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Por Kelvyn Gomes/Imagem: divulgação

Nesta sexta-feira, 16 de maio, às 19, no Centro Cultural Brasil-Estados Unidos (CCBEU), Rafael Matheus Moreira estreia a mostra “Como retratar uma travesti?”. Com visitação gratuita até 28 de junho, a exposição vai discutir entre cores, texturas e corpos, a representação de pessoas travestis.

A proposta da exposição é que ela seja um manifesto visual. “Ao longo da história, quem vem nos retratando são homens cisgêneros, que buscam a nossa objetificação e exotificação. Eu fujo desse olhar óbvio”, afirma Rafa, cuja trajetória artística é marcada por romper com estéticas colonizadoras e o engajamento político de sua própria existência enquanto artista trans.

Com 36 obras produzidas entre 2024 e 2025, Rafa apresenta séries inéditas como “Quebras”, “Raio que o trava” e “Mariposas”, explorando técnicas mistas em tinta acrílica e óleo. A curadoria é assinada por Rosângela Brito e Mayrla Andrade.

A série “Raio que o trava”, por exemplo, mergulha na arquitetura modernista paraense, especialmente nas fachadas dos casarões dos anos 1950 e 60. “Comecei a trabalhar a visualidade do ‘raio que o parta’ por trás dos corpos representados, onde penso a quebra como uma metáfora sobre a destruição de tudo o que me limita enquanto ser humano. A quebra é uma forma de me libertar dos padrões”, explica Rafa.

Já em “Mariposas”, a artista se vale da imagem desses insetos para tratar da transição de gênero e da efemeridade da vida de mulheres trans no Brasil. “A expectativa de vida de mulheres trans no Brasil é só de 35 anos”, denuncia. As obras funcionam, assim, como denúncia e delicadeza, violência e poesia.

Formada em Artes Visuais pela Universidade Federal do Pará (UFPA), com especialização e mestrado em andamento, Rafa Moreira já foi premiada em diversos salões, entre eles o Arte Pará (1º lugar em 2024) e o Primeiros Passos, do próprio CCBEU. Atualmente, tem obras no acervo do MASP, incluindo uma pintura da deputada federal Erika Hilton, que fez questão de elogiar publicamente o trabalho da artista.

Mas o gesto mais contundente de Rafa talvez esteja na assinatura. “No passado, as mulheres cis foram desacreditadas em seu trabalho, assinavam com os nomes dos maridos e dos pais para adentrar no sistema da arte. Hoje, ao utilizar o meu nome morto como autora, estou questionando se essa tradição de desacreditar corpos mudou”, afirma. Para ela, o nome Rafael Matheus Moreira é uma crítica ao conservadorismo estrutural do mundo das artes.

Ao abordar travestis como sujeitos e não objetos da arte, Rafa convida o público a um mergulho profundo no sensível e no político. A exposição “Como retratar uma travesti?” não entrega respostas fáceis, mas, com certeza, muda o modo de fazer perguntas.

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