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Da Redação | Fotos: Nay Jinknss

O rapper paraense Daniel ADR lançou na última sexta-feira (29 de março) o álbum “Black Christ”, que retrata Jesus Cristo como uma pessoa preta das periferias da Amazônia. O álbum reúne dez faixas que englobam os estilos trap, drill e rhythm and blues, e conta com participações especiais de Anna Suav, jvm LEO, Leonardo Pratagy e Lia de Itamaracá. “Black Christ” é o primeiro álbum do rapper, que surgiu também para celebrar seus dez anos de estrada como músico. O projeto foi realizado através do edital Natura Musical e já pode ser ouvido em todas as plataformas digitais.

Em “Black Christ”, Jesus Cristo deixa de ser essa figura nascida no oriente médio e de origem israelita e torna-se um homem preto que surge das quebradas da Amazônia. O mártir no trabalho evoca pautas sobre o racismo e sobre a opressão sistemática contra os povos periféricos, mas sem deixar de emanar o amor à vida. De pele escura, mestiça, o Jesus de Daniel se assemelha aos jovens periféricos que morrem todos os dias vítimas da violência, da discriminação e da falta de oportunidade. “A ideia era desafiar estereótipos e mostrar Jesus Cristo como uma figura negra e cabocla, refletindo a diversidade étnica e cultural da região, fazendo essa metáfora entre o Cristo assassinado e os corpos negros perifericos”, explica Daniel ADR.

Através de seu álbum, o rapper buscou dar voz e representar a realidade das comunidades periféricas da Amazônia brasileira. “Com ‘Black Christ’ queríamos deixar a impressão de que a representatividade importa e que a arte tem o poder de promover mudanças sociais. Retratando Jesus dentro de um contexto amazônico, buscamos ressaltar a importância da diversidade étnica e cultural, além de destacar a luta por justiça e igualdade. Quis gerar impacto, seja positivo ou negativo, mas o intuito principal foi gerar debate e provocar isso”, complementa Daniel ADR.

A produção de “Black Christ” iniciou há cerca de dois anos, quando Daniel começou a reunir ideias e composições que exploravam a temática da identidade e resistência nas periferias amazônicas. Para realizar o projeto, o rapper buscou inspiração nos trabalhos do grupo de rap Racionais MC’s e na estética de Emicida, além de se espelhar nas suas parcerias:  Erick Di nos beats, Anna Suav, jvm LEO, Leonardo Pratagy e Lia de Itamaracá. 

“As parcerias com Anna Suav, jvm LEO, Leonardo Pratagy e Lia de Itamaracá surgiram de uma conexão mútua de admiração pelo trabalho de cada um. Alguns já eram amigos próximos, enquanto outros foram convidados a participar do projeto devido à sua afinidade com a mensagem e sonoridade do álbum. Anna Suav já tenho uma relação de amizade longa e sou um admirador de seu trabalho, a chamei por acreditar que ela se encaixava perfeitamente na sonoridade da faixa ‘Peregrino’. Já jvm LEO conheço há pouco tempo, mas vi bastante potencial no estilo que ele faz, que é o Trap”, explica Daniel ADR.

O rapper faz questão de destacar a participação de Lia de Itamaracá, conhecida como uma das maiores cirandeiras do Brasil, que compôs versos exclusivos para seu álbum. A artista participa da música “Sonho”, que discute sobre as dificuldades ocasionadas pelo racismo. “É muito inusitado ter Lia de Itamaracá, uma figura que é tão importante pra cultura popular nordestina, a maior cirandeira do Brasil, fazer parceria comigo, um cara que faz rap e trap na periferia da Amazônia. Ela traz o lirismo, a sabedoria, a ancestralidade do nordeste, misturado a um contexto de música urbana, que é o meu trabalho. Então é um encontro de ritmos, de estilos, e um encontro de gerações de artistas pretos e de resistência”, declara Daniel, que também ressalta a importância dos artistas que vieram antes dele. “Se hoje ainda é complicado, é polêmico e ainda tem barreiras para falar sobre afro-religiosidade, eu tenho certeza que essas pessoas que vieram antes enfrentaram muito mais dificuldade”, completa.

Sobre Daniel ADR

Filho de pais separados, o rapper foi criado pela avó materna, dona Raimunda, entre os bairros do Guamá e da Cremação, ouvindo rap e samba, ritmos que conversavam com suas vivências nas periferias de Belém. O artista ingressou no hip-hop durante a adolescência, quando passou a frequentar a Batalha de São Brás e a compor suas próprias músicas. Ainda nesse período, em 2014, foi considerado o melhor MC do Pará pelo Duelo Estadual de MC’s, representando o estado na etapa nacional em Belo Horizonte.

Atualmente, as maiores influências nos trabalhos de Daniel são de artistas que exploram temas sociais e políticos em suas músicas, como Kendrick Lamar, Emicida e Racionais MC’s. “Sempre estou pensando em novos projetos e colaborações, então o próximo lançamento já está nos meus planos. Sou um artista de poucos shows, esperem então 3 ou 4 shows no máximo do álbum. Mas, ainda tem mais 3 clipes para serem lançados desse projeto, ou seja, ‘Black Christ’ ainda vai render muita coisa”, finaliza Daniel.

Serviço:

“Black Christ” já está disponível em todas as plataformas digitais.

Perfil de Daniel ADR: @_daniel_adr

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