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Da Redação | Fotos: Ascom FCP

Na última sexta-feira (19), o Cine Líbero Luxardo realizou a exibição especial do filme “Pedágio”. Após a sessão, houve um debate aberto ao público com a diretora do longa-metragem, Carolina Markowicz, e a atriz principal, Maeve Jinkings. O Portal Jambu marcou presença no evento e fez uma cobertura especial, fortalecendo o cenário do cinema nacional. 

“Pedágio” é o segundo longa-metragem da cineasta paulista Carolina Markowicz, que estreou como diretora de longas em 2022, com “Carvão”. Neste seu segundo filme, lançado nacionalmente em 2023, acompanhamos a história de Suellen, uma mãe solteira que trabalha no pedágio a caminho de Cubatão, e vive em conflito com seu filho, Tiquinho, por conta de sua sexualidade. 

Motivada pelo julgamento homofóbico da colega de trabalho e determinada a acabar de uma vez por todas com as brigas, Suellen consegue dinheiro para pôr seu filho em um centro de conversão para “curá-lo” da homosexualidade. No entanto, a maneira que Suellen encontrou para conseguir o dinheiro do tratamento é bastante obscura.

Estreia de Pedágio contou com uma plateia lotada

Após ver o filme, pode-se dizer que a hipocrisia define a maior parte da relação entre os personagens. O principal gerador de conflito na história é a mãe, que se importa demais com o julgamento das pessoas em relação à orientação sexual de seu filho. Entretanto, Suellen está longe de ser um exemplo de moralidade e conduta, revelando a hipocrisia que há nas pessoas que julgam a vida dos outros, ao invés de olhar para as suas próprias vidas.

Sobre o trabalho de direção, Carolina aproveita bastante o ambiente para dar força a ideia de um mundo sujo, mas que diz ser limpo. Durante o debate, a diretora contou sobre um dia em que foi visitar Cubatão para as gravações e logo na entrada se deparou com uma placa que continha os dizeres “Cubatão, cidade símbolo da ecologia”, mas, na realidade, a cidade está totalmente tomada pela poluição. A maneira como a cineasta captura o ambiente industrial da cidade de forma a oprimir Suellen reforça o quanto ela é sugada pelo seu entorno, um ambiente frio, hostil e sem vida.

A atriz Maeve Jinkings também esteve presente no lançamento, e foi extremamente carismática. Seu papel em “Pedágio” lembra de certa forma seu trabalho em “Carvão”, primeiro longa-metragem de Carolina, por também trazer uma mulher sobrecarregada com a vida e suas responsabilidades. Kauan Alvarenga, o filho Tiquinho, também entrega uma bela performance e trabalha de forma excelente na transmissão de emoções através de pequenos gestos. Seu personagem é mais acuado por boa parte da história e não consegue impor suas opiniões ou sentimentos para os outros. Essa característica exige do ator trabalhar mais com suas expressões, gestos, olhares e entonações. Os atores coadjuvantes também são destaque, como Aline Marta Maia e Isac Graça, que trazem um ponto de leveza para o filme.

Mesmo com essas discussões e conflitos carregando bastante drama, “Pedágio” transita muito entre momentos mais sérios e diálogos cômicos. Durante a exibição, era possível ouvir as risadas do público, que lotou a sala para assistir a estreia. O próprio filme brinca com essa expectativa ao ter toda uma sequência mais pesada com Suellen acordando e indo ao trabalho, com algumas tomadas com toques de terror através da fotografia e escolha de planos. Isso até a introdução da colega de trabalho interpretada por Aline Maia, Telma, que quebra totalmente esse tom melancólico com comentários terríveis sobre Tiquinho, mas cômicos e muito familiares à realidade brasileira. Assim é ditado o clima do filme, uma dramédia que brinca com os absurdos que envolvem a discussão sobre a homosexualidade no Brasil. Sem dúvidas, podemos pensar nesse filme por meio da conhecida expressão “é rir pra não chorar”.

Cartaz do filme “Pedágio”

“Meu processo de construir o filme começa por uma ideia principal ou temática, desse menino que tem uma mãe que não aceita ele do jeito que ele é etc. A partir disso, as ideias foram surgindo. Minha vontade de satirizar um pouco esse lugar que a gente vive politicamente, a questão desse escárnio com a população LGBT, de falar coisas ridículas, o pastor que chega e fica falando sinônimos de genitais. São coisas que vemos no nosso Congresso e que parecem fora da realidade, mas que são muito reais e tive muita vontade de abordar isso. Quando apresentamos esse filme para fora do país, as pessoas pensavam que era exagero, mas a gente vive isso”, responde Carolina Markowicz, no momento do debate, que ocorreu após a exibição do longa. 

Debate sobre o filme “Pedágio”

No momento do debate, Carolina Markowicz e Maeve Jinkings foram para frente do telão para iniciar a conversa com a plateia, que teve a mediação da cineasta paraense, Jorane Castro, e do crítico de cinema da Associação dos Críticos de Cinema do Pará (Accpa), Marco Moreira. Um momento de muitas emoções, com um belo discurso de Maeve que, mesmo nascida em Brasília, cresceu e ingressou no cinema em Belém. “Parte da minha formação cinéfila, humanista, está ligada à programação do Cine Líbero Luxardo. A minha identidade está profundamente conectada com a paraense em muitos sentidos. Saí daqui há 24 anos, era uma jovem adulta, de modo que o meu imaginário está ligado a essa cidade. Pela primeira vez tenho a chance de estar presente em um lançamento de um filme na cidade onde cresci, com a minha família na plateia”, declara Maeve Jinkings.

Muitos fãs marcaram presença e puderam dar suas impressões diretamente para as duas convidadas, com várias falas exaltando, principalmente, o trabalho de escrita de Carolina, que foge de caracterizações clichês, como as utilizadas pela maioria das histórias que falam sobre preconceito. Sem dúvidas uma noite marcante para a sala do Cine Líbero Luxardo, com pessoas tão empenhadas em prestigiar o filme, que muitos sentaram nas escadas para assisti-lo, já que as cadeiras estavam todas preenchidas. Do lado de fora, todos conversando e compartilhando suas leituras, opiniões e cenas favoritas, interações raras de se ver em cinemas mais comerciais. 

O longa-metragem “Pedágio” segue em cartaz no Líbero Luxardo até 31 de janeiro!

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