13 de fevereiro, Dia Mundial do Rádio, data instituída pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), marca a primeira transmissão de rádio realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1946. Símbolo de modernidade, o rádio chegou ao Brasil quase um século após ser inventado e logo caiu no gosto do público. Da primeira transmissão radiofônica oficial em 07 de setembro de 1922 à “Era de Ouro” nas décadas de 1940 e 1950 e aos dias atuais, muita coisa mudou.

Por Kelvyn Gomes/Imagem: Reprodução Internet
Para conhecer um pouco mais sobre a história do rádio paraense, o Portal Jambu conversou com o professor e historiador Antônio Maurício Dias Costa, autor de “A cidade dos sonoros e dos cantores – estudos sobre a era do rádio a partir da capital paraense”, sobre o contexto da cidade de Belém do Pará neste período.
Segundo o Historiador, na capital paraense, até 1930, havia apenas uma emissora atuante na região e que faria história na radiodifusão no Norte do país: o Rádio Clube, a primeira emissora a surgir na Amazônia.
A emissora, de acordo com o historiador, era formada por um estúdio e posteriormente por um pequeno auditório. A Aldeia do Rádio tornou-se um ponto importante de atividade teatral, musical e de outros programas culturais locais que concorriam com as transmissões da Rádio Nacional e radiofônicas vindas de outros países, sobretudo do Caribe.
Somente na década de 1950, com o surgimento da Rádio Marajoara, ligada a Rede de Emissoras Associadas, uma empresa nacional liderada por Assis Chateaubriand, o empreendimento radiofônico ganhou outro “status”, argumenta o professor. Localizada no centro da cidade, a nova rádio contava com uma estrutura mais moderna e ampliada se comparada com a pioneira Clube. A Marajoara contava com um grande auditório, cassino e teatro.
“Seguindo esse padrão, a Rádio Clube vai procurar se modernizar. Se instala numa sede no que hoje é a Presidente Vargas, no edifício que foi construído sendo pensado para ser ocupado todo ele pela emissora, mas acabou sendo, por razões econômicas, ocupado apenas dois andares pela emissora”, conta o historiador que tem pesquisado sobre a cultura musical paraense nesse período.


A Era de Ouro
Marcada pela expansão dos investimentos em publicidade no rádio que proporcionou um ligeiro crescimento de renda e recursos nas emissoras, permitindo o surgimento, inclusive, de redes nacionais de rádio, como a emissora dos Rádios Diários Associados, a Era de Ouro registra na história nacional uma euforia relacionada ao novo meio de comunicação e sua possibilidade de gerar recursos, graças às primeiras concessões públicas cedidas ainda nos anos de 1930.
“É a partir dos anos 30 que surgem as concessões que permitem que as emissoras possam fazer propaganda, vender espaço para anunciantes, então é um momento de profissionalização da atividade das empresas. Mas, de fato, é apenas nos anos 40 e 50 que a expansão das redes e emissores, permitiu que elas ampliassem, por exemplo, o seu casting de artistas, de atores, de músicos, de locutores e diversificar a sua grade de programação com radionovelas, com programas de auditório, com programas musicais, enfim, com diversos tipos de atrações”, explica o pesquisador.
Com os investimentos em auditórios e a possibilidade de acompanhar as transmissões ao vivo e presencialmente, a programação radiofônica torna-se um espetáculo popular que passa a concorrer inclusive com os cinemas, com o teatro, com os teatros populares e outras atrações de entretenimento, popularizando artistas, músicos, vindos de outros lugares do país e até de outros países da América Latina.


Uma disputa “ao vivo e a cores”
Após a euforia dos anos de 1940 e 1950, o rádio passaria por momentos de calmaria na década seguinte. Com a chegada da inovadora televisão no Brasil, em setembro de 1950, e sua popularização nos anos de 1960 com as primeiras redes de alcance nacional, acabou por desviar os recursos dos anunciantes do rádio para as emissoras de TV. “Isso vai demarcar a derrocada, o encerramento da chamada Era do Rádio e, ao mesmo tempo, a transferência de muitos artistas, dos elencos das emissoras de rádio para as empresas de televisão e isso ocorre também no caso paraense”, lembra o pesquisador.
Sem financiamento, as emissoras de rádio passaram por dificuldades, chegando a se desfazer de parte de seu patrimônio, cedendo espaço para o cinema e a televisão. Com isso, o historiador considera que pouco do “rádio tradicional” permaneceu nos anos seguintes, “porque a programação”, argumenta o pesquisador, “era muito variada, era muito diversificada, não apenas centrada na execução musical. As radionovelas, os programas de auditório tinham um alcance muito grande, então, eu diria que nos anos 60, 70, isso foi desaparecendo. Nos anos 80 pouquíssimas eram as emissoras que teriam capacidade de ter tamanha diversificação de sua grade de atrações”.



O rádio digital
As mídias digitais trouxeram consigo os programas falados nos modelos dos antigos programas radiofônicos. Os Podcasts retomam, até certo ponto, formatos e estruturas, inclusive estéticas, dos antigos programas de rádio. “Mas, eu não vejo como programas de auditório e drama radiofônico voltem a ter um espaço importante na era dos streamings. Eu vejo muito mais o papel das emissoras de rádio na difusão musical. Essa é sua especialidade contemporânea e vejo que essa especialidade tende a se aprofundar”, argumenta o professor.
Mas e você? Ainda ouve rádio, ou isso é coisa do passado?