
Por Kelvyn Gomes/Imagem: Divulgação
Entre memórias, deslocamentos e transformações, o multiartista paraense Brisas Freire Ribas acaba de lançar seu primeiro EP, “PERDOA”. Com quatro faixas que passam pelo Pop Rock, Lo-fi e Reggae, o trabalho é um mergulho íntimo sobre culpa e perdão, traçando pontes entre afetos passados e a coragem de existir plenamente.
Disponível nas principais plataformas de streaming, o EP também ganha visual no YouTube, fruto de parcerias com cineastas da cena independente. São imagens que ampliam a experiência sensível da obra e consagram a estética do artista dragqueer transmasculino, que une música, performance e poesia em uma proposta ousada e autoral. O Portal Jambu foi conhecer a trajetória de Brisas.
Natural de Altamira, no sudoeste do Pará, Brisas se considera “nômade por natureza e por escolha”. Viveu em Belo Horizonte, passou por sete cidades em quatro estados e hoje reside em Lisboa, onde desenvolve sua arte enquanto pensa o próximo destino. Sua trajetória é marcada por inquietações criativas e existenciais, que se tornam matéria-prima para seu trabalho.
Formado em Arquitetura e Urbanismo pela UNA (MG), em Multimídia pelo Geledés Instituto da Mulher Negra (SP) e em Marketing Digital pela USP, o artista soma experiências em diferentes linguagens. Fez parte do filme EMARANHADO (2021), obra que percorreu cidades brasileiras e europeias, assinado pelo coletivo Corpo Futurista, colaborando com dramaturgia, trilha, atuação e identidade visual.
Em 2025, seu primeiro EP, “PERDOA”, no entanto, é um capítulo “especialmente significativo”, destaca o artista. O EP foi inteiramente composto e dirigido por Brisas, que também assina os vocais. A produção musical, mixagem e masterização ficaram a cargo de Theo Charbel, parceiro de longa data e cúmplice sonoro da jornada. Gravado no bairro da Pompeia, em São Paulo, o disco é apresentado como “um encontro consigo de forma profunda, quase sofrida”, nas palavras do próprio artista. “Fala sobre o trágico de forma que nos faz querer ver o que há adiante. O amor mora por entre essas curvas impensadas”, define o artista.
PERDOA é um rito de passagem para Brisas Project. O nome artístico é a plataforma onde se encontram suas múltiplas camadas: a persona drag, o músico, o poeta e o viajante. Com peruca, pedal, guitarra e uma voz cheia de história, Brisas performa um corpo em constante reinvenção. O lançamento das faixas, muitas delas compostas antes da transição de gênero, carrega também o gesto político de resgatar e ressignificar. “É o mesmo corpo com outra voz, a mesma visão num outro jeito de enxergar o mundo. Ressoar no mundo é uma vitória”, afirma.
Desde 2017, quando as primeiras composições deram origem ao projeto, o artista vem construindo uma obra que considera como espelho e abrigo, fragmento e travessia. Hoje, com PERDOA, Brisas Project entrega ao público não apenas músicas, mas fragmentos de uma jornada que ainda está em curso. “O autoperdão é minha casa. E esse EP é o meu jeito de dizer: estou aqui, e essa é minha voz”, afirma Brisas.