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O professor e historiador Michel Pinho tem uma legião de seguidores nas mídias sociais. São quase 180 mil pessoas interessadas em ouvi-lo contar as histórias de Belém. Mas sua relação com a História e a história da cidade começa bem lá atrás, quando o pequeno Michel ouvia as histórias contadas por seus pais e avós.

Por Kelvyn Gomes | Fotos: Reprodução Instagram

Filho de uma marajoara e um belenense, Michel Pinho ainda guarda na memória as histórias que ouvia dos pais. Da dona Graça, sua mãe, sua história preferida era a da moça que teria virado pedra lá no Marajó. Do seu Antônio, o pai, o cotidiano da cidade de Belém, do Reduto ao Guamá, por onde a família Pinho passou. Mas a maior motivação para que Michel se tornasse professor-historiador foi a coleção de jornais que o avô reuniu por mais de 30 anos. Uma história vivida e registrada nas páginas de cada um dos cadernos da coleção.

“Eu te diria assim, que o maior pulo foi o meu avô, porque ele tinha uma coleção de jornais de 30 anos, que ele colecionou durante 30 anos. E ele separava por assunto. Então: futebol, portos, política. E quando eu chegava tarde da escola, eu ia lá conversar com ele e ele tava sempre lendo jornal e a gente sempre conversava sobre esse passado que ele não só conhecia, mas também tava registrado. Então, eu acho que era muito difícil não ter virado historiador com uma história dessa”, lembra Michel com um sorriso no rosto.

Michel Pinho é licenciado e bacharel em História pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Sua formação foi atravessada por oportunidades e pessoas que ele guarda e lembra com carinho até hoje. À época, o jovem Michel havia sido o quarto lugar geral do vestibular, o que lhe permitiu acessar uma bolsa que o ajudou a manter os estudos na graduação. Foi a oportunidade de mergulhar nos livros. Ele se orgulha, ainda hoje, de conhecer cada canto da biblioteca que foi sua segunda casa enquanto cursava história.

Também na faculdade, o jovem estudante foi atravessado pela paixão que compartilha com Leonardo Affonso Pereira e Maria de Nazaré Sarges. Michel ressalta a importância e o impacto de ter convivido com professores que dialogavam com seus alunos, e como isso lhe influenciou para também ser um professor aberto ao diálogo. Com um Trabalho de Conclusão de Curso dedicado a história do nascimento do futebol em Belém, no início do século XX, Michel herdou de Leonardo Pereira a “payxão” pelos estudos sobre a história do futebol; e de Naná, como é carinhosamente chamada a professora Maria de Nazaré, os estudos sobre a história de Belém.

Sim caros leitores, Michel Pinho, como todos nós bem sabemos, é bicolor. Torcedor do Paysandu, ele explica que sua “payxão” pelo clube é patrimônio familiar, herdado dos pais e do avô, e deixado como legado à pequena Júlia, de cinco anos, sua filha com a também professora e arquiteta Taynara Gomes. Mas não é apenas o amor pelo clube que Júlia compartilha com o pai. Logo cedo a menina já demonstra interesse pela história e saí por aí dividindo tudo que aprende com o papai historiador.

“Quando ela tava de quatro pra cinco anos, foi quando ela começou a falar sobre as praças. Então ela passava nas praças, ela reconhecia: essa é a praça Batista Campos, essa é a praça do (Belém Porto) “Futuro”, essa é a praça da República. Então hoje, ela tem um outro interesse. Ela estuda em frente ao cemitério da Soledade, então toda vez que eu vou buscá-la, ou toda vez que passamos em frente ao cemitério da Soledade, ela pede pra entrar pra que eu explique pra ela, entendeu? E é muito legal ver isso, né? Porque ela começa a perguntar o que é cólera, o que é varíola, o que é esse símbolo. E ela adora. E eu descobri que ela conta isso pras amigas dela, entendeu? Isso é muito legal”.

Suas paixões não cabem no peito, sequer em uma sala de aula, por isso ele e seus alunos tomaram as ruas. Inquieto e andarilho, ele sempre tá circulando pela cidade e buscando em trabalhos de colegas e acervos históricos e digitais, possíveis explicações para suas dúvidas e indagações sobre a história de Belém, que resultam em aulas permeadas por uma história que geralmente não está nos livros didáticos, uma história complexa e ao mesmo tempo saborosa de ouvir. Daí surgem as aulas públicas que saíram, em 1999, de um pequeno grupo vindo de Marabá, a algo em torno de 700 pessoas percorrendo as ruas dos bairros do Reduto, Campina e Cidade Velha.

Quem o acompanha nas mídias sociais compartilha desse gosto pela história da cidade, contada em 90 segundos, o tempo de um vídeo do Instagram, onde o historiador já ultrapassou a marca de 100 mil seguidores, ou como ele ressalta: “pessoas interessadas na história da cidade”. Os números chamam atenção e os vídeos comprovam. Se lá no começo o companheiro de trabalho, um pequeno megafone, dava conta da turma de 20 pessoas, na última aula sobre a história da Avenida Presidente Vargas, Michel precisou, quase como em uma micareta, subir em um pequeno trio elétrico. Até um caramelo participou da aula nesse dia.

A história de Belém inspira e Michel Pinho tem sido um instrumento dessa inspiração, alcançando grupos diversos, colaborando para o desenvolvimento de uma história crítica, de interesse público, em todas as suas camadas e estratos, de 1616 a 2024,“de Val-de-Cães ao Guamá”.

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