
Por Kelvyn Gomes/Imagem: Emmi
Outeiro, 132 anos
Conhecido como Outeiro, a Ilha de Caratateua, distrito de Belém, comemora nesta segunda-feira, 14 de abril, 132 anos de história. Neste aniversário, o Portal Jambu te convida a viajar no tempo e conhecer um pouco sobre o passado da ilha e como ela se conecta com a Europa.
Ao navegar pelas águas da Baía do Guajará em direção à Ilha de Caratateua, mais conhecida como Outeiro, a paisagem pelo caminho e do próprio distrito remetem inúmeras histórias. O processo de ocupação da ilha remonta ao século XVIII, ainda sob o regime de sesmarias, terras doadas pela Coroa portuguesa a alguns de seus súditos com o objetivo de estabelecer povoamentos e ocupar áreas.
As cartas de doação, embora imprecisas, como explica a historiadora Isabel Augusto, que dedicou parte de sua pesquisa à ocupação fundiária da região, indicam que as terras próximas às baías do Guajará, de Santo Antônio e do Sol eram cobiçadas tanto por quem já as ocupava quanto por quem as pleiteava junto às autoridades coloniais. “Havia uma sobreposição entre a legalidade das sesmarias e as posses espontâneas. Isso persistiu até bem depois da Independência, quando a Lei de Terras de 1850 tentou reorganizar a questão fundiária”, explica Isabel em sua tese de doutorado intitulada “Zonas de penumbra: a ilha de Caratateua e a hospedaria de imigrantes do Outeiro (Pará, século XIX)”.

A pesquisadora também conta que a ilha não era um espaço periférico ou subutilizado. As propriedades tinham características produtivas diversificadas, com destaque para a presença de olarias. Elas estavam inseridas nas dinâmicas da economia regional, principalmente com o crescimento da exportação da borracha no século XIX. E foi no final daquele século que a ilha ganhou novo destaque estratégico com a instalação da Hospedaria de Imigrantes do Outeiro, um projeto do governo provincial para atrair e controlar a chegada de estrangeiros ao Pará.
Para o pesquisador Marcos Antônio de Carvalho, a escolha da ilha como sede da hospedaria seguia um padrão visto em outras partes do país. “Hospedarias eram comumente construídas em regiões insulares ou portuárias, o que facilitava o controle sanitário e alfandegário dos imigrantes. A edificação em Outeiro foi pensada dentro dessa lógica”, afirma.
Levando em consideração tais padrões, a hospedaria foi instalada na antiga Olaria do Outeiro, comprada de Innocêncio Gaspar Monteiro Baena por cinquenta contos de réis, valor considerado razoável pela comissão encarregada de sua instalação, como conta Isabel. “O local oferecia acesso fluvial, boa ventilação, solo elevado e ausência de esgoto, o que atendia às exigências higiênicas da época”, relata a historiadora.
A estrutura tinha como missão abrigar, tratar e distribuir os imigrantes europeus pelos núcleos coloniais do estado. O governo prometeu assistência médica por dois anos, fornecimento de ferramentas e até lotes de terra. Mas apesar do projeto ambicioso, a política de imigração no Pará esbarrou em desafios logísticos, jurídicos e sociais. A hospedaria em si, no entanto, movimentou a ilha. “Trabalhadores foram contratados para abrir trilhas, limpar áreas de mata e construir pequenos acessos. Era o início de um redesenho do espaço local, subsidiado pelo governo”, completa Marcos.
Hoje, a Ilha de Caratateua é território de lazer, cultura e vida comunitária. Mas sua história revela um passado ambicioso. “É importante lembrar que essas práticas de planejamento territorial tinham implicações diretas sobre os moradores locais e o ambiente”, finaliza a pesquisadora.