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É sobre esse tema que a ecóloga colombiana Brigitte Baptiste, especialista em biodiversidade e teoria ecológica, conversou com o Portal Jambu. A ecóloga falou também sobre a sua trajetória profissional, questões ambientais e cultura amazônica. Aos 61 anos, influenciada pela sua identidade como mulher transgênero, ela tem discutido e apontado como a teoria queer e as questões ambientais são temas que se cruzam e podem ajudar a combater as mudanças climáticas.

Por Kelvyn Gomes/Foto: Fabrício Reis

O nascimento de uma ecologista

Brigitte Baptiste entrou em contato, pela primeira vez, com as questões ambientais ainda quando estudava arquitetura. Ela lembra o gosto pelos estudos relacionados à agricultura e às artes, até chegar à faculdade de arquitetura e descobrir que “eu não tinha talento”, contou bem humorada. Foi nesse processo de mudanças que ela se aproximou dos temas ambientais, ainda na década de 1980. “Passei a entender que existia a ecologia e a ecologia se estudava na faculdade de Biologia. Assim eu fui estudar biologia para fazer ecologia. E assim foi nos meus últimos 40 anos de vida, dominados pela ecologia”, contou Brigitte.

Mulher transgênero, como ela mesma se apresenta, a ecóloga considera que seu entendimento sobre a relação entre ecologia e diversidade sexual e transgeneridade foi tardia em sua carreira como pesquisadora e sua vida como uma mulher transgênero. Ela explica que essa “demora” estava relacionada ao seu entendimento sobre si mesma. “Demorou muito tempo porque eu pensava que eu era uma pessoa má, uma pessoa doente, que eu não devia me mostrar como eu sentia que era. Era um tempo em que não haviam tantas pessoas transgênero”, esclarece a pesquisadora.

O nascimento e amadurecimento de Brigitte, sua “nova” identidade, hoje com 25 anos, afirma a bióloga sobre si mesma, permitiu que ela encontrasse muitas coisas na ecologia que a fizeram entender sobre sua diversidade de gênero. A cientista é uma referência no assunto discutindo o tema a partir de conceitos como “Ecologia Queer” e “Trans Ecologia”.

O futuro está na diversidade

Brigitte acredita que a trans ecologia é um caminho possível para entendermos as mudanças mais radicais na organização de determinados sistemas ecológicos como uma forma de compreender e organizar de maneira positiva essas mudanças. Ela associa sua definição à sua própria experiência de vida. “Como uma pessoa trans que passou de uma vida organizada, porém frustrante, em duas, três semanas tomou decisões reorganizando sua vida de uma maneira positiva, ainda que um pouco traumática. Por isso, a trans ecologia, acredito eu, pode nos ajudar a entender as mudanças climáticas, as crises sociais, como momentos críticos, mas que podem ser reorganizados de maneira positiva”, enfatiza a especialista.

A justiça climática tem estado no foco do debate sobre as mudanças climáticas. Especialistas entendem que pessoas e grupos historicamente vulnerabilizados são os mais afetados pelos resultados catastróficos das tempestades, enchentes, crises hídricas, ou excessos de calor e chuva. A teoria defendida pela especialista colombiana permite observar que a “diversidade é resultado de um processo de adaptação e evolução”, explicou. “Produz inovação e novas capacidades de criar mais diversidade, num círculo criativo permanente”, continua.

“Se destruímos parte dessa diversidade, se não a reconhecemos, se a censuramos, se há discriminamos, estamos em um exercício auto destrutivo. Por isso é tão importante reconhecer e fortalecer todas as formas de expressão, de todos os grupos étnicos humanos, de todas as expressões de gênero, de todas as idades, para construir novas capacidades para enfrentar as mudanças”, concluiu Brigitte.

Na Amazônia, um futuro possível

Essa é a segunda vez que Brigitte vem a Belém. Em outra oportunidade, ela havia conhecido a cidade e outras regiões do estado como a Ilha do Marajó, para discutir temas relacionados às suas pesquisas em ecologia e redes de desenvolvimento rural. Dessa vez, sua visita foi motivada pela participação no Fórum Arte Pela Justiça Climática, promovido pela Prince Claus Fund em parceria com a Open Society Foundation, organizações internacionais de fomento às artes como estratégia de mitigação das mudanças climáticas.

“É sempre fenomenal estar na boca do Amazonas, por razões geológicas, históricas, ecológicas e culturais também, porque é um acalorado da história do continente, da colonização, do contato entre povos indígenas, negros, europeus, que influencia muito o resto do continente”, afirma Brigitte. Ela reconhece que estar na porção oriental da Amazônia lhe empolga pela oportunidade de observar toda a potencialidade da diversidade da região, comparando seus estudos na Colômbia com suas observações na Amazônia paraense. “Isso tudo dá muita esperança, por tudo que estamos passando: o fogo, o extrativismo, a pobreza, as lutas sociais. Aqui eu acredito que está a chave para o futuro do planeta”, sinaliza com entusiasmo.

Brigitte também comentou sobre os desafios e a importância de fortalecermos a identidade latino-americana. A pesquisadora entende que mesmo com histórias que divergem e outras que convergem, uma forma de dizer que mesmo com tantas distinções, temos como similaridade o fato de estarmos submetidos aos extrativismos contemporâneos ainda resultado dos processos de colonização.

“Estamos igualmente submetidos aos extrativismos contemporâneos: minerais, petroleiros, de todos os recursos. Aqui, o açaí, na Colômbia a coca e seguramente muitos outros recursos que estão também desaparecendo e ficando fora do acesso da população sem uma compensação justa e equitativa. E por isso, falamos de justiça não só climática, mas de justiça global”, explica a pesquisadora.

Mas a identidade latina não está sujeita apenas aos processos de exploração. Baptiste considera que nossa identidade é mesclado pelo “humor indígena que é fabuloso, com a paixão pela vida dos povos africanos e temos uma mistura de seus componentes dramáticos, que é assim que nós, latinos, hoje em dia, podemos dizer que a nossa bomba nuclear é a festa”, concluiu sorrindo.

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