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Nesta sexta-feira, 14 de março, na Casa da Cultura de Canaã dos Carajás (CCCC) estreia a exposição coletiva “Um Norte em Nós”, que reúne mais de 30 obras de 12 artistas de diferentes cidades do Pará. A inauguração contará com um bate-papo com o curador Henrique Montagne. A iniciativa, contemplada pelo edital “Casa Aberta Amazônia Paraense”, apresenta um panorama da produção visual da região por meio de múltiplas linguagens, como pintura, fotografia e videoarte, e propõe uma reflexão profunda sobre pertencimento, ancestralidade e conservação da Amazônia.

Por Kelvyn Gomes/Imagem: Divulgação

Para Montagne, que além de curador é artista e figura na cena contemporânea amazônica, a mostra surge como um espaço de diálogo entre diferentes perspectivas e territórios. “Trouxemos artistas emergentes e contemporâneos já estabelecidos, compondo uma costura de representações decoloniais que evidenciam tanto as diferenças quanto às semelhanças do nosso território. A arte se entrelaça à floresta e à cidade, da aparelhagem à luta por terra, convidando-nos a enxergar a Amazônia como um território de múltiplas respostas”, destaca.  

A presença de artistas de Belém, Ananindeua, Ilha do Marajó, Cametá, Abaetetuba, Breu Branco, Marabá e Canaã dos Carajás reflete a diversidade proposta na mostra. Entre os participantes estão Josué Castilho França, Mayara Yamada, Dias Júnior, Diana Figueroa, Diego Azevedo, Toninho Castro, Rafa Cardozo, Chico Ribeiro, Bárbara Savannah, PV Dias, Wendrell DiBlack e Victor de la Rocque, que, por meio de suas obras, constroem uma narrativa visual marcada por memória, identidade e resistência.

As obras da exposição transitam por temáticas urgentes da Amazônia contemporânea. PV Dias, por exemplo, investiga as camadas da urbanização e os rastros da floresta dentro da cidade. “Nosso território está em constante mutação, mas há algo que permanece: a memória das águas que um dia correram por aqui. Já existiu um igarapé sob essa avenida, havia uma floresta por trás desse prédio. E o que nos resta dessas lembranças?”, questiona o artista na obra em exposição.  

Toninho Castro, outro artista da coletiva, busca capturar, em suas fotografias, a força dos festejos populares ribeirinhos, como o Cordão da Bicharada, carnaval tradicional das comunidades amazônicas. “A gente precisa ser mais bicho do que gente para entender a natureza. A arte tem esse papel de resgatar nossa relação com ela”, reflete o fotógrafo.  

A cultura da aparelhagem, um dos elementos da musicalidade amazônica, também está presente nas imagens analógicas de Diana Figueroa, que celebram a potência das festas eletrônicas da região. “A aparelhagem é um fenômeno único da nossa cultura, um espetáculo audiovisual que movimenta multidões. Quero mostrar como esse cenário se reinventa e continua vivo na Amazônia contemporânea”, explica a artista.

Para Montagne, a diversidade de abordagens e temas é o que torna a mostra tão significativa. “Seria ousado tentar sintetizar, em uma única exposição, a complexidade do território amazônico. Ainda mais ao falar da Amazônia paraense, que, por si só, já carrega inúmeras particularidades. Mas vejo aqui um desafio solucionado com muito cuidado. Como uma poesia que precisa ser lida. Uma paisagem que precisa ser vista. Um rio que precisa ser navegado”, reflete o curador.  

Oficinas gratuitas 

Além da exposição, a Casa da Cultura de Canaã dos Carajás promoverá a oficina de Pintura Tridimensional com a artista Bárbara Savannah, voltada para crianças de 10 a 14 anos da EMEF Luís Carlos Prestes. A atividade, que também integra o edital Casa Aberta Amazônia Paraense, busca incentivar a experimentação artística ao mesclar pintura e escultura. “Muita gente olha uma obra e se pergunta: Eu conseguiria fazer isso?. As crianças, principalmente, vivem essa inquietação. Quero mostrar que, sim, é possível criar, pintar e inventar, mesmo com poucos recursos”, afirma Bárbara.  

Vinda do Marajó, a artista destaca a importância de descentralizar o acesso à arte. “Cresci no interior e sei como é difícil ter contato com exposições e oficinas. Mas quando essas experiências chegam até nós, elas podem mudar vidas. A arte liberta a criatividade e destrava o pensamento”, completa. 

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