Por Kelvyn Gomes | Foto: Gerson Bruno
Hoje, 01 de junho, está oficialmente aberta a temporada das festas juninas. A gente já pode tirar a camisa xadrez do armário, correr para o Comércio, comprar as bandeirinhas, o patchouli e os ingredientes do mingau.
O mês de junho é marcado pelas comemorações católicas das festas juninas, ou, como dizia antigamente, joanina, uma homenagem a São João Batista. No Brasil, os festejos vão de ponta a ponta, cada região com sua particularidade. Do Boi Bumbá, ao Bumba Meu Boi, o casamento na roça, a quadrilha Junina, o forró, o coco peneruê, o pau de fitas, carimbó, lundu marajoara e o pássaro junino. São tantas camadas de uma mesma história que fica até difícil de saber por onde começar. A única certeza é: em junho a gente é feliz.
Estima-se que os festejos tenham como referência as cerimônias praticadas no Norte da Europa para demarcar a chegada do verão. No solstício, as comunidades se reuniam em celebrações em torno de fogueiras para espantar maus espíritos, e garantir boas colheitas na nova estação. A igreja católica, em seu processo de expansão para angariar novos fiéis e súditos aos seus reis, condenaram essas práticas. Mas não as eliminaram, ao contrário, as assimilaram ao calendário religioso cristão. De uma festividade pagã, passaram a homenagear santos católicos, sendo João Batista o primeiro a ser considerado.
Trazida ao Brasil pelo colonizador europeu, os festejos joaninos encontraram aqui, mesmo sob a pressão das dinâmicas coloniais, formas de ser e estar, fazendo com que a festa junina, ou os folguedos juninos, caíssem nas graças e no gosto do brasileiro. Uma marca comum nas nossas festas são as receitas com milho, uma espécie nativa da América e ausente no velho continente. São pelo menos cinco tipos principais de grãos e o mais comum, o milho verde, rende uma porção de receitas para “comidas típicas” nessa época. São mingaus, bolos, tortas e bolinhos, com coco, queijo ou goiabada.
Na Amazônia, além do milho, a mandioca e seus subprodutos também são protagonistas. Planta nativa domesticada há milhares de anos pelas populações locais originárias, inapropriada para ser consumida in natura, foi muito bem amansada e faz parte da cultura alimentar das populações da região. De molho, cozida, assada, torrada, nessa época do ano ela costuma ser consumida também em mingaus, mas principalmente nos bolos de macaxeira e podre.
Por ser considerada uma festa “regional” comumente associada ao Nordeste do país, outras regiões assimilaram, além do forró e da quadrilha, seus ritmos locais. As quadrilhas juninas são um espetáculo à parte. Tiradas dos grandes salões franceses, suas coreografias e roupas nada convencionais com seus babados e acessórios extravagantes, as quadrilhas, suas misses e misters desfilam a cultura popular nas quadras e terreiros onde se apresentam.
Também tirado do seio das elites, foram os cordões de pássaros. Grupos formados por homens, mulheres, crianças e idosos, os cordões de pássaros, contam os historiadores, nasceram durante a Belle Époque da Amazônia. Influenciados pelos grandes espetáculos de companhias internacionais vindas para se apresentar no Teatro da Paz, principalmente as óperas, a população mais pobre, inspirada pela cultura ribeirinha amazônica, principalmente pela fauna e pela flora presentes na vida e no cotidiano, ou nos contos transmitidos de geração a geração, ajudam a recontar a história, a defender o meio ambiente e a divertir os espectadores.
Enfim junho, em todos os cantos desse Brasil!