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Por Victoria Rodrigues*

Nesta segunda-feira (29), a Prefeitura de Belém, por meio da Fundação Cultural (Fumbel) e Secretaria de Saúde (Sesma), iniciou a “I Semana de Arte e Loukura: produzindo conexões em espaços públicos para o cuidado em liberdade”, no Teatro Popular Nazareno Tourinho, em Belém. O evento tem o objetivo de reunir agentes e instituições psicossociais em um debate sobre a importância da união entre arte e saúde mental na vida comunitária e faz alusão ao dia 18 de junho, data em que é lembrada a Luta Antimanicomial no país.

A Luta Antimanicomial é um movimento que surgiu com a Reforma Psiquiátrica promovida no final da década de 1970. A organização luta pelos direitos das pessoas em estado de sofrimento mental, mais precisamente na ideia de que não se deve isolar o paciente para a realização de tratamentos agressivos, porque além de ser comprovado que a interação social pode ajudar na melhora significativa dos pacientes, os portadores de transtornos mentais também não apresentam sequer algum risco à sociedade em geral.

De acordo com a Prefeitura, em suas mídias sociais, a programação do evento visa proporcionar aulas, oficinas, assembleias, rodas de conversa, cortejo, boi palhaço, música, carimbó, diversão, teatro, cinema e, principalmente, ações voltadas à saúde mental de pessoas em situação de rua.

Além dessas atividades, o evento também conta com a mostra permanente “Experiências de Cuidado e Arte em Belém”, que exibe a arte de Karol Onça, Caroline Maciel, Carol Abreu e Gilberto Guimarães. “Há algum tempo percebi que o meu trabalho como artista, como pesquisadora e como pessoa era encontrar de que forma minha energia e meu lugar no mundo poderia ser um facilitador na transformação do meu entorno. Quando fui chamada para o primeiro trabalho de registro de uma população vulnerabilizada – indígenas venezuelanos da etnia Warao, no início da pandemia da covid-19, em 2020 – percebi que não queria registrar nada que contribuísse com o estereótipo negativo e enviesado de um indivíduo ou população”, relata Karol Onça, pesquisadora e uma das artistas da exposição fotográfica.

“Decidi registrar a potência, sempre a partir de um trabalho construído por muitas mãos, cocriado com as pessoas a serem registradas, num processo de afetar e me deixar ser afetada. Este trabalho apresentado na ‘semana da loukura’ ocorreu no dia das mulheres, em 2022, na Casa Rua Nazareno Tourinho, numa programação feita pela gerente Lucia Helena, a artista Nani Tavares na produção e muitos outros profissionais, além das quais isso não seria possível: as mulheres fotografadas, suas memórias, suas histórias”, complementa Karol.

A artista ressalta ainda a importância do evento em diversas áreas para a desconstrução de imagens enraizadas na sociedade que apresentam refugiados e pessoas em situação de rua apenas como sujeitos excluídos e marginalizados. “Eu acredito que a “I Semana de Arte e Loukura” é um laboratório que comprova o que diversas áreas da ciência, em direção à luta antimanicomial já trabalham: o cuidado em liberdade, investido na potência do ser, é possibilidade de vida. Quando falamos de corpos marginalizados, vulnerabilizados – de população em situação de rua a refugiados – percebemos que são sujeitos tratados como ilegais. E com essa visão colonizadora e higienista, são pessoas empurradas para realidades muito duras, violentas, desde muito cedo”, conclui.

O Teatro Popular Nazareno Tourinho fica localizado na praça do Carmo, no bairro da Cidade Velha, com funcionamento de segunda à sexta-feira, com horários diferentes que seguem as programações. O evento acontecerá até o dia 3 de junho e a entrada é totalmente gratuita.

 

O Portal Jambu é um espaço de jornalismo experimental com matérias produzidas por estudantes de graduação da Faculdade de Comunicação da UFPA sob a coordenação da Profa. Dra. Regina Lima e do jornalista Marcos Melo.

*Com supervisão de Giullia Moreira.

Foto de Capa: Divulgação

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