
Por Kelvyn Gomes/Imagem: Divulgação
Filho da cidade dos notáveis, como todo cametaense, o cantor e compositor Kim Marques se orgulha de suas origens que o influenciam até hoje. Reconhecido no meio artístico e cultural como um dos principais nomes da música paraense, sua trajetória ajuda a contar não apenas sua própria história, mas a história da música paraense e do brega, ritmo criado por ele e por outros artistas paraenses inspirados pelas músicas caribenhas que ouviam no rádio.
Em 2025, Kim, como é carinhosamente conhecido o artista que hoje mora no Telégrafo, o bairro dos artistas, região central de Belém, comemora seus 60 anos em grande estilo, em uma festa que reúne amigos artistas em uma casa de shows localizada no bairro da Cidade Velha em Belém. O Portal Jambu conversou com Kim Marques para conhecer um pouco mais sobre sua história e a história da nossa música.
“Eu cresci ouvindo rádio, ouvindo música caribenha. O som do merengue, da lambada, do zouk. Tudo isso me formou”. É com essa lembrança que o cantor e compositor cametaense relembra os primeiros sinais de uma paixão que se tornaria missão de vida: a música. O primeiro contato veio ainda aos dez anos, quando entrou na Escola de Belas Artes Mestre Penafort. A partir dali, buscou conhecimento, experimentou instrumentos e, aos 12 anos, já tocava violão e contrabaixo. “Aprendi pintura, que eu sempre gostei. Mas foi quando vi o professor Penafort dando aula de piano pra uma moça que tudo mudou. Fiquei encantado com o som, com a maneira que ele tocava. Acendeu a chama da música em mim”, relembra.
Não demorou até que participasse da primeira banda, “Os Castros”, formada junto com os filhos do Mestre Cupijó, figura emblemática da música do Baixo Tocantins. “Quando eu tinha uns 14 anos, comecei a acompanhar os artistas paraenses que faziam sucesso nos anos 80: Maxi, Mauro Cotta, Miriam Cunha, Márcia Rodrigues. Foi aí que decidi: eu quero ser cantor, eu quero ser artista. E é isso que eu tenho feito até hoje”.
Compositor com dezenas de músicas gravadas por artistas consagrados, ele se orgulha de ter feito parte de uma geração que renovou o brega paraense nos anos 90. “A gente veio pra mudar o olhar sobre a música. Até então era muito marcado por temas de pé inchado, sofrência, aquele cara que só fazia desgraça. A gente quis trazer romantismo, alegria, dança. Quisemos colocar palavras mais leves nas músicas, que tocassem o coração das pessoas”, relembra o artista, autor de hits como “A dança do brega” e “Beija-flor”.
As raízes indígenas e afro-amazônicas de Cametá também moldaram o jeito de Kim compor. “Meu avô tinha um roçado. Na época da colheita, tinha carimbó, tinha grupo de samba de cacete, tinha dança. Isso foi muito forte na minha vida. Eu componho muito em cima desses ritmos e trago sempre algo do que aprendi lá atrás”, lembra com carinho das terras do lado de lá.
Ativista do movimento, Kim Marques lembra que mesmo após a valorização do brega nos últimos anos, ele reconhece que o termo “brega” ainda carrega preconceito fora do Pará. Ele mesmo viveu isso na pele. Um dos momentos mais marcantes de sua trajetória foi ver uma composição sua ser cantada por mais de 40 mil pessoas num show em Pernambuco. “A barreira não é a música, é a palavra brega. Pra gente, brega é música, é cultura. Mas o mundo já foi invadido por essa música. A banda Calypso, por exemplo, levou a nossa batida pra milhares. Foi o primeiro show que fui da banda Calypso, em Recife. Quando vi aquela multidão cantando minha música. Nossa, o coração quase saiu pela boca. Isso é o que todo compositor sonha: ver sua música chegar nas pessoas”, lembrou com pesar, mas grande expectativa.
Mas não para por aí. Ele é idealizador do projeto A Sacada do Kim, que promove shows gratuitos com artistas locais no bairro do Telégrafo, em Belém, onde reside. “A ideia é ocupar o espaço público. O povo vive trancado atrás das grades, a rua tomada por quem não devia. Então a sacada veio pra isso: abrir janelas, dar palco pros artistas, pras famílias se encontrarem. E tem dado certo. Cada edição é um espetáculo”. A iniciativa também terá uma edição especial no Círio de Nazaré, com um palco-camarote montado para homenagear a padroeira com o ritmo brega. “Vamos ter dez artistas cantando brega pra Nossa Senhora. Vai ser emocionante. É a nossa fé e a nossa música juntas”, conta Kim que também é devoto de nazinha.
Animado com o futuro, ele vê na COP 30, que acontecerá em Belém em 2025, uma oportunidade única para os artistas amazônidas. “O mundo inteiro vai olhar pra cá. É o momento da gente mostrar a nossa música e a nossa Amazônia de forma positiva. Fazer canções com melodia, com letra, com beleza. E, principalmente, acreditar. Porque só dá certo quem faz”, destaca.
Hoje, aos 60 anos, ele se prepara para comemorar a data com uma grande festa na Casa de Show Na Beira, em Belém, nesta sexta-feira, 23 de maio. “Vai ser lindo. Vamos ter Edilson Moreno, Aninha, Joelson Pantoja, Kelly Paiva e vários outros amigos celebrando comigo. É uma família da música”. Os ingressos já estão à venda pela internet.
Por fim, aos novos compositores, deixa um conselho direto e afetuoso. “Vai pra cima, mano! Faz! Não escuta quem diz que não vai dar certo. Se tu fizer direito, dá. Tem que ser profissional, cuidar da tua carreira, do teu povo, e seguir até o fim”.