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Por Kelvyn Gomes | Fotos: Reprodução Estúdio Tango

Incorporando elementos de grupos outrora marginalizados como ritmos africanos, a cultura milonguera, que envolve todos os aspectos do tango, tem ganhado espaço em Belém. Muito comum no sul do Brasil, mas principalmente em países como Argentina e Uruguai. O estilo deu origem ao tango, no começo, era apenas tocada e dançada, com o passar do tempo passou a ser cantada. As músicas contavam sobre as dificuldades e o cotidiano dos imigrantes.

Em Belém, o Estúdio Tango promove a cultura milonguera com aulas e encontros abertos ao público. Segundo Marco Campos, professor de dança e responsável pela escola, o espaço é voltado para a divulgação da cultura milonguera de modo geral, e do tango como uma dança “para civis” e não apenas bailarinos. O maestro, como são chamados os professores de tango na Argentina, conta que a ideia de abrir uma escola de dança em Belém veio a partir de memórias afetivas acionadas pela música e pela dança. “Eu percebi que era muito compatível com a imagem que eu tinha das danças, dos meus pais e da periferia daqui”, contou o professor..

Paraense de nascimento, seu interesse pelo tango e pela cultura milonguera surgiu quando morava no Rio Grande do Sul, durante uma programação em alusão ao Dia Internacional do Tango. “Eu fui convidado para tocar em uma das oficinas do evento e havia uma moça passando, apressada, mas meio curiosa. Então o professor a chamou e perguntou se podia fazer uma demonstração. Ao final de uma caminhada, o que me chamou atenção foi a mudança no rosto dela. O semblante que era de curiosidade mudou para o de relaxamento com a cabeça no colo dele. Isso foi numa sexta-feira, na segunda eu me matriculei”, contou entusiasmado.

O prédio onde funciona a escola, localizada no bairro da Campina, foi um achado para Marco. Ao retornar a cidade já com a ideia de abrir um espaço voltado à dança, percebeu que o piso do antigo casarão era compatível com a experiência dele nos salões de Buenos Aires. O responsável pelo espaço comenta também que deseja otimizar a prática espontânea que o paraense já tem com a dança, ressaltando estudos que apontam o tango como uma forma de terapia. “O tango tem um aspecto comunitário. Há estudos sobre algumas doenças, da idade, degenerativas, Parkinson que apontam que o tango é muito importante como forma terapêutica. Então a gente também tem esse foco de trabalhar o movimento como forma de retardo da doença”, contou ao portal.

Hilda Coelho, aluna e frequentadora do grupo formado hoje por mais de 20 pessoas, conta que desde muito jovem tinha interesse pelo ritmo. “Eu ficava horas ouvindo tango, procurando músicas e, com a internet, assistindo as pessoas dançando. Até que um dia, depois de adulta, eu vi o anúncio de uma degustação de vinho e show de tango. Aí vi a marcação do estúdio, vi fotos do Marco e me questionei se podia ir fazer. Foi aí que meu marido e minhas filhas me incentivaram e eu busquei realizar esse sonho. Eu vim e já tô aqui há quatro anos”, contou a aluna.

No Pará, essa tradição vem de longe. “Ainda muito jovem, Wilson Fonseca, o Maestro Isoca, ao visitar um daqueles navios de cruzeiro que atracou em Santarém e que nunca tinha visto o pessoal dançando, apesar de já ter ouvido tango pelo rádio. Então ele compôs um tango. Aí tempos depois ele entregou ao maestro que tinha mostrado pra ele as partituras de tango. Esse tango foi composto entre o fim dos anos 40 e começo dos anos 50 e só foi gravado agora em 2016 quando Vicente Malheiros, filho do mestre Isoca ajudou no processo de gravação”, lembra Marcos que além de instrutor é pesquisador da cultura milonguera.

Ele lembra também que em Belém havia milongas em diversos locais como na Terra Firma, na Pedreira, no Jurunas. “Tocava-se tango no Brasil, mas costumavam chamar de maxixe para alguns tipos de tango. Então quando compunham maxixes, eram tango”.

O Estúdio Tango funciona de segunda a sábado com aulas sempre a partir das 18h. Além da dança, o estúdio promove aulas de música e musicalidade e violão. Além dos encontros entre os admiradores da cultura milonguera. Os responsáveis pelo espaço convidam os curiosos a conhecer o estúdio fazendo agendamento para aulas experimentais ou visitas.

Respostas de 5

  1. Matéria fala de cultura real. Não sabia da “ponte” entre nosso Maestro e a cadência portenha.
    Imperdível.

  2. Belem tem um passado milongueiro, importante a divulgação deste fato e o ressurgimento da prática em forma de Bailes de Milonga.Adorei a matéria!

  3. Minha paixão pelo tango se deu através de uma apresentação, a uns 2 anos atrás, em uma escola de dança de salão, foi aí que conheci o Marcos Campos que hoje é o meu professor,uma escola que não é só uma escola, somos uma família que compartilha o mesmo amor,o tango.

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