De Kelvyn Gomes | Foto: Reprodução do Instagram
O artista plástico paraense, Francelino Mesquita, faz do miriti sua arte. Na última quinta-feira, 20, ele abriu mais uma exposição individual, com o tema “Ressignificações”. Na exposicao, o artista busca mostrar o potencial das matérias primas da floresta para além dos usos habitualmente já conhecidos. A visitação segue até 26 de julho em uma galeria no bairro do Marco, de segunda a sábado.
Uma planta versátil
O miritizeiro é uma palmeira amazônica importante em diversos setores da cultura e da sociedade da região. Para além dos usos recreativos, como extração do miriti para a produção dos famosos brinquedos coloridos, bastante comuns durante os festejos do Círio de Nazaré, e a produção de pipas a partir de suas talas, a árvore gera emprego e renda para as famílias que vivem da sua extração e beneficiamento da produção de sabonetes artesanais, óleos essenciais, isolamento térmico e acústico das casas, além do consumo da fruta in natura por moradores da região.
Nas proximidades de Belém, Abaetetuba tem abundância da planta em seu território e é de lá que vem a maior parte dos famosos e coloridos brinquedos de miriti, ficando a cidade vizinha conhecida como “capital do miriti”, onde também é comum o consumo do vinho ou suco da fruta.
O material utilizado tanto pelos mestres artesãos quanto pelo artista plástico Francelino Mesquita provém da folha da planta, mais especificamente da parte interna da folha, o parênquima, conhecido popularmente como bucha de miriti.
Formas da natureza inspiram o artista
Francelino, que é belenense, conta que já trabalha com o material há pelo menos 25 anos. Ele, como artista nortista, amazônida, lembra que quando criança era incentivado pelos pais a visitar cidades do interior durante as férias. Essas experiências formaram a identidade do artista e influenciam até hoje em seu trabalho e que ele associa as habilidades arquitetônicas de sua formação em edificações. “Eu trago de infância essa raiz da natureza, então meus trabalhos são baseados na Amazônia, na natureza e as formas também são orgânicas e vem do ver e sentir a natureza. Também procuro trabalhar com formas geométricas, formas em perspectivas, com pontos de fuga. No meu trabalho eu trago muito esse conhecimento artístico e tecnico”.
O artista explica que a ideia é mostrar as potencialidades e diversidade de técnicas, materiais e produtos agregados nas produções artísticas para além, por exemplo, dos já conhecidos brinquedos de miriti. Outro material agregado às obras de ressignificações é a cuia, utensílio doméstico utilizado para o consumo de alimentos e bastante comum na região. Também oriunda de uma planta amazônica, a cueira, e seu beneficiamento é uma tradição indígena.
Ele explica também que, apesar do que imaginam as pessoas, o miriti é um material bastante versátil. É, ao mesmo tempo, maleável e resistente, permitindo diferentes usos e abusos para que possa explorar novas formas e formatos para suas obras. O artista explica que, como uma forma de tentar proteger o meio ambiente, ele procura não usar produtos nocivos à natureza, como determinados tipos de verniz, tintas e colas. As obras produzidas por Francelino utilizam, geralmente, o produto em sua cor e textura naturais.
No ano passado, Francelino fez parte do staff de artistas que participaram da primeira Bienal das Amazônias em Belém e reuniu artistas de diversos estados e países da região. Ele afirma que, apesar de “Ressignificações” ser uma mostra individual, gosta também de participar de exposições coletivas, porque é. uma forma de encontrar outros artistas e promover trocas culturais e experiências artísticas. “Eu fico muito feliz quando tem exposições coletivas, a possibilidade de conhecer o trabalho de outros artistas. E estar em um grande salão, com outros artistas, ser reconhecido por eles, e com eles”.
Às vésperas da abertura de mais uma exposição, Francelino se emociona ao lembrar da mãe, uma das maiores incentivadoras do seu trabalho. “Minha mãe, minha fã número um, minha maior incentivadora”, lembrou o artista. Ele comentou também sobre as dificuldades na trajetória artística. Mesmo com apoio de editais para exposição, ele afirma que os valores que costumam ser disponibilizados não são suficientes. “Não dá pra viajar, transportar a obra, se hospedar, e se alimentar com os valores que eles costumam disponibilizar. Não é o suficiente, porque tudo é por conta do artista. Então na maioria das vezes a gente acaba tirando do próprio bolso. Aqui mesmo eu já gastei pra poder expor”.
Além da exposição, as obras podem ser adquiridas do acervo do artista e essa pode ser uma maneira de encorajar a continuidade do trabalho, mesmo com as dificuldades encontradas.
Serviço
“Ressignificações” exposição individual de Francelino Mesquita
20 de junho a 26 de julho
De segunda a sexta-feira, de 14h às 18h; sábados de 09h às 13h