Da Redação | Foto: Rafaela Kennedy
CROA, primeiro disco do artista trans Flor de Mururé, chegou a todas as plataformas digitais na última sexta-feira, 24 de maio, como um manifesto de fé e resistência LGBTQIA+. O trabalho é resultado do acúmulo de vivências de Flor, que sai de casa muito jovem, ainda aos 16 anos, diante de tensões familiares relacionadas a sua orientação de gênero.
No Candomblé e na Umbanda, “croa” está relacionado ao termo “coroa”, usado para descrever a coroa de um orixá. Para Flor, o disco é uma forma de agradecer às entidades que regem sua cabeça, seu ori. Em CROA, Flor traz, de forma única, suas vivências como homem trans e a relação de afeto, cura e aquilombamento de corpos dissidentes através das religiões de matrizes africanas e originárias, que celebram orixás, voduns, guias e caboclos. Com sua poesia política e religiosa, CROA traz ritmos como coco, hip hop, guitarrada, pop, carimbó e outras sonoridades amazônicas.
Também como manifesto LGBTQIA+, o trabalho traz diversos artistas trans que fazem parte do disco: Anastácia Marshelly, Valesca Minaj, Mulambra, Rafaela Kennedy, Rafaela Cardoso, Iris da Selva, Borblue e Isabella Pamplona são alguns dos talentos do projeto, desde concepção, identidade visual ao coral. “São mais de dez artistas trans. E eu quero incluir mais ainda pessoas trans, pra que o mundo nos conheça”, diz Flor.
Outros talentos de diversos locais do Brasil e do mundo se reúnem para erguer CROA. Grande artista baiano, o poeta e violonista Tiganá Santana é uma das maiores estrelas do disco. Lendário grupo da Amazônia, o Trio Manari faz a percussão em quatro faixas do álbum. Manoel Cordeiro, um dos maiores mestres da guitarrada do Brasil, também mostra seus acordes no disco. De Recife, da Nação Xambá, o Grupo Bongar se faz presente em CROA mostrando a relação tecida entre religião de matriz africana, percussão e voz. Suíço radicado no Brasil, Thomas Rohrer toca rabeca em duas faixas. O norte-americano Mitchell Long, que toca violão em CROA, é multi instrumentista e pesquisador da sonoridade crioula.
Com recursos captados a partir do Programa Estadual de Incentivo à Cultura, a Lei Semear, o projeto de Flor de Mururé conta uma história de superação e de transformação em seu álbum. Para André Magalhães, que assina a produção do disco, CROA é muito forte e precisa ser mostrado para a sociedade. André também considera Flor como uma novidade do Norte com grande potencial para ser um grande artista fora do eixo Rio-São Paulo.
Álbum disponível nas principais plataformas de streaming de música.