Por Rafael Arcanjo | Foto: Felipe Vilhena
O Fórum “Arte pela Justiça Climática”, evento promovido pelo Prince Claus Fund em parceria com a Open Society Foundations, agitou a cidade de Belém durante a última sexta (20) e sábado (21), no Curro Velho, em Belém. A programação foi intensa e diversificada, relacionando rodas de conversa, apresentações culturais, exibições de filmes, oficinas e muito mais.
O Clima e a Arte no centro das rodas de conversa
O evento contou com quatro rodas de conversa. A primeira, intitulada “Recriando e Reimaginando Futuros Possíveis no Presente”, foi a que abriu a programação do Fórum na manhã de sexta-feira, com a participação de Rosa Chávez (Guatemala), Gabriela Luz (Brasil), Chemi Rosado Seijo (Porto Rico) e mediação de Yara Costa (Moçambique).
Em entrevista ao Portal Jambu, Yara considerou o momento atual de crise climática algo urgente, mas que, com o evento, teve uma oportunidade de conexão sem antecedentes com outros artistas. “A partir dessa crise (climática), a gente está se conectando, mas isso é a primeira camada. Essa urgência, essa crise que nos toca a todos, em menor ou maior grau, direta ou indiretamente, mas a partir dela a gente discute outras coisas, outras possibilidades de viver, de existir, compartilha e se enriquece nessa diversidade. Então, ainda que pareça romântico e tragicômico, talvez essa crise era o que a gente precisava para fazer essa reconexão”, é o que comentou Yara Costa.
Pela parte da tarde aconteceu a segunda roda de conversa, que abordou questões relacionadas à noções de terra, território e pertencimento mundo afora, tendo como mediadora a equatoriana Ixchel Tonāntzin. Durante o debate, Ixchel fez uma pergunta a todos os palestrantes acerca do que seria a terra ser livre para eles. Tareq Khalaf, artista palestino, considerou a liberdade como um modo de se viver, e não um destino. Além de Tareq e Ixchel, fizeram parte do debate a brasileira Jane Cabral, a sul-africana Zayaan Khan – que também participou da curadoria do evento –, e do também equatoriano Fredy Papilo Gualinga
A terceira roda de conversa aconteceu na manhã de sábado, e contou com a participação da sul-africana Molemo Moiloa, da são-martinhense Deborah Jack e do brasileiro Thiago Maiandeua. Moderada pelo palestino Benji Boyadgian, a conversa abordou o significado de ética em contextos nos quais artistas, agentes culturais e ativistas precisam encarar sistemas sem regulamentação que regem os setores artísticos e culturais. Durante este debate, cada artista apresentou um pouco de seu trabalho e de sua realidade enquanto alguém que trabalha com a arte. “Eu penso que foi uma conversa muito agradável, com momentos de emoção intensa e dificuldades, porque as pessoas estão trabalhando em circunstâncias bem difíceis (…) A arte não está descolada das nossas realidades, e eu penso que é muito importante que os artistas possam expressar seus trabalhos como indíviduos”, apontou Molemo Moiloa, em entrevista ao Portal Jambu.
A última roda de conversa, no sábado à tarde, abordou o conceito de “Imaginação Socioambiental”, e como a arte e as atividades culturais podem expor desastres socioambientais e servirem de inspirações para soluções coletivas. Com a participação de Sofía Acosta, do Equador; Pelé do Manifesto e Salete Cunha, do Brasil; e moderação de Coletivo Etcétera, da Argentina. Pelé, grande nome da cena paraense de rap, encerrou a roda de conversa mostrando seu talento como cantor, tirando o público do chão e colocando todos para dançar.
Oficinas e a exibição cinematográfica
Foram realizadas no decorrer da programação oito oficinas de temáticas diferentes, mas levando como fio condutor diferentes expressões artísticas e como usá-las para transformar realidades. Da ecologia ao lambe-lambe, da performance sonora como artifício de ativismo à contação de histórias, os ministrantes das oficinas vieram de vários lugares do globo. Ásia, Américas e África, cada curso permitiu ao público conhecer diferentes formas de se expressar arte e como usá-la.
No campo do cinema, foram exibidas seis produções audiovisuais, todas com a participação de seus diretores. As temáticas dos filmes são diversas, de uma grande expressão da cultura popular paraense – o Carimbó – a um documentário experimental sobre a história do fosfato na Argélia, as produções apresentam visões muito específicas das mentes que as dirigiam. Na maioria, questões sociopolíticas locais, regionais e globais foram abordadas.
Artes performáticas e apresentações culturais
Já no campo das performances, o Fórum teve, ao todo, cinco performances de artistas locais e internacionais. A primeira delas, “Ao Buscar Minhas Raízes, Sinto-me Arrancado”, da indiana Lapdiang Syem, abordou a mineração e o extrativismo no estado de Meghalaya, Índia, a partir de poemas escritos pela mãe da artista. Sofía Acosta, Grey Filastine e o poeta icoaraciense BorBlue também realizaram performances durante os dois dias do evento.
Para o encerramento do Fórum, Grey Filastine e Nova Ruth apresentaram “Arka Kinari ‘Em Terra’”, uma performance documental que combinou vídeo, música e histórias sobre a viagem do navio Arka Kinari, uma embarcação de 70 toneladas transformada em plataforma cultural por eles para soar o alarme da crise climática. Aconteceram, também, duas rodas de carimbó: uma comandada pelo grupo Os Quentes da Madrugada, de Santarém-Novo; e outra pelo grupo Sereia do Mar, da Vila Silva, em Marapanim.