De Felipe Vilhena | Foto: Felipe Vilhena
Quando se pensa em Belém, é impossível não lembrar de suas diversas praças cheias de árvores, estátuas e coretos: locais de respiro em meio ao dia-a-dia sufocante do centro urbano. Uma que se destaca no imaginário da cidade é a praça Batista Campos, muito lembrada pelo grande coreto “Primeiro de Dezembro” e seu castelinho. Eleita em 2005 pela revista “Seleções” como a praça mais bonita do Brasil, a Batista Campos foi palco de diversas histórias, desde começos de namoro, brincadeiras durante a infância e confraternizações de milhares de famílias.
Antes de se tornar o ambiente conhecido por muitos, o local onde se encontra a praça era de propriedade de Dona Maria Manoela de Felgueiras e Salvaterra. Após seu falecimento, o terreno foi doado para a Câmara Municipal de Belém. Batizado de Largo de Salvaterra e posteriormente de Largo do Sergipe, em homenagem à nova província do Brasil da época. O espaço foi descrito pelo jornalista Carlos Rocque como uma grande savana de capim, nada além de um largo inexpressivo com um canteiro central.
O local passou a tomar forma somente na administração de Antônio Lemos, intendente de Belém de 1897 a 1911. Uma pessoa com forte apreço pela moda européia e suas tendências, que puderam ser replicadas em Belém graças ao crescimento econômico devido ao período do ciclo da borracha, a Belle Époque. Antes mesmo de dar início ao projeto da praça, Lemos rebatizou o Largo do Sergipe para Batista Campos, uma homenagem ao cônego, advogado e jornalista João Batista Gonçalves Gomes, um dos líderes do movimento da cabanagem. Em 1900, a área passou por processos de ajardinamento e foi desenvolvido um projeto para transformá-la em um espaço de lazer para os belenenses. Até que, em 1904, a praça Batista Campos foi enfim inaugurada.
A principal inspiração do projeto foi o romantismo inglês, fortemente influenciado pelo naturalismo e com construções voltadas à natureza e sua imitação. Segundo Elizabeth Nelo Soares, as influências podem ser percebidas pelas pontes em madeira ou alvenaria, córregos, caramanchões, pavilhões acústicos e os coretos de ferro.
Sobre os coretos
Um dos principais atrativos da praça Batista Campos são os coretos. Eles foram produzidos em ferro no estilo art nouveau na Alemanha em 1903, com suas curvas irregulares e assimétricas, mosaicos e formas como folhagens, flores e animais. Em todos os cinco pavilhões harmônicos, pode-se perceber diversos padrões de flores e vinhas, com destaque para o coreto “Primeiro de Dezembro”, que fica no centro da praça e recebeu esse nome em referência a data de coroação de Dom Pedro Primeiro.
Outras obras
Uma obra que chama a atenção dos moradores e turistas é o castelinho próximo ao centro. Ele foi projetado para esconder o reservatório de água. A torre coberta por vegetação lembra as típicas ruínas europeias e agrega positivamente à paisagem da praça, como se fosse um local parado no tempo.
Diferente dos outros elementos paisagísticos citados, a estátua próxima ao cruzamento da Rua dos Tamoios a Travessa Padre Eutíquio não estava presente no projeto urbanístico de Antônio Lemos. Pouco se sabe sobre a “Mulher Nua”, de G. Perrone, apenas se acredita que tenha sido implementada em alguma reforma da primeira metade do século XX. Mas sua presença logo atrás do caramanchão, olhando para o céu com as mão no rosto, atrai a atenção de quem passa e vê seu gesto de desespero, como se tentasse se proteger do sol que castiga a capital paraense.
Com mais de 100 anos de idade, o espaço teve que passar por diversas reformas e restaurações, como pintura, reforma dos pisos, bancos e entre outros, mesmo na intendência de Antônio Lemos. Porém, muitas das intervenções acabaram descaracterizando as construções da praça, como da restauração de 1981 em que os icônicos cisnes foram retirados da parte superior do coreto “Primeiro de Dezembro”. Outro exemplo mais recente foi o restauro feito em 2020, com várias peças da cobertura dos coreto tendo sido descartadas.
Apesar da reforma recente na praça Batista Campos, reinaugurada no mês passado, ainda é preciso clamar pela preservação da memória desse espaço — símbolo da Belle Époque, retrato da arquitetura romântica inglesa e pedra angular na vida de diversos moradores da cidade de Belém.