial da Cabanagem: Esboço do Pensamento Político-Revolucionário no Grão-Pará

Publicada em 1992 pela Edições Cejup, a obra oferece uma análise da Cabanagem, destacando suas ideologias, com ênfase nas ideias republicanas, e suas consequências para a sociedade da época. O autor, Vicente Salles, busca revelar a natureza do movimento. Sua leitura é a de “uma revolução de luta de classes que visava alterar o destino político da província e mudar a estrutura social”. Quem recomenda a “mini edição” é a professora de História da UFPA e uma das maiores referências nos escritos sobre a Cabanagem, Magda Ricci.

Autora de livros e artigos que revisitam não apenas os eventos, mas outros escritos a partir de um viés crítico e atual sobre a Cabanagem, ampliando os debates acerca de temas contemporâneos como classe, gênero e raça, a pesquisadora destaca a obra de Vicente Salles como “a mais ampla bibliografia sobre a cabanagem até os anos 90”.

A escolha do título da obra faz referência ao “Memorial da Cabanagem”, escultura criada por Oscar Niemeyer e inaugurada em Belém em 1985. Salles explica que o título reflete a visão de Niemeyer sobre a Cabanagem como um momento em que a história se fragmentou. Embora a revolução tenha sido esmagada, o “Ideal Cabano” permanece indissociável da trajetória histórica, e deve ser reintegrado ao caminho da história, de onde nunca deveria ter saído.

Cabanagem: o Massacre

O historiador e Gestor Cultural André Lima recomenda a coletânea de fontes documentais organizadas pelo jornalista paraense Lúcio Flávio Pinto após suas pesquisas no Apep sobre os prisioneiros cabanos e o contingente de mortos nas prisões, em especial, na Corveta Defensora.

O pesquisador lembra que o livro não se trata de uma narrativa histórica sobre o evento e seu contexto, mas uma obra documental com anotações e transcrições referentes aos documentos encontrados pelo jornalista no acervo do arquivo público paraense.

A obra, segundo o próprio autor, traz documentos inéditos que contam de forma nominal, quem foram os presos e repressores do Estado na revolta da cabanagem.

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