Por Vitória Rodrigues/Foto: Felipe Vilhena
Buscando analisar a maneira como a arte pode provocar o pensamento crítico, inspirar ações e criar impactos positivos e duradouros na sociedade, o último dia do Fórum Arte pela Justiça Climática – Reimaginando Futuros Sustentáveis, promovido pela fundação independente Prince Claus Fund, em parceria com a rede internacional de filantropia Open Society Foundations, realiza, hoje, último dia de programação voltada a imergir na forma que a expressão artística se intersecciona com a ética e o ativismo, destacando o papel de reverberações artísticas e culturais na promoção de mudanças sociais.
Reunindo artistas de três países em confluência, o Fórum realizou pela manhã a Roda de Conversa “Arte e Ativismo, Ética e Responsabilidade”, promovendo discussões, por meio da arte, acerca do agora, resgatando a memória do passado e reconhecendo a necessidade de pensar estratégias para o futuro. Molemo Moiloa (África do Sul), Deborah Jack (São Martinho) e Thiago Maiandeua (Brasil) falaram sobre como a ética e a responsabilidade moldam práticas artísticas, a partir das experiências que vivenciam cotidianamente em seus espaços de atuação.
“O que a gente faz nos territórios também pode ser chamado de serviços ambientais, o carimbó não tá fora disso, porque nas nossas letras a gente tenta conscientizar o ouvinte a preservar os manguezais, preservar as praias, preservar a natureza no geral. Quando a gente fala, por exemplo, de preservar os manguezais, a gente tá falando que os manguezais são importantes na obsorção da maior parte de CO2 do mundo, a vegetação de manguezal é responsável por armazenar CO2 até duas vezes mais que uma floresta de terra firme, por exemplo. E quando a gente fala de preservar o manguezal no carimbó, a gente tá também fazendo esse serviço ambiental, então o carimbó tem tudo a ver com esse tipo de serviço ambiental, que não é remunerado, mas que conscientiza a população, a comunidade e quem estiver ouvindo, sobre preservar a natureza”, afirma Thiago Maiandeua, artista da Região Nordeste Paraense, ao falar, no que se refere as manifestações artísticas da Amazônia, sobre a sua relação com a preservação do meio ambiente.
A performance de BorBlue encerrou as atividades desta manhã, emocionando o público através da recitação de poesias. BorBlue é poeta marginal de Icoaraci, ator, compositor e instrumentista. O artista trabalha com carimbó e poesia nos coletivos da cidade, por acreditar que a arte precisa ocupar todos os espaços e não só grandes galerias e teatros. “Eu acredito que a arte transforma vidas, quantos mais pessoas estiverem espalhando arte, mais pessoas vão ter acesso e pode transformar a vida de muitas crianças, de pessoas da periferia, de pessoas de lugares de difícil acesso e tirar de locais que não são tão bons. Foi assim comigo e foi isso que transformou a minha vida.”, destacou ele.
“Uma das coisas que eu levo comigo sempre é que eu quero levar minha cultura e a minha ancestralidade pra qualquer lugar que eu for. Onde eu não conseguir alcançar com as pernas, que eu consiga alcançar com a voz, que eu consiga alcançar com as minhas palavras, pra que as pessoas quebrem os preconceitos e ideias retrogradas em relação a nossa região. A gente tem problemas aqui que são muito mais atuais, tem que ter um olhar sensível pra essa galera que vive na Amazônia, um lugar importantíssimo pro mundo inteiro. As pessoas vão embora, sugam o que tem que sugar, e a gente fica aqui a mercê de qualquer jeito, então é importante que eles escutem uma pessoa trans, afroindígena e da periferia”, enfatizou BorBlue.
O Fórum está sendo realizado no Curro Velho e segue com rodas de conversa, oficinas, sessões interativas e performances artísticas até o fim da noite de hoje.