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Com roda de conversa, sarau de poesia e apresentações artísticas, o professor e fotógrafo Rafael Fernando lança, neste sábado, 14 de dezembro, às 16h, no Gueto Hub, no Jurunas, seu mais novo livro: “Devir periférico do esperançar”. A obra foi contemplada pelo Edital de Chamamento Público Livro e Leitura da Lei Paulo Gustavo. 

Por Kelvyn Gomes/Imagem: Divulgação

O livro, com quase 200 páginas, é uma coletânea de suas observações e relatos de vivências e lutas da população periférica de Belém durante o período da pandemia de Covid-19, abordando as adversidades enfrentadas pela população negra e periférica, que observa as violências e desigualdades que atravessam as questões de gênero, classe, raça e sexualidade. Mais do que relatar as dificuldades,  a obra celebra a resistência e a força de vida que emerge diante das adversidades.

“Acho que é muito importante que uma escrita parta, seja organizada, a partir de nossas vivências, né? Como no trabalho acadêmico, como em qualquer outro lugar. Acho que as nossas experiências potencializam as nossas visões de mundo e também elas ajudam a ter uma visão e dimensão crítica para a realidade, né? Não aceitar tudo que nos vendem como realidade, ou nos oprimam, né?”, argumenta o autor ao comentar sobre o perfil adotado em sua escrita.

Rafael declara que seu livro são “narrativas”, não “poemas” ou “poesias” que, para ele, “emanam uma lógica normativa, engessada e retrógrada”. Suas histórias são, no entanto, inquietações ativas de sonhos não vividos. “A gente só vê referenciais na escrita com uma métrica, uma estrutura, toda uma organização com palavras difíceis que nos convidaram a escrever e bom, eu não parto desse padrão de escrita com versos e prosas, né? Das divisões bem estabelecidas. Acho que a minha escrita, eu parto de uma escrita da liberdade, né? De escrever corrido, de escrever um verso embaixo de outro verso, de as vezes parecer que o poema não quer terminar”, considera Rafael.

Com prefácio da professora e jornalista Alessandra Adão, “o livro ressalta a urgência e a potência da escrita de Rafael Fernando”, afirma a especialista em Ensino e Relações Étnico-Raciais. Para ela, Rafael, através da sua literatura, não apenas narra, mas também denuncia e reflete sobre um sistema social que marginaliza e oprime. Alessandra considera o livro como um convite para a ação, um chamado para a resistência e para a busca por formas criativas de (re)existir.

As palavras de Rafael Fernando se conectam com as de importantes pensadores e ativistas negros, como Beatriz Nascimento, Frantz Fanon, Carolina Maria de Jesus, e Conceição Evaristo, criando um espaço onde o afeto, a denúncia e a ação coletiva se tornam instrumentos de transformação. A obra também busca refletir sobre a necessidade urgente de se narrar as experiências vividas pela população periférica, muitas vezes silenciadas pela história oficial.

Através de uma narrativa forte e contundente, “Devir Periférico da Esperança” compartilha a dor, mas também a esperança e a força do povo periférico, que, apesar de todas as adversidades, encontra maneiras criativas de ressignificar a violência e transformar a raiva em ação coletiva. “A poesia é, antes, o espaço onde eu coloco o meu afeto, onde eu coloco o meu amor, coloco a minha indignação, a minha raiva, minha vontade de querer transformar toda essa visão que me é repassada por quem quer dominar, quer regular as nossas subjetividades nesse mundo”, explica Rafael sobre sua visão em relação à poesia.

A obra de Rafael Fernando, ou Rafael da Luz, como o artista é conhecido, abraça a oportunidade de nos permitir repensar as maneiras de ler o mundo que colocaram as periferias em um lugar do “não ser”. O autor considera que um “Devir periférico da (re)sistência” propõe que as populações das periferias sejam protagonistas, ativistas de um movimento coletivo. “Eu falo desse lugar de apagamento e brutalidade ao qual a gente é submetido e da possibilidade de tornar-se esse ser que é inconcluso. E essa inconclusão, esse ‘não ser’ é a possibilidade da criação. Tornar-se, é pensar na ideia da resistência, aquilo que a gente é, ainda não tá definido e ele nunca será definido por essa visão hegemônica do que é periferia aos olhos de quem tem poder”, reflete o fotógrafo que também tem trabalhos que abordam as imagens da periferia como centros, sobretudo de afeto.

Rafael Fernando comenta também que seu livro demarca um lugar político assim como a poesia. O autor de “Devir periférico” considera que este pseudo apartidarismo coloca as periferias em um lugar de passividade que se sujeita as construções imagéticas criadas sobre os espaços periféricos. “Quando eu falo de um livro político, eu falo dessa visão, dessa postura que nós assumimos, né? De um movimento educador, um movimento periférico, de engajamento, de mobilização social que está apoiado em todas essas histórias, né? Dessas pessoas que resistiram no tempo e encontram práticas criativas para reexistir contra o apagamento histórico. Então quando eu falo num livro político é porque ele é. A periferia não pode não ser política, a partir de suas histórias, de seus processos históricos de resistências, de tudo que se construiu”, concluiu.

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